Opinião: Governança corporativa como diferencial estratégico no mercado brasileiro de apostas

A recente controvérsia envolvendo uma operadora internacional de apostas e um tradicional clube da elite do futebol brasileiro, que resultou na necessidade de ajuste da logomarca diante de fatores de risco e percepção pública, revela uma lacuna crítica no mercado: a importância de estruturas robustas de governança na tomada de decisões estratégicas.
Uma decisão de branding aparentemente rotineira transformou-se em uma crise reputacional significativa, comprometendo investimentos substanciais em marketing e evidenciando as vulnerabilidades de processos decisórios que não integram adequadamente a análise de riscos e o contexto local.
O timing deste episódio é particularmente relevante. Em meio à implementação do novo marco regulatório das apostas esportivas (Lei 14.790/23), operadores internacionais precisam compreender que conformidade normativa é apenas o fundamento básico. O desafio real está em desenvolver uma abordagem estratégica integrada de gestão regulatória que permita:
⇒ Antecipação de Riscos: Desenvolvimento de sistemas de monitoramento regulatório que permitam identificar potenciais desafios antes que se materializem;
⇒ Governança Adaptativa: Implementação de estruturas de decisão que integrem análise de risco, compliance e resposta rápida a cenários regulatórios complexos;
⇒ Inteligência Local: Capacidade de interpretar e incorporar nuances culturais e regulatórias brasileiras em decisões estratégicas.
Em um ambiente onde decisões operacionais carregam implicações regulatórias complexas, a diferença entre sucesso e vulnerabilidade está na capacidade de construir resiliência institucional. O caso recente demonstra como escolhas aparentemente táticas podem ter ramificações estratégicas quando não submetidas a uma análise integrada de riscos.
Para operadores que buscam construir presença sustentável no mercado brasileiro, especialmente neste momento de regulamentação, três pilares exigem atenção imediata:
⇒ Inteligência Regulatória: Monitoramento sofisticado do ambiente regulatório, incluindo não apenas a esfera federal, mas também dinâmicas estaduais e municipais;
⇒ Frameworks de Governança: Estruturas que integrem compliance, gestão de riscos e inteligência regulatória em um sistema coeso de tomada de decisão;
⇒ Preparação Estratégica: Desenvolvimento de protocolos e cenários que permitam adaptação ágil a mudanças no ambiente regulatório.
O momento atual é decisivo. Com a implementação do novo marco regulatório, as estruturas de governança e posicionamento institucional definidas agora determinarão quais operadores construirão presença duradoura no mercado brasileiro.
A mensagem é clara: em mercados complexos como o brasileiro, não existem atalhos para a construção de resiliência regulatória. O investimento em inteligência estratégica e governança robusta não é opcional – é um imperativo que distingue operações preparadas para prosperar de iniciativas temporárias.
Para grupos internacionais que pretendem estabelecer operações sustentáveis no Brasil, o diferencial competitivo está na adoção de uma abordagem que transcenda o compliance tradicional e integre verdadeira inteligência regulatória. No mercado brasileiro, sucesso sustentável não vem apenas do cumprimento de regras – nasce da capacidade de antecipar, adaptar e prosperar em um ambiente regulatório dinâmico.
(*) Gabriel Quiliconi é fundador da Quiliconi Consulting, consultoria boutique especializada em estratégia regulatória e resiliência corporativa para setores altamente regulados. Com mais de 25 anos de experiência executiva, atua no desenvolvimento de estratégias e estruturas de governança para mercados digitais, com foco em iGaming. É formado em Direito pelo Mackenzie, com especialização em Direito Contratual (PUC-SP) e MBA em Liderança, Inovação e Gestão (PUC-RS). Integra as Comissões Especiais de Privacidade, Proteção de Dados e Inteligência Artificial e de Direito dos Jogos, Apostas e Jogo Responsável da OAB/SP.