Fechamento de bingos em SC ameaça mais de mil empregos no Litoral.

Bingo I 06.12.04

Por: sync

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Trancas nas portas, janelas lacradas, luzes apagadas. Há uma semana, bingos e videoloterias das principais cidades do Litoral Centro-Norte do Estado permanecem em absoluto silêncio. Não há jogos, nem trabalho para as mais de mil pessoas que atuam no segmento, e que voltam a conviver com o fantasma do desemprego.

Esta é a segunda vez em 2004 que os trabalhadores do setor convivem com a incerteza de saber se estão ou não empregadas. Em fevereiro, por força de uma medida provisória editada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, casas de jogos de todo o país cessaram as atividades e demitiram em massa milhares de trabalhadores. Mas o impasse entre a Justiça e os empresários continua e castiga principalmente aqueles que dependem desta atividade para se sustentar.

Desta vez, a desativação de bingos e videoloterias da região obedece a uma decisão do desembargador Edgard Lippmann Júnior, do Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região, em Porto Alegre, que determinou o fechamento de 17 empresas que exploram a atividade em Itajaí, Balneário Camboriú, Itapema e Barra Velha. Desde a segunda-feira passada, o funcionamento dos bingos continua suspenso até segunda ordem, que agora só cabe ao Supremo Tribunal Federal (STF).

A revolta dos trabalhadores é maior ainda pelo fato de a decisão ter sido tomada praticamente às vésperas do Natal. A chegada da alta temporada na região, período de maior faturamento dos estabelecimentos de entretenimento, também faz aumentar a indignação.

"O clima está tenso, os empresários estão inconformados e os trabalhadores apreensivos. Não cabe em um país democrático uma decisão tão autoritária e estúpida como esta", afirma João Carlos Traversa, presidente do Sindicato dos Trabalhadores em Turismo, Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares do Litoral.

Apesar da incerteza em relação à ação direta de inconstitucionalidade (adin) que tramita no STF, a categoria se mostra esperançosa. "Por enquanto não se fala em demissões. Mas caso isto ocorra, estima-se que 1.020 pessoas comecem 2005 desempregadas", constata Travessa.

Para reverter a decisão judicial, o sindicato inicia uma séria de ações para convencer a Justiça a legalizar os jogos. "Estamos dando a nossa última cartada: vamos entrar com outra liminar no Tribunal de Justiça", informa Traversa.

O juiz federal Zenildo Bodnar, de Itajaí, recebeu na semana passada 44 cartas redigidas por funcionários de bingos e videoloterias, que buscam sensibilizar a Justiça. Nas correspondências, apelos sobre a perda do emprego.

Natal de incertezas para Ivonete, Neusa e Tiago.

As 160 máquinas do Big Flop Diversões Eletrônicas, de Balneário Camboriú, estão desligadas desde a noite de domingo passado. Dos 54 funcionários da casa, apenas três continuam indo diariamente ao estabelecimento: a gerente Ivonete Gonçalves, para checar a situação do local; o auxiliar administrativo Tiago Colombelli, para fazer os serviços bancários; e a atendente Neusa Andognine, para fazer o cafezinho dos poucos que trabalham. Os demais permanecem em casa, de sobreaviso.

Segundo Ivonete, desde fevereiro os funcionários já viviam um clima de insegurança, sem fazer planos para o futuro. "Trabalho aqui há nove anos e não é fácil mudar de ramo. Gosto do que faço, dos meus colegas. Éramos uma família", desabafa.

A vida das filhas de Neusa Andognine também está prestes a mudar. Sem a segurança do emprego, ela teme não poder mais ajudar a pagar o curso de Design e Moda que a filha mais velha cursa. "Já tirei a caçula do curso de informática", comenta.

Com o abre e fecha dos bingos, Tiago foi obrigado a trancar a matrícula na faculdade de Administração. "Fiquei com medo de contrair dívidas e depois não conseguir pagar", justificou.Jornal de Santa Catarina – Camila Kniss

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