Com regulamentação, sites de apostas esportivas abrem a carteira e os clubes agradecem
A temporada de futebol no Brasil ainda nem começou, mas os dois clubes mais populares do país já têm o que comemorar. Tanto Flamengo quanto Corinthians estão iniciando 2024 com caixa reforçado depois de terem atraído patrocinadores que toparam pagar mais para serem expostos na parte mais cara das camisas, abaixo do peitoral. Além de os anunciantes estarem ocupando o nobre espaço pela primeira vez, há outra característica que os une: ambos são sites de apostas esportivas, registra reportagem do Pipeline Valor.
A PixBet, que já patrocinava o Flamengo ocupando uma área menor da camisa, perto dos ombros, vai substituir o banco BRB como principal patrocinador depois de ter oferecido R$ 170 milhões por dois anos, bem superior ao contrato anterior com o banco, de R$ 32 milhões por ano. Já o Corinthians acertou o maior contrato da história do futebol brasileiro, de R$ 360 milhões por três anos com a Vaidebet, que vai ficar no lugar da Neo Química, que pagava R$ 27 milhões por ano. O Vasco fechou a negociação com a EstrelaBet para o patrocínio máster da camisa no valor de R$ 45 milhões, em um contrato que pode chegar a R$ 55 milhões anuais. O Vasco pagará R$ 4 milhões para rescindir com a Pixbet, que não patrocinará mais o clube em 2024.
A agressividade dos sites de apostas esportivas não é por acaso. Além de ter virado uma febre entre torcedores, esse mercado acabou de ganhar uma regulamentação, aprovada no Congresso e sancionada no fim do ano passado pelo presidente Lula.
Apesar de a lei ter sido proposta pelo governo para definir uma tributação e estabelecer que os sites precisam desembolsar R$ 30 milhões para ter o direito de operar (em um esforço para gerar mais arrecadação), a regulamentação deixa as empresas mais seguras juridicamente para atuar em um mercado que era proibido até 2018.
“No período predecessor à sanção desta lei, embora o mercado já estivesse aquecido, pairavam dúvidas nas empresas com relação ao futuro da atividade pela falta de uma legislação nacional”, afirma Darwin Henrique da Silva Filho, CEO da Esporte da Sorte, uma das casas que mais têm investido em publicidade, com garotos-propaganda como o cantor Beto Jamaica, o influenciador Carlinhos Maia e o ex-jogador Bebeto.
Além disso, a cobrança de uma taxa de R$ 30 milhões para entrar no mercado tira do jogo as centenas de pequenos sites que não têm esse dinheiro, abrindo uma lacuna que poderá ser preenchida pelas grandes com caixa para investir em marketing.
Nesse ramo, porém, há quem veja com ressalvas os investimentos vultosos em publicidade. O CEO da Galera.bet, Marcos Sabiá, entende que os valores negociados estão se tornando inflados em razão da acirrada competição nesse segmento — há estimativas que apontam mais de mil sites no Brasil.
Ainda que o futebol seja um espaço óbvio para expor uma marca de apostas esportivas, há jogos em que pelo menos seis ou sete empresas aparecem como anunciantes, seja no campo, nas camisas dos clubes ou no intervalo. Para Sabiá, as propostas estão “desconectadas de uma análise mais apurada de retorno sobre o investimento.” No fim de 2022, a Galera.bet deixou de anunciar perto do ombro nas camisas do Corinthians para dar lugar à Pixbet, que saiu com a chegada da Vaidebet.
Trata-se de um cenário, portanto, que cria um desafio para os sites: ser eficiente. “O mercado é concorrido, mas as marcas que souberem de verdade gastar menos fazendo mais terão uma grande vantagem”, diz Renê Salviano, CEO da Heatmap, agência que intermedia contratos de patrocínio em clubes de futebol.