COB projeta captar R$ 155 milhões até 2024

Loteria I 22.07.21

Por: Magno José

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Para 2021, o orçamento previsto para o Bolsa Atleta é de R$ 145,5 milhões, o maior valor desde 2014. “Esses recursos não se sobrepõem, eles se somam”, argumenta Sampaio, referindo-se tanto ao auxílio financeiro pago aos atletas, como à verba oriunda de leis de incentivo federais, estaduais e municipais, e ao dinheiro das loterias

Medalha de ouro na Olimpíada de Barcelona, o ex-judoca Rogério Sampaio lembra sem saudade da época em que treinava no Brasil em tatames de palha, revestidos de lona. “Em 1992, nós competíamos nesse tatame [sintético] lá fora e treinávamos aqui no Brasil no tatame de palha”, compara o hoje diretor-geral do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), para depois explicar que a diferença nos pisos acabava por influenciar na velocidade da movimentação do atleta. “Hoje, treinamos aqui em tatame sintético, que é o mesmo utilizado nos jogos olímpicos.”

A melhoria nos equipamentos e nas condições de treinamento não só no judô mas em outros esportes olímpicos é resultado da soma de investimentos públicos e privados. Entre 2017 e o ano passado, R$ 1,7 bilhão em recursos arrecadados com loterias foram direcionados para a Secretaria Especial do Esporte do Ministério da Cidadania. Na esfera privada, depois da euforia que antecedeu a Rio 2016, o ciclo olímpico de 2017 a 2020 foi marcado por uma retração dos patrocínios, conforme atestam números do Comitê Olímpico Brasileiro.

Entre 2013 e 2016, no período de preparação para os jogos olímpicos do Rio de Janeiro, o comitê contabilizou R$ 52,07 milhões em patrocínios em dinheiro e R$ 43,96 milhões em permutas de bens e serviços. Total de R$ 96,03 milhões.

No ciclo seguinte (2017-2020), o valor total dos patrocínios – incluindo dinheiro e permutas – encolheu em 11%, ficando no patamar de R$ 85,35 milhões. O período de preparação para a Olimpíada de Tóquio teve início justamente quando o Brasil iniciava lenta recuperação econômica após a recessão de 2015 e 2016.

“Depois dos Jogos Olímpicos do Rio, houve uma diminuição desse número de patrocínios, o que eu acho que é natural. Acho que houve um interesse maior [das empresas brasileiras] até pelo fato de os jogos serem no Rio de Janeiro”, justifica Sampaio. “Após esse período, houve todo um debate da sociedade sobre a importância da organização dos jogos olímpicos, do retorno que os jogos olímpicos deram para o país. E houve um processo de retração.”

Para reverter o afastamento dos patrocinadores, foi necessário um “trabalho de reconquista da credibilidade”, afirma o diretor-geral do COB. O esforço aparentemente surtiu efeito. A expectativa atual é de um total de quase R$ 155 milhões em patrocínios – R$ 99,22 milhões em dinheiro e R$ 55,65 milhões em permutas – para o ciclo olímpico de 2021 a 2024.

Para além dos questionamentos da sociedade, a imagem do COB acabou arranhada ainda em 2017 com a prisão, em outubro, do então presidente da entidade, Carlos Arthur Nuzman, pela Polícia Federal. A suspeita na época era de que o dirigente teria intermediado a compra de votos de integrantes do Comitê Olímpico Internacional (COI) para a eleição do Rio como sede da Olimpíada de 2016. Ainda naquele mesmo mês Nuzman foi libertado por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

Sampaio passa ao largo de comentar o trabalho de administrações anteriores. Prefere ressaltar o esforço do comitê para se reorganizar de forma a privilegiar a transparência e a austeridade. Como exemplo de mudanças, ele cita o aumento da participação de atletas na assembleia do COB. Ainda em 2017 o número de representantes dos atletas saltou de um para 12, todos com direito a voto. “Agora a comissão de atletas é formada por 25 atletas, 19 deles integrando a assembleia e fazendo parte das votações”, diz.

Na Olimpíada de Tóquio, que será aberta oficialmente na sexta-feira, a meta é superar o total de medalhas obtidas na Rio 2016. Foi a melhor participação do Brasil na história dos Jogos Olímpicos, com 19 medalhas conquistadas, sendo sete de ouro. “Sete de ouro, nós sabemos que esse não é um número tão fácil de conseguir“, diz Sampaio. “Mas sabemos que temos um grupo de qualidade na mão e que isto é possível”, acrescenta.

Ao todo, 300 atletas representando o Brasil foram inscritos na Olimpíada de Tóquio. É o maior número desde os Jogos de Pequim, em 2008, quando a delegação brasileira foi composta por 277 atletas. Na Rio 2016, a participação foi maior – 462 atletas inscritos. Por sediar a competição, o país teve vaga garantida em todas as modalidades.

Do total de 301 atletas convocados – houve um caso de doping e o atleta não vai disputar a Olimpíada -, 79,7% recebem recursos do programa de patrocínio individual Bolsa Atleta, do Ministério da Cidadania. O desembolso realizado entre 2017 e 2020 somou R$ 439,6 milhões, o equivalente a uma média anual de quase R$ 110 milhões para o período. No entanto, a comparação entre os valores gastos em 2019 (R$ 116,5 milhões) e 2020 (R$ 111,8 milhões) indica queda de 4%.

Para 2021, o orçamento previsto para o Bolsa Atleta é de R$ 145,5 milhões, o maior valor desde 2014. “Esses recursos não se sobrepõem, eles se somam”, argumenta Sampaio, referindo-se tanto ao auxílio financeiro pago aos atletas, como à verba oriunda de leis de incentivo federais, estaduais e municipais, e ao dinheiro das loterias.

O orçamento aprovado para o COB este ano é de R$ 388 milhões. A previsão é de que 12% desse montante seja gasto com a atividade-meio, ou seja, a manutenção da própria estrutura do comitê. O restante dos recursos serão destinados à atividade-fim (treinamento de atletas, participação em competições etc) e ao caixa do COB, como reserva para o futuro. Em 2017, essa proporção era de 23% (meio) e 59% (fim). No ano passado, prejudicada pela pandemia, a proporção foi de 13% (meio) e 65% (fim). (Valor Econômico – Rodrigo Carro — Do Rio)

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