Apostas esportivas: regulamentação no Reino Unido tornou mercado mais seguro
As empresas também têm deveres: precisam tirar uma licença pra operar, apresentam um detalhado plano de negócio, monitoram apostas suspeitas e fazem relatórios periódicos sobre suas atividades. Se o processo for feito de forma correta, há muitos benefícios. O setor no Reino Unido emprega 110 mil pessoas. Só de impostos, são arrecadados o equivalente a R$ 26 bilhões por ano.
Rosie Siqueira, porta-voz da Betfair, empresa britânica que também atua no Brasil, foi fundada em 2000 e lidera o mercado britânico. Ela explica como é operar no Reino Unido em meio às regulações e critica a proposta brasileira.
“É um sistema de tributação claro, justo e sustentável, é a parte principal. As casas aqui pagam 15% da receita bruta enquanto no Brasil o que é proposto é um pacote de taxas que podem chegar a 35% ou mais. Em outras palavras isso significa um mercado menos competitivo, porque pode espantar operadores”, avalia Rosie.
Regras rígidas puniram Lucas Paquetá
O exemplo mais recente de como essa regra é rígida por aqui envolve um craque brasileiro: Lucas Paquetá, jogador do Westham e da Seleção Brasileira. Ele entrou na mira de uma investigação da Federação Inglesa por possíveis violações de apostas esportivas feitas em contas vinculadas a pessoas próximas ao jogador.
Apostas altas e de contas recém criadas, previam que Paquetá levaria cartão amarelo na partida do West Ham contra o Aston Villa. em março. O lance aconteceu: amarelo no segundo tempo da partida. Depois da denúncia, a transferência dele para o Manchester City foi travada e o meia-atacante foi desconvocado da Seleção.
Monarquia também faz parte das apostas
As apostas são tão presentes na vida dos britânicos, que até a monarquia participa do mercado. Era tradição apostar na cor do chapéu que a Rainha iria utilizar na tradicional corrida de cavalo de Ascot. Ou até mesmo qual será o nome do próximo bebê real.
Por isso, a regra é criatividade na hora de apostar. Dá para apostar em praticamente tudo, como por exemplo: quando ETs vão fazer contato com a Terra ou se vai nevar no dia de Natal.
Vício em apostas e cassinos gera alerta no Reino Unido
Apesar do esporte estar no centro das atenções, o vício nos jogos e em cassinos on-line liga um sinal de alerta: o governo britânico estima que cerca de 2,5 milhões de pessoas têm problemas com apostas ou são apostadores de risco.
Diferente das apostas, os cassinos, que também são operados pelas Bets, têm poder de vício maior. A indústria tenta atrair os apostadores, mas quase metade das pessoas que usam plataformas de cassino são viciadas, o que preocupa o Reino Unido.
Nicole Elkabba perdeu tudo o que tinha com o mercado de cassinos e apostas on-line. O prejuízo foi de quase R$ 3 milhões. “No começo achava que estava ganhando, mas de repente comecei a perder, foi um pulo para usar o meu cartão e o dinheiro que tinha na conta”, relembra.
Até pela preocupação do vício, uma série de campanhas são promovidas pelo controle da jogatina. Para quem estuda a fundo o mercado, a solução pra combater o vício precisa ir além do tratamento psicológico. A sociedade precisa agir de forma conjunta para ajudar os apostadores.
“O aspecto principal é envolver todas as partes do processo de apostas e não pensar apenas em regulação. É preciso de tecnologia para bloquear o acesso de pessoas viciadas a sites e que os bancos proíbam o uso do cartão de crédito para jogos”, explica a advogada e professora Julia Hörnle.
Quem já passou pelo processo de regulação do mercado das Bets, como o Reino Unido, mostra que há muitos benefícios a longo prazo. E pode ser um bom exemplo pro futuro do mercado brasileiro, se feito de maneira responsável. (Jornal da Band)