Joqueta do Ceará ostenta posição única no turfe e fala sobre preconceitos

Jockey I 11.05.22

Por: Elaine Silva

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A joqueta Jeane Alves (Foto: Reprodução/Acervo Pessoal)

Foi na infância, por volta dos seis anos de idade, que Jeane Alves, 33, teve seu primeiro contato com cavalos. Um dos incentivos veio do pai, proprietário de uma fazenda no interior do Ceará, onde ela começou a montar. Na adolescência, surgiu o interesse de ir tentar o turfe na cidade de São Paulo.

Jeane, que participava das vaquejadas no Ceará, foi para São Paulo aos 18 anos com o apoio do pai e primos, mas receio da mãe, que temia o preconceito que a filha sofreria desbravando um esporte altamente masculinizado no País. Interna na escolinha do Jockey Club de São Paulo (JCSP), galgou, depois de dois anos como aprendiz, a atual posição profissional de joqueta — que ocupa desde 2010.

“No começo, foi muito difícil mesmo ser mulher no meio de tantos homens. Só tinham quatro joquetas quando eu cheguei [ao Jockey]. A gente sofria, sofria. Mas eu passei por tudo isso”, relembra Jeane em entrevista ao jornal A Redação. “De aprendiz que fui até me tornar joqueta, senti que sofri mais preconceito. É uma fase mais complicadinha. Você vai [a cada fase] montando um peso diferente durante a montagem de cavalos, e as mulheres, por regra, têm uma descarga menor que a dos homens.”

Respeito
Jeane Alves, contudo, ostenta desde 2016 a posição de única joqueta no Jockey Club de São Paulo. Diversos motivos fizeram com que as colegas de pista abandonassem o turfe para seguir outros planos, como novas oportunidades e até acidentes no esporte. Porém, ela se manteve firme.
Em pleno estado de competição na temporada atual do JCSP, Jeane ressalta que boa parte de seu desgaste na profissão não vem do físico — que também se encontra cansado —, mas do preconceito às claras que encara nas pistas e nas competições. “O respeito no turfe precisa ser igual para todos. ‘Ah, tem de pedir para um homem ou para mulher fazer essa montagem?’ Não. Não é uma questão de ser homem ou de ser mulher para poder fazer isso”, desabafa.

Hoje, Jeane é a única a competir e lamenta que entre os colegas homens não haja coleguismo para com ela, que continua entre as melhores avaliações dos proprietários. Considerada até pela imprensa brasileira como um verdadeiro fenômeno, a joqueta pode se orgulhar dos méritos que carrega das muitas competições que ganha e a liderança quase absoluta nas estatísticas. “As mulheres no turfe são mais respeitadas fora do Brasil do que aqui”, aponta.

Futuro
Para a joqueta, o amor aos cavalos e ao que se faz com eles (no caso do turfe, as competições) deve estar acima do amor ao dinheiro — fator preponderante no que diz respeito à prática da profissão. Jeane diz ao AR que antes do início da pandemia (em 2020) já esboçava sair do País para pleitear o esporte no estrangeiro. A emergência sanitária, porém, barrou os planos que só agora, em 2022, voltaram a ter suas atenções.
“Meu plano é ir montar cavalos fora. Quero tentar um reconhecimento e uma visibilidade maior”, afirma Jeane. “Mas, se um dia eu resolver parar no turfe, não sei se quero continuar tendo esse mesmo desgaste [de joqueta] na posição de treinadora. O mais difícil para mim, indo para fora, seria a dificuldade com a língua [estrangeira], embora eu já esteja estudando inglês.”

Restauro do Jockey e perspectivas
O complexo hípico de Cidade Jardim passa por obras de restauro que são tocadas pela Elysium Sociedade Cultural. Elas têm devolvido ao Jockey a preservação cultural que merece. O momento é avaliado por Jeane como um ponto positivo na esteira em que correm as ações que podem dar ao clube, outra vez, a visibilidade e audiência vistas num passado não tão distante. “É benéfico, principalmente, para o público que o restauro ocorra”, diz. (Coluna Puro-Sangue – Gabriel Neves – A Redação)

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