CPMI do Cachoeira conclui trabalhos sem responsabilizar suspeitos
A Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira rejeitou, nesta terça-feira (18), o relatório oficial, do deputado Odair Cunha (PT-MG), por 18 votos a 16, e aprovou o relatório paralelo do deputado Luiz Pitiman (PMDB-DF), por 21 votos a 7. Os trabalhos do colegiado foram encerrados em seguida. O resultado levou a uma série de protestos dos integrantes da comissão, para os quais a comissão terminou em pizza. Essa foi, inclusive, a avaliação do relator. “Foi uma pizza geral”, disse Cunha.
O relatório aprovado, que tem apenas uma página e meia, não cita nenhum nome de investigado, critica o trabalho da comissão e diz que a investigação deve ser feita pelo Ministério Público Federal (MPF) e pela Polícia Federal (PF). Pitiman declarou que seu parecer o deixava com a consciência tranquila por não ter condenado inocentes nem absolvido culpados. Esse argumento foi citado por diversos deputados favoráveis ao relatório.
Conforme o relatório aprovado, serão enviados para o MPF e a PF todos os documentos em poder da CPMI, inclusive os dados relativos às quebras de sigilo fiscal, telefônico e bancário, o relatório de Odair Cunha e outros quatro relatórios paralelos apresentados por integrantes da comissão. O texto paralelo prevê também a formação de uma comissão de deputados e senadores para acompanhar as investigações futuras, no âmbito das duas instituições.
“É um nada, que não leva a lugar nenhum, não tem nenhum efeito prático”, criticou Odair Cunha, ao definir o texto aprovado. Ele argumentou que seu relatório foi rejeitado porque “houve na comissão uma articulação para blindar o governador de Goiás, Marcone Perillo, do PSDB, e a empreiteira Delta”. O relator afirmou que cedeu em tudo que podia, para tentar viabilizar a aprovação do seu relatório, mas que isso não foi o bastante. “Queriam que eu retirasse a Delta e o Marcone Perillo. Isso não posso fazer, pois se trata das ramificações empresarial e política da organização criminosa” comandada pelo contraventor Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira, justificou.
Cunha sustentou ainda que o resultado significou “uma clara omissão diante de um número gigantesco de provas colhidas pela comissão”.
Na primeira votação desta terça, a comissão havia aprovado por unanimidade um requerimento do relator que já previa o envio de toda a documentação da CPMI para o Ministério Público e a Polícia Federal.
Discussão
Discursaram contra o relatório de Pitiman os deputados Silvio Costa (PTB-PE) e Onyx Lorenzoni (DEM-RS). Costa disse que a comissão fabricou uma pizza com “t", de trapalhada. Ele contestou o envio de documentos para o Ministério Público. "Isso já veio de lá. É uma piada, uma brincadeira. Não dá para transformar a CPMI numa papagaiada dessas", declarou.
Discursaram a favor do texto aprovado os deputados Domingos Sávio (PSDB-MG) e Armando Vergílio (PSD-GO). Vergílio ressaltou que informações novas foram colhidas pela comissão, como as quebras de sigilo bancário, fiscal e telefônico de diversos investigados. Segundo ele, o texto consegue reunir o pensamento da CPMI, para que a comissão não passe em branco. Sávio acrescentou que é uma falácia afirmar que relatório de Pitiman não acrescenta nada.
Após a reunião, o deputado Onyx Lorenzoni (DEM-RS) criticou a reunião. “O que vimos foi um circo triste e lamentável”, disse. O deputado Rubens Bueno (PPS-PR) declarou que houve “um acordão” durante a madrugada, patrocinado pela “bancada da Delta”, para derrotar o relatório de Odair Cunha.
O senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP), por sua vez, afirmou que os governadores Sérgio Cabral (PMDB), do Rio de Janeiro, e Marcone Perillo se uniram à Delta para rejeitar o relatório. “Hoje foi o dia em que o Congresso protagonizou uma das maiores vergonhas de sua história”, afirmou.
O senador Alvaro Dias (PSDB-PR), que votou contra o relatório oficial, disse que o texto de Cunha era direcionado contra adversários do PT e protegia os maiores corruptos. “Não havia outra alternativa a não ser rejeitar”, comentou.
Pitiman defende seu texto e critica trabalho do relator
Ao defender seu relatório paralelo na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Cachoeira, o Luiz Pitiman (PMDB-DF) disse não ter dúvidas de que houve boa vontade e dedicação da maioria do colegiado. "Agora, da forma como encerramos, vejo que tivemos dificuldades técnicas e políticas para chegar a uma conclusão, para que pudéssemos chegar à finalização da CPMI com a consciência tranquila", afirmou. Ele apontou o fato de ter havido uma eleição municipal no meio dos trabalhados como um dos obstáculos enfrentados.
Para Pitiman, quem votou contra seu relatório parece ter a intenção de não aprovar relatório nenhum e deixar a comissão sem resultado. O texto aprovado, que tem apenas uma página e meia, defende que a investigação seja feita pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal. "Trata-se de uma página e meia, mas que traz o encaminhamento de tudo. Separados do calor político, termos todas as condições de que haja realmente a continuidade das investigações nessas duas instituições (MP e PF). Estou pedindo aqui que não se encerrem as investigações hoje", argumentou.
O deputado também criticou o relatório de Odair Cunha, afirmando que ele inocentava culpados (mas não disse quais). Pitiman também contestou o trabalho da comissão, por não ter quebrado os sigilos de cerca de 30 empresas suspeitas. (Agência Câmara – Wilson Silveira)