CVM divulga relatório sobre investidores em pirâmides e apostas esportivas

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) divulgou na última sexta-feira (14), o relatório da pesquisa sobre tomada de decisão de investidores em pirâmides e apostas esportivas.
O trabalho foi desenvolvido em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV) no âmbito do convênio firmado entre as instituições, e teve a colaboração e supervisão da Gerência de Educação e Inclusão Financeira (GEIF) da Superintendência de Orientação a Investidores e Finanças Sustentáveis (SOI) da CVM.
O objetivo do estudo foi investigar os efeitos de traços psicológicos, vieses cognitivos e conhecimento financeiro dos agentes envolvidos nestas operações.
Os principais resultados apontaram o papel essencial da educação financeira como fundamento de proteção ao investidor, a influência dos estímulos subconscientes na prática de apostas e a alocação proporcional dos investimentos em esquemas de pirâmide, apostas e aplicações legítimas.
“Este estudo traz dados importantes sobre o comportamento do investidor e a importância da educação financeira como um fator de proteção dos indivíduos contra decisões arriscadas e especulativas”, Paulo Portinho, Gerente de Educação e Inclusão Financeira (GEIF) da CVM.
A publicação conta com a participação dos pesquisadores Matheus Moura, do Instituto Brasileiro de Mercado de Capitais (IBMEC) e da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EBAPE), Ricardo Lopes Cardoso, da Escola Brasileira de Administração Pública e de Empresas da Fundação Getúlio Vargas (FGV-EBAPE), e Rodrigo Leite, do Instituto COPPEAD de Administração da Universidade Federal do Rio de Janeiro (COPPEAD/UFRJ).
Hipóteses de pesquisa
O estudo testou 8 hipóteses de pesquisa relacionadas a mecanismos psicológicos que podem ser compartilhados entre investidores de pirâmides financeiras e participantes de apostas esportivas (bets), tais como:
⇒ participantes expostos a um estímulo para influenciar, de forma subconsciente, seu comportamento em apostar (técnica conhecida como priming) estão mais dispostos a investir em esquemas de pirâmides do que em investimentos regulares.
⇒ participantes com maior conhecimento financeiro estão menos dispostos a investir em esquemas de pirâmides.
⇒ participantes com maior conhecimento financeiro e expostos a um priming de aposta estão menos dispostos a investir em esquemas de pirâmides.
Destaques dos resultados divulgados no relatório
O papel essencial da educação financeira
Possuir conhecimento financeiro básico torna, até mesmo indivíduos mais impulsivos e excessivamente autoconfiantes, menos vulneráveis ao apelo a investir em pirâmides, apostas ou outras oportunidades fraudulentas e especulativas.
O estudo ainda observou que o conhecimento de finanças básicas auxilia na prevenção de vieses cognitivos relacionados aos estímulos de aposta (priming), fazendo com que indivíduos tendam a investir menos em pirâmides quando apresentam alto grau de conhecimento financeiro, mesmo se expostos a estímulos subconscientes de apostas.
A influência dos estímulos subconscientes (priming) de apostas
Indivíduos expostos a estímulos subconscientes (priming) de apostas (propagandas de sites de apostas) apresentam maior tendência a investir em esquemas de pirâmide ou investimentos lícitos. Isso evidencia que, ao serem expostos a um cenário em que uma decisão de aposta é feita, os indivíduos tendem a ser mais receptivos a correr riscos, seja em investimentos lícitos ou ilícitos.
De acordo com os pesquisadores da FGV, esse resultado pode trazer evidências quanto à publicidade de apostas, tendo em vista que a exposição de indivíduos a esse tipo de estímulos pode levar a uma aceitação maior de riscos em investimentos. Além disso, poderia gerar externalidades negativas, como a naturalização de investimentos em esquemas de pirâmide.
Investimentos comparáveis entre esquemas de pirâmide, apostas e aplicações legítimas
O público brasileiro pesquisado não distingue a alocação de recursos em apostas e em esquemas de pirâmide com a alocação de recursos em investimentos tradicionais.
Participação do cidadão
A participação de investidores foi fundamental para a realização do estudo. Entre 2023 e 2024, a CVM convidou cidadãos cadastrados em sua base de Serviço de Atendimento ao Consumidor (SAC) para participarem do experimento. Ao todo, foram recebidas 970 respostas válidas.
Cada participante recebia, de forma aleatória, um estímulo subconsciente (priming) em que ele era levado a pensar em uma aposta ou um investimento regular. Após essa seção, ele era direcionado, de forma indeterminada, para uma de três manipulações (investimento legítimo, aposta ou esquema de pirâmide) e era medido diferentes variáveis, tais como: propensão a investir e proporção do capital próprio direcionado a determinada opção.
Ainda foram exploradas outras literaturas na área de psicologia com o intuito de avaliar indivíduos com excesso de confiança e impulsividade, assim como foi medido o conhecimento sobre finanças de cada indivíduo.
Mais informações
Confira o relatório da pesquisa sobre tomada de decisão de investidores em pirâmides e apostas esportivas.
O relatório é resultado do segundo estudo realizado em parceria com a Fundação Getúlio Vargas (FGV). O primeiro tratou de tomada de decisão de investidores em investimentos irregulares e foi publicado em janeiro de 2024.