Relatório apontou retorno de R$ 13 mil com apostas em cartão de Bruno Henrique

Apostas I 06.11.24

Por: Magno José

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Bruno Henrique, do Flamengo, é alvo de operação contra manipulação em jogo para favorecer parentes em bets
De acordo com esse relatório, um “operador” teve aproximadamente R$ 6,1 mil de retorno na Betano, outro levou R$ 4,7 mil na GaleraBet e um terceiro obteve R$ 3.050 na KTO. O STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), que analisou e arquivou o caso, considerou os valores “ínfimos” quando comparados ao salário do atleta (Foto: Reprodução)

O relatório que deu origem à operação deflagrada nesta terça-feira (5) contra o atacante Bruno Henrique, do Flamengo, aponta retornos totais de R$ 13.850 em apostas de três casas diferentes para que o jogador tomasse um cartão amarelo em partida contra o Santos pelo Campeonato Brasileiro do ano passado, registra reportagem da Folha de S.Paulo.

A informação consta em um relatório da Ibia (International Betting Integrity Association), contratada pela Conmebol (Confederação Sul-Americana de Futebol), que repassou a denúncia somente em 29 de julho de 2024 à CBF (Confederação Brasileira de Futebol). O jogo ocorreu em 1º de novembro de 2023, nove meses antes.

De acordo com esse relatório, um “operador” teve aproximadamente R$ 6,1 mil de retorno na Betano, outro levou R$ 4,7 mil na GaleraBet e um terceiro obteve R$ 3.050 na KTO. O STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva), que analisou e arquivou o caso, considerou os valores “ínfimos” quando comparados ao salário do atleta.

A denúncia apresentada pela Polícia Federal diz que “muitos dos registros de apostas foram realizados por contas abertas nas plataformas na véspera da partida”, que eram realizadas no valor máximo, concentradas unicamente no amarelo a Bruno Henrique e originárias de Belo Horizonte, cidade natal do atacante.

A necessidade de usar mais de uma conta para obter lucro considerável se explica por um limite imposto pelas próprias “bets”, como são chamadas as casas de aposta online, para apostas do tipo.

A Betano, por exemplo, aceita uma aposta máxima de R$ 631 para um cartão amarelo de Jonathan Calleri pelo São Paulo em jogo nesta terça (5), contra o Bahia. Ele tem uma média de cartões (seis em 25 jogos) semelhante à que tinha Bruno Henrique quando das apostas (cinco em 23 jogos).

Para conseguir apostar R$ 3.000, seria necessário, usando esse exemplo, utilizar cinco contas diferentes.

Entre os apostadores, de acordo com a denúncia da PF, estavam Wander Nunes Pinto Júnior (irmão do atacante), Poliana Ester Nunes (prima) e Ludymilla Araújo Lima (cunhada).

Os demais apostadores, ainda segundo a denúncia, têm relação entre eles. Claudinei Vitor Mosquete Bassan é casado com Rafaela Cristina Elias Bassan e irmão de Henrique Mosquete. Max Evangelista Amorim e Andryl Sales Nascimento foram companheiros de time no fut7 do Grêmio. Além deles, Douglas Ribeiro Pina Barcelos é investigado.

Relatório tardio
Em abril, a CBF havia dito à CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas do Senado que, de 15 jogos suspeitos organizados pela entidade em 2023, nenhum deles teve lugar no Campeonato Brasileiro da Série A.

A informação repassada aos senadores estava baseada em um relatório da Sportradar, empresa contratada pela CBF para fazer o monitoramento de apostas suspeitas. Esse relatório apontou suspeita em 109 jogos do futebol brasileiro em 2023, a maioria deles de divisões inferiores de campeonatos estaduais e partidas de categorias de base.

O alerta só veio em relatório da Ibia para a Conmebol, que identificou volume atípico de apostas para que Bruno Henrique tomasse cartão amarelo contra o Santos em duelo realizado em Brasília, no Mané Garrincha.

Nos acréscimos do jogo, Bruno Henrique recebeu um cartão amarelo por falta forte sobre Soteldo, ofendeu o árbitro Rodrigo Klein e levou em seguida o vermelho direto. Como já estava pendurado em cartões amarelos, o flamenguista precisou cumprir suspensão nas duas partidas seguintes, contra Fortaleza e Palmeiras.

O relatório da Ibia foi encaminhado pela CBF à procuradoria do STJD, que arquivou o caso após questionar a Sportradar e a empresa contratada pela CBF informar que, pelo seu levantamento, não havia identificado irregularidades. A empresa disse ainda que faria nova varredura e, encontrando suspeitas, informaria o STJD, o que não aconteceu.

A Polícia Federal, porém, disse na denúncia que a investigação decorre de relatórios da Ibia e da Sportradar.

Em nota, o STJD afirmou que “a Procuradoria constatou que os fatos observados se coadunam com a realidade razoável da prática do futebol” e que o alerta “não apontou nenhum indício de proveito econômico do atleta, uma vez que os eventuais lucros das apostas reportados no alerta seriam ínfimos, quando comparados ao salário mensal do jogador”. Ao tribunal esportivo não cabe investigar se há relação pessoal entre Bruno Henrique e os apostadores.

Como o jogo ocorreu em Brasília, a CBF informou também a PF e o Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT), que nesta terça deflagaram a Operação Spot-fixing. Foram cumpridos 12 mandados de busca e apreensão em endereços ligados a Bruno Henrique no Rio de Janeiro, em Belo Horizonte e em outras cidades mineiras, onde residem seus familiares.

“Os elementos apresentados indicam a possibilidade de prática dos crimes de fraude de resultado de evento esportivo (art. 200 da Lei nº 14.597/2023) e que sugerem ocorrência também de crime de corrupção passiva esportiva (art. 198 da Lei nº 14.597/2023)”, argumentou a PF ao pedir que a Justiça autorizasse a busca a apreensão.

Procurada pela reportagem, a assessoria de Bruno Henrique informou que não vai emitir nenhum pronunciamento.

O Flamengo, em nota, afirmou apoiar o atleta. “O clube ainda não teve acesso aos autos do inquérito, uma vez que o caso corre em segredo de Justiça, mas é importante registrar que, ao mesmo tempo em que apoiará as autoridades, dará total suporte ao atleta Bruno Henrique, que desfruta da nossa confiança e, como qualquer pessoa, goza de presunção de inocência.”

A Sportradar não comentou o caso. A Betano afirmou: “Ao detectar qualquer atividade suspeita, nós a reportamos prontamente às autoridades competentes”. E acrescentou: “Incidentes dessa natureza ressaltam a importância crítica da regulamentação dentro da indústria, destacando a necessidade de uma estrutura nacional para permitir investigação e resolução rápidas”. A Galerabet não comentou, e a reportagem não conseguiu contato com a KTO.

 

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