Apesar de proibição, bingos resistem em Belo Horizonte

Bingo I 22.07.15

Por: sync

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Os bingos – proibidos há mais de 10 anos no Brasil – desafiam a fiscalização e resistem em Belo Horizonte. Escondidas em imóveis que abrigam estacionamentos, bares e outras atividades, casas clandestinas funcionam na capital sem muita preocupação com batidas policiais e atraem milhares de pessoas. A reportagem do Estado de Minas esteve no Bairro Colégio Batista e no Alto Barroca, nas regiões Nordeste e Oeste da capital, e flagrou, com câmera escondida, estabelecimentos oferecendo prêmios de um salário mínimo e eletroeletrônicos. Estimativa do Instituto Brasileiro do Jogo Legal (IBJL) aponta que por ano, em todo o país, os bingos são responsáveis por movimentarem R$ 1,3 bilhão.

 

Confira onde as casas estão localizadas na Grande BH.

Cada cartão tem quatro linhas, com cinco números cada. Quando um apostador consegue marcar os cinco números de uma linha ganha um prêmio menor. O apostador grita “linha” e um dos funcionários vai à mesa conferir. Quando alguém acerta os 15 números do cartão grita “bingo” e o processo se repete. Poucos minutos depois, outro funcionário retorna à mesa e faz o pagamento em dinheiro.

Insistência

Em novembro do ano passado, policiais militares estiveram no prédio ao lado do Bingo do Túnel, prenderam duas pessoas e apreenderam material suficiente para encher três caminhões. O major Anderson Sales, do 16° Batalhão, que comandou a apreensão, disse à época que o local já havia sido fechado no início do não passado.

O outro bingo em que a reportagem do EM esteve, no Alto Barroca, fica em uma pequena praça, perto da Avenida Silva Lobo, acima de um bar. Logo na chegada ao local, um apostador que dividia a mesa com a equipe de reportagem ganhou. O prêmio era de R$ 1,2 mil. No local, que é chamado pelos apostadores de “Bingo do João”, o funcionário que fica na entrada não pergunta nada para quem chega – assim como ocorreu no Bingo do Túnel. O funcionamento é parecido com o do Bairro Colégio Batista, mas, em vez de telão, há um projetor com a imagem dos números sorteados em uma parede branca. No espaço do Alto Barroca, os funcionários não são uniformizados. A reportagem também teve acesso a mensagens de celular que outro bingo envia para os clientes. No texto, informações sobre os prêmios que serão sorteados e o horário do funcionamento.

Exploração

Para o major Gilmar Luciano, responsável pela comunicação da Polícia Militar de Minas Gerais, os bingos não trazem transtorno apenas para a corporação. “É um malefício para a sociedade, pois as pessoas que estão ali perdem dinheiro e se viciam no jogo”, entende o policial. O major destaca também que os apostadores não devem ser presos, mesmo se flagrados durante o jogo. “Eles (apostadores) estão sendo explorados e são vítimas”, diz. Segundo o policial, não há estatísticas sobre outros crimes praticados dentro dos bingos e que as questões fiscais, como o não pagamento de imposto, não são responsabilidade da PM. A exploração do bingo é considerada uma contravenção penal e a pena deve ser cumprida em estabelecimento especial ou seção especial de prisão comum, em regime semi-aberto ou aberto.

Empresários defendem legalização

O bingo é proibido no país desde fevereiro de 2004, após o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) assinar a medida provisória que vetou o jogo. À época, várias entidades, entre elas a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), consideraram a medida casuísta, para blindar o então ministro José Dirceu, cujo assessor, Waldomiro Diniz, era acusado de ter recebido propina de empresários envolvidos com o jogo. Desde então, empresários do setor se mobilizam em associações na tentativa de criar uma legislação permitindo o retorno do bingo.

No mês passado, foi criada no Congresso uma comissão especial para analisar os projetos de lei que legalizam jogos de azar no país, entre eles o bingo e o jogo do bicho. No Congresso tramitam pelo menos nove projetos sobre o assunto. O principal argumento contrário – e que foi usado pelo governo federal à época da proibição – é que os bingos são viciantes. O vício em jogo é chamado de ludopatia.

A Associação Brasileira dos Bingos argumenta, em sua página na internet, que a legalização não aumentará o número de ludopatas. De acordo com estudos apontados pela associação, o problema atinge entre 1% e 3% da população. “O doente sempre encontrará alternativas para saciar a sua compulsão, seja na clandestinidade, em cruzeiros marítimos, viajando para países onde o jogo é legalizado ou até mesmo na internet”, argumenta a associação.Confira a íntegra da reportagem no Estado de Minas  Reportagem do EM entra com câmera escondida em bingos clandestinos de BH.

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