Editorial do O Globo é tendencioso, mentiroso e defende o conceito de ‘Dona Santinha’ de 1946

Blog do Editor I 09.11.17

Por: Magno José

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71 anos depois O Globo reconhece que ‘Dona Santinha’ estava certa em considerar “que a tradição moral, jurídica e religiosa do povo brasileiro é contrária à prática e a exploração dos jogos de azar”.

Em editorial veiculado nesta quinta-feira (9) sob o título ‘Legalização de jogos é aposta demagógica’, a ‘Dona Santinha do Jornalismo’, é preconceituoso, mentiroso e defende o desejo de Carmela Teles Leite Dutra, a fervorosa católica e influente sobre seu marido, Eurico Gaspar Dutra, foi a responsável como primeira-dama, por dois acontecimentos marcantes: a proibição do jogo no Brasil, em abril de 1946, e a extinção do Partido Comunista Brasileiro (PCB), em maio de 1946.

Segundo a opinião do jornal carioca, que tem linha contrária a legalização dos jogos, “o Brasil já viveu a experiência dos cassinos, e a rejeitou — eles foram proibidos pelo presidente Eurico Gaspar Dutra, em 1946. Eram tempos mais amenos. O país mudou, a violência disparou”. A afirmação que o Brasil rejeito os cassinos é mentirosa, pois sabemos que o motivo foi político (veja a nota abaixo).

Ou seja, 71 anos depois O Globo reconhece que ‘Dona Santinha’ estava certa em considerar “que a tradição moral, jurídica e religiosa do povo brasileiro é contrária à prática e a exploração dos jogos de azar”.

Outra mentira do O Globo

Outra mentira deslavada do jornal carioca é afirmar que “deputados do PT, do PMDB e do DEM tentaram aprovar a reabertura dos cassinos sob outra justificativa, a da necessidade de financiamento das campanhas eleitorais no próximo ano”.

Na verdade, a proposta dos parlamentares que relataram a Reforma Política sugeria uma alteração da redação  da legislação de sorteios promocionais (Art. 4º da Lei nº 5.768 de 20.12.71), que previa que os partidos políticos realizassem sorteios para “distribuir prêmios mediante sorteios, vale-brinde, concursos, bingos ou operações assemelhadas” para o custeio de suas finalidades partidárias. Além disso, esta legislação não permite prêmios em dinheiro: “É proibida a distribuição ou conversão dos prêmios em dinheiro”.

Argumentos míopes e repetitivos

Como previsto pelo BNL nesta terça-feira (8), este foi o segundo editorial do O Globo deste ano, o primeiro foi veiculado no dia 4 de setembro sob o título ‘Urca nunca mais’. No ano passado o jornal carioca veiculou sete editoriais contra a legalização dos jogos: ‘Um alto preço’ (04.01.2016), ‘Ajuste não pode justificar a legalização do jogo’ (24.02.2016), ‘Aposta temerária’ (07.03.2016), ‘Ideia danosa’ (13.06.2016), ‘Legalizar o jogo é inadequado e eticamente condenável’ (05.07.2016), ‘Liberar o jogo tem custo social e criminal’ (22.07.2016) e ‘Ganhos enganosos’ (22.08.2016). Em todas as oportunidades, O Globo repete os mesmos frágeis argumentos, além de uma visão equivocada e preconceituosa sobre o jogo legalizado.

A única coisa que concordamos com a opinião do jornal é que o “lobby dos jogos de azar é dos mais antigos e ativos”. Na verdade, são pessoas que lutam há anos contra o Lobby do jornal carioca e de instituições parceiras como o Ministério Público, que insistem em manter o jogo na ilegalidade. Patologia, lavagem de dinheiro e ausência de controle são os principais argumentos deste lobby, mas o jornal não divulga e nem mostra como outros países enfrentaram e resolveram estas questões.

Os jogos de azar não são responsáveis pelos problemas de segurança pública e violência enfrentados atualmente pela sociedade brasileira, mas sim pelas drogas, que próprio O Globo defende através de reportagens (basta e editorial como ‘A guerra foi perdida’, veiculada em abril deste ano:

“A defesa da descriminalização de drogas parte de uma base sólida de argumentação: se a via policial-militar fosse eficaz neste enfrentamento, a mais poderosa e rica nação do mundo, os Estados Unidos, teria erradicado os traficantes colombianos e mexicanos, para lembrar os mais poderosos e próximos à fronteira americana. Dezenas de bilhões de dólares já foram gastos e incontáveis pessoas morreram nesta guerra, e o número de usuários não para de aumentar.”

Outro equívoco monumental é afirmar que “é ingenuidade acreditar que a legalização de jogos de azar aumentaria a arrecadação de estados e municípios falidos” e cita o procurador da República Peterson de Paula (aquele que debateu com o signatário deste no Programa Alexandre Garcia na Globonews) alertou para o fato de que a tributação apenas migraria entre segmentos da economia.

Ingenuidade e falso é O Globo difundir a opinião que o jogo no Brasil vai começar a partir da legalização desta atividade pelo Congresso Nacional, ignorando que o jogo não regulado movimenta hoje mais de R$ 20 bilhões sem nenhuma contrapartida para o Estado e sociedade. Se apenas esta demanda fosse tributada, o governo arrecadaria cerca de R$ 6 bilhões.

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