Sheldon Adelson está no Brasil para defender cassino em resorts

Cassino, Destaque I 30.05.18

Por: Elaine Silva

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Presidente do grupo LVS, Sheldon Adelson ajudou a mudar Las Vegas com o conceito de resort integrado, que reúne hotel, cassino e eventos em um só lugar

Depois de ter investido US$ 14 bilhões em Macau (China), o bilionário americano Sheldon Adelson veio ao Brasil apoiar a campanha pela abertura de cassino no país. Fundador do Las Vegas Sands (LVS), um dos maiores grupos de resorts e cassinos do mundo, ele defende o modelo de resorts integrados, que combinam cassinos com hotéis, teatros, shoppings, restaurantes e grandes centros de convenções, tudo em um único lugar

Sheldon Adelson tem uma visão privilegiada da economia e da política americanas – e isso não é força de expressão. No ano passado, ele ocupou um assento dianteiro e central na cerimônia de posse do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, de quem foi um dos principais financiadores de campanha, e teria influenciado o governo americano em questões polêmicas, que vão da retirada do acordo nuclear com o Irã até a transferência da embaixada em Israel, de Tel Aviv para Jerusalém. Nos últimos anos, o fundador e presidente do grupo Las Vegas Sands (LVS), um dos maiores de resorts e cassinos do mundo, deu muita atenção à Ásia, onde fez investimentos bilionários e rentáveis, mas agora está interessado em outro mercado – o Brasil.
“Estou aqui para considerar o investimento em um ou mais resorts integrados”, disse Adelson ao Valor, ontem, em São Paulo. Resort integrado, com o perdão do trocadilho, é o nome do jogo para o LVS. Aos 84 anos, o empresário é considerado um dos responsáveis por mudar a face de Las Vegas nas últimas décadas, ao combinar cassinos – o arroz com feijão da cidade – com hotéis, teatros, shoppings, restaurantes e, principalmente, grandes centros de convenções, tudo em um único lugar.
Alguns dos pontos mais conhecidos de Las Vegas pertencem a Adelson e seguem esse modelo, caso do Venetian, que reproduz os canais de Veneza, com passeios de gôndola e tudo o mais. “A ideia foi da minha mulher, Miriam”, diz ele, apontando para a companheira ao lado. “Foi um dos lugares onde passamos nossa lua de mel. Ela achou a cidade romântica.” O casamento vai para seu 28º ano e os dois viajam juntos o tempo todo.
A despeito da fama de Las Vegas, é provavelmente na Ásia que o modelo do resort integrado é mais facilmente reconhecível. Em Macau – uma região administrativa especial da China, semelhante a Hong Kong -, a LVS construiu seis empreendimentos, com investimento total de US$ 14 bilhões. Do espaço total disponível, só 4% é ocupado pelos cassinos, diz Adelson. Todo o resto fica para as demais atividades.
No Brasil, os alvos potenciais da LVS são, a princípio, Rio e São Paulo – ambas grandes cidades, com infraestrutura como rede hoteleira estabelecida e aeroportos internacionais, afirma Adelson.
Concretizar os investimentos, no entanto, depende de muitas variáveis. A principal delas, claro, é a mudança na lei, que desde 1941 proíbe o jogo no Brasil. Faz anos que a discussão sobre tornar o jogo legal novamente volta à tona, sem avanços significativos.
No Congresso, tramitam duas propostas para legalizar os jogos de azar: o projeto de lei do Senado 186/2014, que em março foi barrado na Comissão de Constituição e Justiça, e o PL 442/1991, tramita na Câmara há inacreditáveis 27 anos.
Parece desanimador para potenciais investidores, mas pessoas que acompanham o assunto em Brasília dizem que, a despeito de eventuais reveses, as discussões sobre o assunto estão adiantadas, com o apoio de muitos congressistas. Além disso, com a União empobrecida, pré-candidatos à presidência de diferentes matizes estariam interessados em obter mais recursos com impostos com a aprovação dos jogos de azar, diz uma dessas pessoas.
Em vez de projetos específicos, a oportunidade se apresentaria, agora, com a Política Nacional de Turismo, que está em discussão e prevê as diretrizes para o setor.
Para o LVS, além de recolher mais impostos, o país se beneficiaria com a criação de empregos e o aumento do fluxo de visitantes internacionais. Em Cingapura, a receita com turismo aumentou de US$ 18,9 bilhões para US$ 27 bilhões entre 2010, quando os resorts integrados foram abertos, e o ano passado. A entrada de turistas estrangeiros no período aumentou de 11,6 milhões para 17,5 milhões. No Brasil, para comparar, esse número em 2017 foi de 6,5 milhões – quase um terço de Cingapura. E foi um recorde histórico.
Provavelmente o maior ícone do país asiático – algo como o Cristo Redentor para o Brasil – é o Marina Bay Sands, um complexo de três torres unido no topo por uma piscina suspensa de borda infinita. O complexo pertence ao LVS, que investiu US$ 5,6 bilhões no empreendimento.
Se o Brasil poderia atrair tantos recursos com um único complexo? “É possível, mas improvável”, responde Adelson. Primeiro, o custo da mão de obra é mais barato no Brasil que na Ásia. Além disso, a construção do Marina Sands foi marcado por imprevistos que encareceram a obra: os terrenos no país não podem ser comprados, só alugados; há limitações para obter material como concreto e aço; profissionais especializados precisaram ser trazidos do Japão e faltou areia, que vinha da Indonésia.
O Brasil é um velho conhecido de Adelson, que foi dono da feira de tecnologia Comdex e chegou a fazer edições do evento em São Paulo e no Rio antes de vender a marca. A decisão de voltar a investir no Brasil, caso o jogo seja legalizado, vai depender do modelo adotado, afirma o empresário. O LVS quer que os cassinos fiquem restritos aos complexos turísticos – o modelo integrado que, para a companhia, é a única que pode trazer os benefícios desejados. “Na Argentina, há pequenos cassinos, mas não temos interesse nisso”, diz Adelson. A carga tributária será outro ponto a avaliar.
Nascido em família pobre, Adelson mora em Las Vegas, onde criou os dois filhos. Dono de uma fortuna avaliada em US$ 40 bilhões, ele é dono do jornal de maior circulação de Tel Aviv e, recentemente, comprou um jornal nos EUA, o “Las Vegas Review-Journal”.
E qual sua avaliação sobre o governo Trump? “Não falo de política. Não seria apropriado”, diz, polido. Adelson pode ser polêmico, mas não perde a elegância jamais. (Valor Econômico – Por João Luiz Rosa – De São Paulo)

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