Donos de antigos bingos se preparam para reabrir casas

BNL I 28.09.15

Por: sync

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Se depender da aposta de alguns empresários, os jogos de azar serão legalizados em breve. Pelo menos é o que espera a Abrabin (Associação Brasileira de Bingos), que reúne ex-donos de 1.200 bingos que existiram no país até 2007, quando as casas foram fechadas.

“Para nós, a legalização é mais do que esperada. Nossa expectativa é que o jogo será legalizado no Brasil”, afirmou o presidente da Abrabin, Olavo Sales da Silveira.

O assunto voltou ao debate na semana passada, quando o governo Dilma Rousseff (PT) sinalizou a possibilidade de legalizar bingos, cassinos, caça-níqueis e até o jogo do bicho para, com arrecadação de impostos, aliviar o rombo nas contas públicas.

Pelas contas da Abrabin, sem apresentar qualquer fundamento, seriam R$ 18 bilhões ao ano com a arrecadação de impostos, além de gerar 600 mil empregos.

‘A legalização dos jogos não é uma questão de resistência [de setores do governo], e sim de prioridade. Não chegava a vez dos bingos nunca. Agora chegou. O que mudo foi a prioridade.”

Silveira era dono do Bingo Augusta, na rua Augusta, na região central, um dos 137 que foram fechados na capital entre 2006 e 2007, e já trabalha com a possibilidade de reabrir uma nova casa na mesma Augusta, onde tem um terreno.

Custo da ilegalidade

Segundo o presidente do Instituto Brasileiro Jogo Legal, Magno José, mais e 90% dos empresários que trabalham com jogos de azar querem a legalização. Um dos motivos é o “custo da ilegalidade”. Ou seja, pagar propina aos agentes públicos está ficando caro.

Para se ter uma ideia do jogi ilegal no Brasil, uma pequisa realizada por Magno mostra que são mais de 350 mil máquinas de caça-níqueis nas ruas, 250 bingos clandestinos e mais de 20 milhçoes de apostas diárias somente no jogo do bicho, que movimentariam cerca de R$ 20 bilhões por ano.

“Não dá para tapar o olho para o jogo no Brasil. O que está antecipando esse debate é o momento econômico”, afirmou.

Prédios ganham novas funções

Prédios que até 2007 abrigavam luxuosos bingos na capital têm hoje outra função. Dos sete endereços visitados pela reportagem na semana passada, apenas o Bingo Imperador, na avenida Sumaré, em Perdizes (zona oeste), permanece fechado desde que encerrou a atividades, há oito anos.

O prédio tem 3.472 m2 de área construída, 25 metros de frente, 70 vagas para carros e está para alugar por R$ 240 mil por mês, além do IPTU de cerca de R$ 25 mil.

Até 15 dias atrás, o prédio do Bingo Pamplona, nos Jardins (zona oeste), também estava fechado. Foi aberto como estacionamento, mas ainda tem equipamentos e móveis que lembram os tempos áureos da casa de apostas. Na fachada, é possível ler o nome do bingo marcado pela poeira, e o painel eletrônico ainda está no mesmo lugar. “E o dinheiro passava por esse tubo”, disse o manobrista, que não se identificou, ao apontar o local por onde a grana das apostas passava.

O luxuoso prédio do Bingo Imperatriz, no Paraíso (zona sul), também teve vo destino recentemente. Desde 1º de setembro é uma concessionária de veículos.

Os prédios dos bingos Augusta e Metrópole agora são lojas de produtos para animais. E o imóvel do Circus Bingo, na avenida Ibirapuera (zona sul), será em breve uma loja de rede de roupas.

Já o prédio do Bingo Angélica (região central) agora abriga uma escola de dança de salão.

Funcionamento ficou anos em disputa judicial

O funcionamento dos bingos no Brasil é alvo de embates judiciais há anos. Em dezembro de 2001, o Superior Tribunal de Justiça passou a classificar a exploração de jogo de bingo como atividade ilícita.

Em 20 de fevereiro de 2004, o então presidente Luiz lnácio Lula da Silva (PT) assinou uma medida provisória proibindo o funcionamento de bingos, caça-níqueis e outras casas de jogos de azar em todo o Brasil.

Mesmo com a medida, alguns bingos, muitos deles em São Paulo, recorre am à Justiça e continuaram funcionando por força de decisão judicial. Mas em 2007, todas as asas foram fechadas na capital.

Congresso debate várias propostas

Vários projetos de lei que tratam da legalização dos jogos de azar tramitam na Câmara dos Deputados e no Senado. A proposta do senador Ciro Nogueira (PP-PI) tem apoi de alguns empresários e já foi apresentada a integrantes do governo.

Pelo projeto, entre 60% e 70% do arrecadado com as apostas vai para a premiação, 7% para os Estados, 3% para os municípios e o restante, para a empresa autorizada a ex lorar a atividade.

Na Câmara, os deputados devem criar na próxima semana uma comissão especial do marco regulatório dos jogos de azar no Brasil. A ideia é discutir todos os projetos que tratam do tema e reunir em uma única proposta. Ainda não há previsão de data de votação dos projetos.

Setor já foi assunto em outra crise

O debate sobre a legalização dos jogos de azar voltou ao cenário nacional no momento em que o país atravessa uma crise econômica e política, e tendo como pano de fundo as denúncias de corrupção na Petrobras.

Coincidência ou não, em 2004, o país também enfrentava uma crise de credibilidade com a CPI dos Bingos, que acabou levando às investigações do mensalão e à prisão de ários políticos aliados ao governo. (Agora São Paulo – Regiane Soares)

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