Estudo vai analisar o cérebro dos apostadores em raspadinhas de Portugal

Um estudo do Conselho Económico e Social de Portugal sobre os jogos de loteria instantânea, conhecidos como raspadinhas, vai analisar o cérebro das pessoas que têm esta perturbação de jogo patológico. O objetivo é perceber o que é que no cérebro não está a funcionar bem para que se desenvolvam terapias adequadas.
O estudo sobre loteria instantânea encomendado pelo Conselho Económico e Social à Universidade do Minho foi apresentado na tarde da última sexta-feira (20). Vai ser desenvolvido em três fases que cruzam a estatística com a medicina.
No primeiro momento, serão feitas 2000 entrevistas telefônicas para a “identificação da percentagem de portugueses que apresentam algum tipo de comportamento problemático”. Na segunda fase, vão ser realizadas entrevistas presenciais junto a postos de venda para determinar a prevalência de comportamento de jogo problemático ou patológico entre apostadores de raspadinha.
Na terceira fase, serão identificadas pessoas viciadas em raspadinha para que realizem uma ressonância magnética. “Vamos identificar no cérebro dessas pessoas o que é ativado quando elas estão sujeitas a imagens como raspadinhas, a notícias sobre raspadinhas, e vamos confrontar essa ativação cerebral com o que acontece quando as pessoas estão expostas a imagens neutras”, explicou Pedro Morgado, médico psiquiatra, professor e investigador da Universidade do Minho.
O objetivo é perceber o que é que no cérebro não funciona bem para que, no âmbito das neurociências, possa haver mais informação disponível para o tratamento de patologias de jogo de loteria instantânea. Pedro Morgado considera que este é “um fenômeno particular no nosso país” com um consumo “absolutamente extraordinário” que “afeta sobretudo as pessoas mais desfavorecidas”. Luís Aguiar-Conraria, economista que também vai desenvolver esta investigação, afirmou que a “raspadinha funciona como um imposto regressivo, em que são os mais pobres que pagam mais”.
Apesar de ser o jogo que recolhe maior número de receitas, ainda há pouca investigação científica acerca dos efeitos da raspadinha em Portugal. Foi por isso que o Conselho Económico e Social (CES) decidiu avançar para o estudo. “Foi justamente esta preocupação de fundamentação científica. Há instituições estatais ou paraestatais que estão diretamente envolvidas neste processo e fazem publicidade a isto, incitam as pessoas a este tipo de comportamentos e desses comportamentos resulta a obtenção de receitas”, esclareceu Francisco Assis, presidente do CES.
O dirigente assegurou que “o Governo vai ser o primeiro a ser informado” dos resultados do estudo, sendo que ainda não há data prevista para conclusões. Para já, o CES apenas assinou os protocolos com as fundações que financiam e participam no estudo, tendo garantido o financiamento para as três fases.
O estudo conta com uma equipe de sete investigadores ligados às áreas da Medicina e Economia e apoios de três fundações: Mestre Casais, Manuel António da Mota e Social Bancária. (Jornal de Notícias – Delfim Machado – Portugal)