Lula: Da bola para o baralho.

Especial I 22.12.03

Por: sync

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BRASÍLIA.O placar da Granja do Torto informa: sai o futebol, entram o truco, o buraco e o mexe-mexe. As freqüentes contusões de ministros, assessores e até do presidente Luiz Inácio Lula da Silva derrubaram as peladas de fim de semana do posto de lazer favorito do poder. Quem dá as cartas agora são jogos de baralho, diversão preferida também da primeira-dama, dona Marisa Letícia.
A mudança não foi por acaso. Depois que diversos ministros e assessores se machucaram nas peladas do Palácio da Alvorada e da Granja do Torto, Lula começou a ouvir mais os conselhos de dona Marisa, que não esconde a preocupação com a saúde do marido. Também ajudou a afastar Lula dos gramados a pesada agenda, inclusive nos fins de semana. Para a tristeza dos peladeiros, Lula passou a optar pelo carteado.
A modalidade é também sucesso de público e de crítica nas viagens de Lula. No avião da Presidência, em torno da mesa na cabine de Lula, o tempo passa depressa e as autoridades transformam-se em jogadores. O grupo seleto é formado pelo presidente, o chefe do cerimonial, embaixador Paulo César de Oliveira Campos, mais conhecido como POC, o coronel Gonçalves Dias, chefe da segurança, e o secretário de Imprensa, Ricardo Kotscho.
Nos fins de semana, quem costuma aparecer para jogar é o porta-voz da Presidência, André Singer, acompanhado da mulher.
— Realmente, nunca mais teve futebol com o presidente. Estava tendo muito acidente. O problema era que os jogadores não estavam fazendo alongamento antes das partidas — lamenta o deputado Sigmaringa Seixas (PT-DF), presença constante das peladas, mas que agora não está sendo chamado para o carteado.
O jogo de cartas é um hábito antigo da família presidencial. Segundo amigos, dona Marisa é uma jogadora de mão cheia e sempre anda com um baralho na bolsa. Lula não fica atrás. Em dupla, costumam ser imbatíveis. Detalhe: eles não gostam de perder, avisam os amigos. Outra característica: o casal adora passar a noite no carteado. Nos fins de semana, apenas amigos íntimos são convocados para as partidas.
Hoje, a estrela do carteado é o mexe-mexe, uma variação do buraco. Mas nem sempre este jogo foi o favorito do casal. Nos tempos de sindicalista, nos anos 70, Lula e dona Marisa preferiam o buraco ou o truco. Foi graças ao carteado que Lula enfrentou os 41 dias em que ficou preso com alguns companheiros, após a histórica greve dos metalúrgicos, em 1980.
— Na cadeia, virávamos as noites jogando. O problema é que Lula já vinha com a canastra pronta. Então disse para ele: ‘Você está aqui não é porque fez greve, mas sim porque rouba no baralho’ — lembra o deputado Devanir Ribeiro (PT-SP), que ficou preso com Lula.
Apesar da nova prioridade palaciana, o futebol não deve ser abandonado de vez pelo presidente. O campo do Alvorada recebeu pequenas melhorias. Lula também ganhou três jogos completos de uniformes: um do Corinthians, seu time de coração, um do Grêmio e outro do Internacional. Para janeiro, o chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, já está organizando um Grenal no gramado do Alvorada. As regras do carteado
Dos jogos favoritos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e da primeira-dama, dona Marisa Letícia, o mais conhecido é o buraco. Já o mexe-mexe e o truco mineiro — os outros clássicos das rodas de carteado da Granja do Torto — são menos conhecidos e têm regras mais complicadas. Nos três casos, porém, a habilidade conta tantos pontos quanto à sorte.
MEXE-MEXE
Cada jogador recebe 11 cartas e o objetivo é descartá-las por meio de combinações que são postas na mesa obedecendo a uma ordem seqüencial de cartas do mesmo naipe. São usados dois baralhos. As cartas de número dois de qualquer naipe são curingas e podem substituir outras sem precisar ser do mesmo naipe. É uma espécie de buraco em que todos os participantes podem mexer em todos as combinações para incluir as suas cartas. É por isso que o jogo foi batizado como mexe-mexe. Mas todas as combinações precisam ter no mínimo três cartas. Vence quem ficar com a mão vazia primeiro.
TRUCO MINEIRO
Podem participar duas, quatro ou seis pessoas (neste caso, chama-se douradinha) e tem por objetivo alcançar 12 pontos (batizados de tentos) antes de seus adversários. Joga-se truco apenas com um baralho. As manilhas ou curingas são, pela ordem decrescente: quatro de paus (o zape), sete de copas, ás de espadas (espadilha), sete de ouros e, em seguida, a seqüência normal de três, dois, ases, reis, damas, valetes, setes, seis e cincos. Nesta ordem, o zape mata o sete de copas, que mata a espadilha, que mata o sete de ouros… A arte do truco é o blefe. Ganha quem blefa melhor e leva o adversário a apostar alto em seu jogo, pagando para ver. Com três cartas e duas duplas de parceiros, quem sair com um zape, um três e um dois tem uma ótima mão. O jogo é dividido em três rodadas. Em cada uma, os jogadores botam uma carta na mesa. Quem tem a carta mais valiosa vence a rodada. Quem ganhar duas dessas mãos marca um ponto e uma nova rodada se inicia.O jogo termina quando um jogador (ou dupla ou trio) alcança 12 pontos. Quando o jogador tem uma ou mais manilhas, pode trucar em cima do adversário e aos gritos diz: "truco valendo seis…". Se o adversário achar que tem cartas maiores, ou achar que o oponente está blefando, pode aceitar o truco. Se suas cartas forem menores, quem está trucando pode levar seis tentos, ou bois. Quem chegar aos 12 tentos primeiro, ganha o jogo.
O Globo – Gerson Camarotti e Bernardo de la Peña

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