Pokerstars e Palmeiras realizam ação inédita em prol da inclusão feminina nos esportes

Pôquer I 24.12.23

Por: Magno José

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Pokerstars e Palmeiras realizam ação inédita em prol da inclusão feminina nos esportes
As duas trocaram experiências sobre as modalidades e dificuldades que já enfrentaram em esportes historicamente dominados pelos homens (Crédito: Pedro Giannini/PokerStars)

PokerStars e Palmeiras realizaram uma ação inédita em prol da inclusão feminina no pôquer e futebol. No começo deste mês, Lauriê Tournier, jogadora profissional e embaixadora do PokerStars, e Camilinha, atleta da equipe feminina do Palmeiras, se encontraram na Academia de Futebol, centro de treinamento do clube paulista, na Barra Funda, para o Sports Swap, atividade baseada na troca de experiências das duas – tanto sobre similaridades entre as duas modalidades como também as dificuldades que elas encontraram por serem mulheres em ambientes historicamente dominados pelo público masculino.

A atividade foi separada em três partes: primeiro, as atletas foram para a mesa de pôquer, onde Lali, como é conhecida a embaixadora do PokerStars, ensinou os conceitos básicos do esporte para Camilinha, além de simularem uma rápida partida com outros convidados presentes. Na ação, foi possível constatar que os esportes possuem mais características parecidas do que aparentam.

“No pôquer, você precisa analisar o ambiente e seus adversários, que é o que acontece também no futebol, que você precisa analisar e também estudá-los. Você também precisa pensar em todas as suas ações, que interferem no resultado final, tanto de um esporte, quanto do outro”, avaliou Camilinha.

“Ela precisa tomar decisões sozinha, pensando no bem de todos do time, no meio do jogo, na pressão, isso é muito parecido com o pôquer, porque precisamos tomar uma decisão sobre pressão, não existe muito tempo, não dá para ficar analisando tudo”, adicionou Lali.

Na sequência, foi a vez de Camilinha levar Lali para um dos campos da Academia de Futebol e passar dicas sobre a melhor maneira para a cobrança de um pênalti, desde o posicionamento da bola no gramado, até a distância ideal para a corrida antes da batida.

Por fim, as duas sentaram para um bate-papo com os convidados, onde abordaram diversos temas, desde a similaridade entre os dois esportes, o espírito competitivo do brasileiro e, principalmente, os desafios para as mulheres brilharem em esportes majoritariamente masculinos.

Confira abaixo os principais trechos da conversa:

Motivação e espírito competitivo do brasileiro

“Eu acho que o maior motivo é o querer ganhar mesmo. Para ganhar tem que evoluir e buscar jogar o melhor, se dedicar mais para conseguir os melhores resultados. Acho que é uma supressão minha mesmo, comigo mesmo, mas é o maior motivo, essa superação, fazer cada vez melhor para conseguir chegar nos meus melhores resultados.” – LAURIÊ TOURNIER

“Os clássicos sempre são os mais difíceis, mas são os jogos que mais deixam a gente motivada, porque a gente sabe das rivalidades que tem e elas sempre também estão tão concentradas quanto a gente. Eu, particularmente, sempre tento ficar muito tranquila, escutar minha música, conversar bastante. Mas a partir do momento que você entra no campo, que você pisa dentro das quatro linhas, tudo muda. A competitividade vai lá em cima, você não quer perder bola, você sempre quer superar e quer dar o seu melhor. Então, assim, particularmente, os clássicos são os que eu mais gosto e que mais me motivam mesmo.” – CAMILINHA

“Eu acho que pela história de vida mesmo da gente, até quando a gente joga os torneios lá fora, a gente vê a diferença do brasileiro comemorando, para os outros. Eu não sei como é que é no futebol também, mas acho que tem sim. A gente tem mais raça, acho. É um desafio a mais, parece que gosta desse desafio.” – LAURIÊ TOURNIER

“Parece que a gente sempre precisa dar um pouquinho mais aqui, né? O brasileiro sempre precisa correr um pouquinho mais, precisa estudar um pouquinho mais. Lá fora não tem tanta competitividade, eu acho, como você falou. Eu joguei lá e deu para perceber, às vezes perdeu um jogo, “ah, mas tem mais um, tem o próximo.” Eu já não, aqui não é assim, você perde, você fica frustrada. “Tá, mas o que que eu fiz de errado?”. Nossa competitividade, eu tenho certeza que é muito maior do que o pessoal lá de fora.” – CAMILINHA

Sobre tomada de decisão

“Eu acredito que a tomada de decisão rápida no meio do jogo deve ser uma das (similaridades entre os esportes), porque a diferença é que o pôquer é você sozinho. Não tem uma equipe, um time todo para você jogar junto, né? Então, se você perde, a responsabilidade é sua. No pôquer é assim, e no futebol acho que não tem isso, mas tem a tomada de decisão individual, que pode influenciar no jogo todo.” – LAURIÊ TOURNIER

“Acho que a tomada de decisão é bem importante mesmo. E ali, jogando pôquer, você tem que estudar o adversário, querendo ou não. Você tem que perceber a hora que ele está blefando, como a gente estava brincando. Então, você tem que perceber algumas coisas e com as outras equipes no futebol também, você tem que estudar o adversário, você tem que saber como ele joga para você conseguir achar a melhor forma de vencer.” – CAMILINHA

Preconceito e conselho para mulheres

“Vai ser um pouco mais difícil para você (mulher) do que para um cara. Você vai ter que passar por mais obstáculos no meio do caminho, justamente porque é um meio muito predominante de homens, mas pôquer é para todo mundo, todo mundo pode jogar, é muito bem-vindo e a gente está crescendo cada vez mais o número de mulheres jogando. O que eu tenho que conselho é jogar contra os homens também, sabe? Porque é o que acontece, muitas mulheres, elas entram e ficam só ali nos torneios femininos, mas elas podem jogar a competição deles também, podem ganhar deles também. Seria o meu conselho.” – LAURIÊ TOURNIER

“Sim, teve (preconceito no começo). Foi dentro da minha família, foi um tio por parte do meu pai. Quando eu era pequena, eu ficava jogando bola na frente de casa, eu ficava sem camisa, eu era nova e ele sempre me chamava de “machorra”. Isso me marcou muito, porque sempre foi algo que eu gostava de fazer, o meu irmão também jogava, então toda hora eu estava com ele. Isso me motivou muito. Eu tinha dentro de casa alguém que era preconceituoso e hoje em dia as coisas já mudaram. Hoje em dia, ele já tem foto minha, ele acompanha os meus jogos. Eu consegui provar para ele que é possível, que eu também posso, que eu posso ser jogadora e hoje estou num grande clube. Não sabendo, ele me motivou muito a chegar onde eu estou hoje. Eu acho que como ela (Lali) falou, eu acho que não tem a parte de homem e mulher. Eu acho que a gente obviamente sempre tem que se provar muito mais do que os homens, mas é possível. Em qualquer profissão, jogar pôquer, ser jogadora e advogada, qualquer coisa, você pode. Acho que só depende de você mesma, de você batalhar pelo que você quer e de você lutar, de você ir atrás. E continuar buscando seus sonhos. Cada um tem um sonho individual e eu acho que se você quer muito realizar isso, você precisa ir atrás. Eu acho que é o que eu falo, principalmente para as mulheres, que se você quer ser jogadora, vai ser um pouquinho mais árduo, mas no final vale a pena.” – CAMILINHA

Sobre gravidez e carreira

“Eu tenho pensado bastante, é um sonho na minha vida também e eu fiquei sempre colocando a minha carreira em primeiro lugar. Mas engravidar está nos planos próximos e futuros, sim, quero realizar esse sonho. Eu realizei vários sonhos, principalmente profissionais, e acho que eu precisava desse tempo mesmo, sabe? Agora acredito que dá pra conciliar muito mais, a gente vê várias famílias jogando. Tem várias mulheres que conseguem conciliar.” – LAURIÊ TOURNIER

“Eu penso em ter filhos, sim, assim que eu me aposentar. Ter filhos é um desejo meu já há muito tempo. Já deixei isso muito claro para a minha família e eles super me apoiam, mas só mesmo depois que eu aposentar. Nos Estados Unidos, quando eu joguei lá, elas ainda conseguiam. Teve atletas que eu joguei, que elas conseguiram conciliar. O clube as ajudou, elas viajavam com o filho, as atletas ajudavam a cuidar, sempre levava uma babá junto. Mas acho que eu não conseguiria fazer as duas coisas ao mesmo tempo. Então, prefiro aposentar para depois ter os filhos.” – CAMILINHA

Iniciativas para o futuro

“No pôquer, não temos um time só de mulheres, mas a gente conversa muito, porque o pôquer é um jogo muito solitário. Se você for ver on-line, principalmente. A gente troca muita ideia, muita experiência nas mesas e tudo mais. Tem várias outras amigas também que a gente tem esse contato justamente para se apoiar, porque a gente entende a batalha que é ser mulher também, que é um pouco diferente. Eu acho super importante ter essa amizade assim, fora das mesas também.” – LAURIÊ TOURNIER

“O que eu quero muito é fazer uma escolinha (de futebol) na minha cidade. Eu acho que tem alguns talentos lá que eles ainda não têm o incentivo que precisam para seguir essa carreira. Então, é uma coisa que eu quero muito fazer, já que eu consegui alcançar grandes coisas. Eu acho que eu posso ajudar outras meninas também a seguir isso também.” – CAMILINHA

 

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