Bingo: Está lançada a sorte

Bingo I 16.08.02

Por: sync

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No silêncio, só se ouve a voz pausada da locutora, num tom sempre igual: “Sessenta e dois – meia, dois. Setenta e cinco – sete, cinco”. Os clientes mais assíduos chegam, normalmente, meia hora antes de começar, para sentar nas suas mesas prediletas. As mulheres geralmente chegam em grupos. E há aqueles senhores que costumam levar suas companheiras avulsas para se divertir nos bingos.
Proibido até sete anos atrás, hoje o jogo a dinheiro, no bingo, é uma das diversões mais populares, principalmente para as pessoas da Terceira Idade. Suas mesas de jogos e máquinas coloridas e barulhentas atraem freqüentadores desde a manhã até a madrugada. Normalmente, o período entre o final e o começo do mês é o que apresenta maior freqüência.
O ambiente tem cores vibrantes e tapetes altos. Luzes indiretas e muita vida. Nos bingos, as emoções variam, desde a esperança, a alegria, e mesmo a tristeza de descobrir que “aquele não era o seu dia de sorte”.
Nas máquinas, onde se deposita vinte e cinco centavos por uma jogada, os olhos brilham acompanhando o resultado. E se perder, tenta-se novamente, sempre na esperança de ganhar. Mesmo aqueles que já ganharam outros prêmios, vibram como se fosse a primeira vez.
Luzia, freqüentadora assídua do Bingo Barra, disse que já ganhou sete carros. Mas a maior emoção que teve foi quando, numa brincadeira com a chave, abriu a fechadura e pegou o dinheiro, que era seu prêmio. “Fiquei tão feliz, que abracei e beijei a primeira pessoa que vi. Era um homem”, ela conta alegre. Ficou com vergonha, mas não sabe o que a deixou mais feliz: o prêmio ou o beijo.
Os Bingos são filiados a entidades esportivas, de acordo com a Lei Zico e atual Lei Pelé. Sete por cento do movimento bruto de cada bingo é destinado a essas entidades.
Para a psicóloga Susan Guggenheim, o Bingo representa um programa de lazer, onde se pode passar horas agradáveis, fugindo da solidão. “Para as pessoas idosas, as casas de bingo são uma boa opção, para se distrair e fugir da depressão. O fato de ter que se arrumar para sair, ter contato com outras pessoas, sair de seu isolamento é muito mais positivo do que negativo,” pondera a Dra Susan.
Esta parece ser também a opinião de freqüentadores como Vera, que joga no Bingo Cidade e diz: ” quando venho aqui, deixo de ser só, para encontrar uma grande família “. Leci, que vai ao Barra Tijuca, pondera ainda que ” além das pessoas mais velhas poderem se divertir sozinhas ou não, os deficientes motores também evitam ficar sozinhos em casa, vindo aqui”.
No entanto, os bingos são motivo de polêmica. Muitos alegam que são perigosos para os jogadores compulsivos, que podem ser levados a perder tudo que têm – e que não têm. Enquanto, esta polêmica existir está lançada a sorte, que pode ser: ” vinte e sete – dois, sete”. E uma voz lá no fundo, grita: BINGO!
Jussara Câmara

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