Denúncias contra Bruno Henrique precisam ser investigadas com afinco

Opinião I 17.04.25

Por: Magno José

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A opinião do GLOBO: Regulação de apostas esportivas transcende a questão tributária

São graves as denúncias contra o atacante Bruno Henrique, do Flamengo, indiciado pela Polícia Federal (PF) com outros nove suspeitos de envolvimento num esquema de estelionato e fraude em competição esportiva, por meio da manipulação de apostas. Ele é acusado de forçar um cartão amarelo no jogo contra o Santos no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, pelo Campeonato Brasileiro de 2023. O lance investigado aconteceu nos acréscimos. Bruno Henrique levou o amarelo, esbravejou com o árbitro e tomou o vermelho. Embora alegue inocência, os indícios apresentados pela polícia são consistentes. Três casas de apostas detectaram volume e movimentações anormais de palpites em cartões para ele na partida contra o Santos.

O caso vinha sendo apurado pela PF e pelo Ministério Público desde novembro. Segundo as investigações, três parentes de Bruno Henrique, entre outros acusados, apostaram que ele receberia cartão amarelo. As apostas foram feitas em diferentes casas, com valores semelhantes e horários próximos. A polícia encontrou no celular do irmão de Bruno Henrique mensagens em que o atacante avisava a data em que receberia o cartão. Noutra conversa, o irmão pede um empréstimo, explicando que ainda não recebera o prêmio.

É um absurdo que o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) tenha decidido arquivar a investigação, mesmo com alerta da Confederação Sul-Americana de Futebol (Conmebol). Um dos argumentos foi que os ganhos são insignificantes em comparação ao salário do jogador. Ora, o ganho atribuído a seus parentes em nada muda a suspeita grave de violação ética do atacante.

Nos últimos anos, o surgimento de empresas de apostas esportivas, as bets, fez aumentar a tentação entre fraudadores, com o objetivo de manipular resultados. As próprias bets são as maiores interessadas na lisura das apostas e em combater as suspeitas de manipulação. Para coibir fraudes, entidades como Federação Internacional de Futebol (Fifa) e Confederação Brasileira de Futebol (CBF) mantêm contratos com empresas de rastreamento que monitoram as movimentações.

Ainda assim, as denúncias têm se sucedido. Astros brasileiros como Lucas Paquetá (West Ham, da Inglaterra) e Luiz Henrique (Zenit, da Rússia) são alvos de investigações. No Brasil, 16 acusados, entre atletas, apostadores e operadores, foram denunciados pelo Ministério Público de Goiás sob acusação de manipular resultados do Campeonato Brasileiro e de competições estaduais. O esquema foi descoberto por acaso, depois que um participante ameaçado denunciou a fraude.

A apuração do caso Bruno Henrique deve prosseguir sem paixões, com base nos fatos, com amplo direito de defesa ao acusado. O que está em jogo não é apenas a suspeita de fraude envolvendo um jogador da elite, mas também a credibilidade do esporte. O torcedor que vai ao estádio ou assiste ao jogo pela TV acredita na idoneidade das disputas. É um desrespeito e uma irresponsabilidade ludibriá-lo. (Editorial – O Globo)

 

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