Desequilíbrio da política de jogos de azar do Reino Unido causou caminho aberto ao mercado negro

O Relatório do Deal Me Out pede um grande repensar das estratégias de prevenção de jogadores contra a invasão de operadores ilegais de jogos de azar online.

O Reino Unido precisa reavaliar como se aproxima do jogo do mercado negro, já que pesquisas independentes sugerem que um número significativo de jogadores britânicos está se envolvendo com sites não licenciados, devido a circunstâncias regulatórias imprevistas, registra reportagem do SBC News.

Deal Me Out (DMO), uma organização de prevenção e educação de danos ao jogo, publicou um relatório esta semana examinando a extensão de um mercado negro de jogos de azar no Reino Unido. Os insights da DMO procuram fornecer a perspectiva daqueles que têm aqueles que se envolveram com operadores não licenciados e fornecer uma compreensão das vulnerabilidades e por que os indivíduos se envolvem com sites do mercado negro,

A organização reiterou um argumento feito por várias partes interessadas do setor, desde operadores até instituições de caridade nos últimos anos, particularmente durante a revisão da Lei de Jogos de Azar de 2005 – que um mercado negro de jogos de azar é muito ativo no Reino Unido e está sendo usado por mais consumidores do que se acredita atualmente.

De acordo com o relatório da DMO, com base em uma pesquisa com 1.250 crianças, 300 adultos e 10 criadores de conteúdo de jogos de azar, o mercado negro do Reino Unido recebeu mais de 10 milhões de libras em depósitos de consumidores adultos.

É claro que isso não leva em conta muitas pessoas menores de idade que podem apostar em sites não licenciados, o que não aderirá aos requisitos de verificação de idade impostos pela Comissão de Jogos do Reino Unido (UKGC).

“Este relatório fornece uma atualização muito necessária sobre o impacto que o mercado negro tem sobre aqueles que vivem com danos ao jogo”, disse Matthew Hickey, fundador da Social Intent, que trabalhou no relatório com a DMO.

“O impacto que sobre a regulamentação pode ter em levar as pessoas para o mercado negro e se afastar da ajuda e do apoio que está em oferta atualmente é evidente neste relatório, e algo que devemos parar de acontecer.”

Fora da frigideira, na fritadeira

Sem surpresa, a pesquisa descobriu que os jogadores que apostam com sites de jogos do mercado negro muitas vezes se deparam com muitas “táticas underhand” e correm um risco substancial de danos, tanto financeiros quanto emocionais.

Como mencionado acima, dos 10 milhões de euros apostados em sites de jogos de azar, 3,6 milhões de libras foram apostados por indivíduos com dependência de jogos de azar, 9 milhões de euros de consumidores em geral e 5,1 milhões de euros de 10 criadores de conteúdo pagos para promover sites do mercado negro.

A estatística que pode estar tocando mais os sinos de alarme é que 61% dos entrevistados disseram que tiveram dinheiro roubado deles ao tentar retirar ganhos. Além disso, também parece que as empresas do mercado negro estão visando ativamente os apostadores auto-incluídos para continuar jogando.

A DMO afirma que 67% dos entrevistados disseram que eram auto-excluídos via Gamstop de sites de apostas licenciados – os Ladbrokes, Corals, Paddy Powers e bet365s etc. do setor de jogos do Reino Unido – mas continuaram jogando com empresas do mercado negro.

Isso incluiu pessoas que poderiam ser classificadas como financeiramente vulneráveis, um grupo demográfico que tem sido um ponto de foco particular das mudanças regulatórias do Reino Unido nos últimos anos. A adoção de verificações de risco financeiro na revisão da Lei de Jogos de Azar é sem dúvida o melhor exemplo disso.

De acordo com a pesquisa da DMO, as pessoas com crédito universal têm apostado no mercado negro de conformidade. Em um caso notável, um requerente do Crédito Universal depositou “299.000 libras em um site do mercado negro dentro de duas semanas”.

Como as empresas do mercado negro se comercializam?

Além da vulnerabilidade financeira, marketing e promoções têm sido um grande tópico de debate nos círculos de jogos de azar do Reino Unido nos últimos anos. Isso incluiu patrocínio esportivo e marketing esportivo geral, publicidade em locais públicos e em mídias sociais, e-mails e mensagens diretas e bônus.

Algumas das introduções mais notáveis das regras incluíam ultimamente dar aos consumidores o direito de optar por não receber mensagens de marketing das empresas ao criar contas. Outro mais recente viu bônus que exigem que os clientes participem de mais de uma vertical (aposta, cassino, loterias, bingo etc).

Essas regras, particularmente as últimas, foram amplamente bem recebidas pelos profissionais. No entanto, também é verdade que as empresas do mercado negro não estão sujeitas a estas regras e continuarão a fazê-lo, o que conduz a um desequilíbrio entre elas e as empresas licenciadas.

Mais de 70% dos entrevistados da DMO disseram que estavam recebendo ofertas de marketing e VIP na forma de e-mails e textos de empresas do mercado negro diariamente. Eles acrescentaram que não havia nada que pudessem fazer para interromper essas comunicações, ao contrário das opções de exclusão da indústria regulamentada.

O maior significado é o papel dos influenciadores. O papel de marketing que as personalidades on-line desempenham na promoção do jogo ilegal é de particular preocupação para o DMO e o Impacto Social, descreve o relatório das instituições de caridade.

A dupla descobriu que 84% dos criadores de conteúdo revisados externamente durante sua pesquisa estavam promovendo sites do mercado negro, com um ganho de mais de um milhão de visualizações em um único mês.

Descobriu-se Premier League Leicester que nove em cada 10 desses influenciadores estavam promovendo o BC Game, sócio patrocinador do Leicester City FC, em meio à empresa que está sendo declarada falida, perdendo sua licença de operação de Curaçao e vendo seu acordo de marca branca no Reino Unido terminar.

A regulamentação pode equilibrar os Sportsbook?

Em relação ao próprio produto, o apelo dos sites do mercado negro também pode estar enraizado no fato de que eles oferecem o mesmo produto que os licenciados, mas sem tanta conformidade e burocracia regulatória.

Os sites do mercado negro apresentam jogos de provedores licenciados no Reino Unido, como Hacksaw e Evolution, bem como extensos mercados de apostas esportivas. Eles também oferecem uma variedade de opções de pagamento para aumentar o alcance, incluindo moedas no jogo, moeda fiduciária e criptomoeda.

A inclusão de moeda e cripto no jogo, que combinados são de longe os métodos de pagamento mais comuns nesses sites, também permite que os clientes mascaram melhor as transações e ocultar sua vulnerabilidade financeira – embora não das empresas do mercado negro, que não prestam atenção a isso, mais de seus bancos ou provedores de pagamentos. A DMO vê a cripto como um esporte cego regulatório que requer ser abordado pelas autoridades do Reino Unido.

Nivelar o campo de jogo entre o legal e o ilegal tem sido um desafio para o UKGC e para outras partes interessadas reguladoras há anos, e é um que não vai a lugar nenhum. Na visão da DMO, as mudanças regulatórias nos últimos tempos podem ter exacerbado o mercado negro.

Os entrevistados disseram à instituição de caridade que eles usaram o mercado negro como um meio de contornar os regulamentos, particularmente para apostar com somas maiores de dinheiro e contornar os limites de depósito e acessar as compras de bônus e giros turbo.

Em relação ao tópico acima mencionado de verificações de risco de financiamento (ou verificações de acessibilidade, como as medidas foram chamadas de outra forma), a DMO afirma que alguns consumidores estão preocupados em dar detalhes pessoais às empresas de jogos de azar. Isso se deve a uma objeção pessoal ao “nada babá declarar” ou a uma consciência de que eles falhariam em cheques financeiros e seriam bloqueados de jogos de azar.

“Estamos vendo um aumento significativo nos cassinos criptográficos, jogos falsos e esquemas VIP promovidos por influenciadores que ignoram os regulamentos do Reino Unido”, disse Jordan Lea, CEO da Deal Me Out.

“As consequências da regulamentação bem-intencionada devem ser consideradas com cuidado, ou corremos o risco de empurrar os consumidores vulneráveis diretamente para os braços do Mercado Negro.

“Precisamos garantir que reguladores, formuladores de políticas, indústria e todas as outras partes interessadas trabalhem de forma colaborativa para evitar qualquer crescimento adicional do jogo ilegal”.

É claro que o mercado negro continua a ser uma ameaça consistente para os clientes do Reino Unido, e o fato de que muitos desses sites nem sempre são facilmente distinguíveis da oferta regulamentada complica ainda mais as coisas.

O momento dessa conclusão ocorre quando o jogo continua a enfrentar pressão regulatória e política, mesmo quando as recomendações da revisão da Lei de Jogos estão sendo adotadas – apenas na semana passada, 38 conselhos locais em todo o Reino Unido pediram mais poderes para bloquear a expansão e o marketing da indústria em suas áreas, se desejarem.

No entanto, também é importante que a indústria regulamentada não perca de vista suas próprias responsabilidades.

Embora o mercado negro possa não ter freios ou contrapesos, os jogadores no espaço legal ainda se deparam com danos e correm o risco de problemas de jogo, e em um momento de pressão pública e política aumentada sobre o jogo legal, a indústria não pode simplesmente mudar o dinheiro e confiar no argumento de que o mercado negro é uma alternativa pior.