Mercado de apostas online do Brasil foi invadido por site ilegais asiáticos

Apostas, Destaque I 14.09.24

Por: Magno José

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Mercado de apostas online do Brasil foi invadido por site ilegais asiáticos
O BNLData recebeu denúncias de leitores que foram enganados por essas plataformas que operam em curtos períodos e depois saem do ar e enganam os apostadores. Folha de S.Paulo revela como os brasileiros são aliciados para trabalhar nestas plataformas de apostas, que disponibilizam jogos clonados de grandes desenvolvedores

O mercado de apostas online do Brasil foi invadido por plataformas orientais ilegais que não têm autorização ou licença e já podem representar até 20% do faturamento. O BNLData já recebeu denúncias de leitores, que foram enganados por essas plataformas que ficam em operação em curtos períodos e depois saem do ar e enganam os apostadores.

Inclusive, as plataformas do oriente disponibilizam jogos clonados de desenvolvedores como Evolution, Merkur Gaming, ELK, Caleta, Evoplay e inclusive já existe em circulação uma versão fake do Fortune Tiger ou Jogo do Tigrinho.

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Brasileiros aliciados pelo Triângulo Dourado

A reportagem ‘Brasileiros contam como fugiram de esquema de golpes digitais no Sudeste Asiático’ veiculada pela Folha de S.Paulo registra como os brasileiros são aliciados para trabalhar nestas plataformas de apostas. No final de agosto, operações policiais e militares no chamado Triângulo Dourado, entre Laos, Mianmar e Tailândia, prenderam centenas de pessoas de diversas nacionalidades e recolheram dezenas de milhares de aparelhos eletrônicos. As ações visavam esquemas de golpes digitais que envolviam países não só do Sudeste Asiático ou da Ásia, mas também da América Latina, Brasil inclusive.

A Folha ouviu dois deles, que deixaram a região em junho. Lucas Silveira, 31, aceitou dar seu nome, mas não quis dizer em que país está hoje como asilado, apenas que é na Europa. Em setembro do ano passado, ele trabalhava como motorista em Porto Alegre, procurando outro serviço. “Aí vi essa oportunidade, trabalho na Ásia. Foi por um grupo de Facebook, vagas de emprego. Fiz entrevista no mesmo dia, falei com alguns brasileiros de lá, e 15 dias depois me mandaram a passagem. Fiz escala em São Paulo, em Dubai, fui à Tailândia, peguei um carro até a fronteira e atravessei de barco”.

“Chegando lá, foi tudo diferente do que falaram. Tinha que trabalhar 12 horas, muita multa, o alojamento era precário, dez pessoas no quarto. A gente trabalhava com jogos de cassino online, oferecendo promoções para brasileiros. Só que as empresas às vezes fechavam as plataformas, ficavam com o dinheiro dos clientes. Era basicamente uma enganação. Eu ligava para 400 pessoas por dia.”

Seu passaporte ficou com a empresa, ao chegar. “Para recuperar, falam que, se a gente quer ir embora, tem que pagar uma multa de 20 mil yuans [R$ 16 mil]. Fica difícil de sair.” Mas um episódio o fez tomar uma decisão. “Teve um brasileiro lá que espancaram, porque suspeitavam que estava roubando a empresa. Na nossa frente. Eu disse, ‘cara, não vou ficar aqui’.”

Para recuperar o passaporte sem pagar a multa, buscou saídas online. “Encontrei um departamento de segurança [da zona econômica], todos policiais chineses. Porque a polícia local de Laos era toda comprada pela empresa. Quando pedi ajuda, dizendo que tinha que ir embora e não podia ficar sem meu documento, eles ligaram para a empresa, trouxeram meu passaporte, aí eles me tiraram na hora de lá.”

Silveira afirma que, depois que ele descobriu esse caminho, em junho, outros brasileiros o seguiram —ele afirma que 14 brasileiros conseguiram sair da empresa sem pagar multa no total.

Questionado se recebia algum salário mensal, ele responde que “pagavam do jeito que queriam, atrasado, com desconto. Tipo, eu ia ao banheiro, demorava, tinha desconto. Mas eles pagavam”.

O salário era parte em dólar, em bitcoin, e parte em yuan, a moeda chinesa. Sobre o asilo na Europa, agora, diz que está “tudo certo”. “Estou mais tranquilo. Meio que passou o trauma. Estou começando a reviver, né?”.

Outro brasileiro que já está de volta ao Brasil e não quis revelar seu nome faz relato semelhante. Falou com um vizinho que estava procurando emprego. Então, uma brasileira ligou e ofereceu a ele uma vaga na Tailândia.

Ele narra que, na videochamada, outros brasileiros afirmaram que o esquema era seguro. Os empregadores pagavam tudo: passagem, hotel, comida.

Na chegada, descobriu que a vaga não era para cuidar de uma rede social, mas de um jogo de azar online. Ele conta que seu passaporte foi retido, e a carga horária, subitamente aumentada de 12 horas para 14 horas. Escapou em junho, no rastro de Silveira.

O brasileiro confirma o número de 14 compatriotas que saíram do local em junho. Segundo ele, havia cerca de 40 cidadãos do país trabalhando na empresa.

Questionado sobre salário, responde que no começo seus empregadores pagavam, mas depois, não mais, e acrescenta que já tinha dois meses de salário atrasado quando voltou.

Além de homens, também mulheres brasileiras foram atraídas ao Triângulo Dourado, para atuar nos golpes digitais. A TV Record acompanha esses casos desde 2022, quando uma brasileira de 22 anos desapareceu em Mianmar, caso relatado no Cidade Alerta. Em julho, o Domingo Espetacular entrevistou uma jovem de 27 anos que havia acabado de voltar do Laos, no mesmo esquema dos dois brasileiros.

O encontro do início de agosto dos chanceleres do grupo de Cooperação Lancang-Mekong, que inclui ainda Vietnã e Camboja, havia afirmado em comunicado estar “profundamente preocupado com a gravidade das ameaças persistentes de crimes transfronteiriços”, inclusive apostas online, enfatizando a necessidade de cooperação.

Questionado sobre as operações e a presença de brasileiros nas organizações criminosas, o porta-voz do Ministério do Exterior da China, Lin Jian, não respondeu especificamente, dizendo apenas que os países da região, inclusive a China, buscam “intensificar os esforços na repressão de crimes como o jogo online e o tráfico de seres humanos”.

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