Jockey Club Brasileiro inaugura no domingo estátua de Jorge Ricardo
A diretoria do presidente, Raul Lima Neto, decidiu inaugurar, durante o evento turfístico do próximo domingo, a estátua em homenagem ao jóquei recordista mundial, Jorge Antônio Ricardo, nas dependências do hipódromo. Numa solenidade aguardada com enorme expectativa pela legião de fãs do piloto, com maior número de vitórias na história do turfe mundial, 13.272, o prado carioca deverá receber grande público. Uma matéria especial, com Ricardinho, e a exibição dos filmes, com algumas das vitórias mais importantes do piloto, também será exibida durante a reunião. Enfim, uma tarde de gala para os turfistas cariocas.
E lá se vão 46 anos de carreira. Longo tempo se passou desde a estreia daquele adolescente, de cabelo liso, com corte parecido com do personagem, Príncipe Valente, das revistas em quadrinhos. Jorge Antônio Ricardo logo mostrou a sua cara. No dorso de Taim, de propriedade de Israel Poyastro, treinado por seu hoje saudoso pai, Antônio Alfredo Ricardo, um dos maiores jóqueis no regime de freio de todos os tempos, conquistou o primeiro, dos hoje em dia, 13.272 triunfos catalogados. Eram tempos diferentes dos atuais. O turfe era esporte prestigiado na mídia. E todos os jornais do Rio de Janeiro traziam a notícia da estreia do filho do A. Ricardo, dos programas oficiais. E os aficionados comentam ansiosos, entre si. “Vai estrear o Ricardinho, filho do Antônio Ricardo”. “Será que ele será tão bom feito o pai?”, se perguntavam. “Dizem que é muito jeitoso”, falavam outros. “Mas nunca será tão bom como o A. Ricardo. Ele endurece nas retas com o Rigoni. E dá calor nos melhores chilenos”, especulavam.
O tempo passou. E, se encarregou de responder aquelas perguntas. Antônio Ricardo era um craque. Mas não tinha vida regrada e passava boa parte do seu tempo à noite, nas mesas de carteado. Entretanto, se preocupou, de preparar muito bem o menino na raia, já que ele, orgulhoso da fama do pai, como quase todo filho, queria seguir o mesmo rumo na profissão. No aprendizado absorveu a técnica, os segredos de raia, a ousadia e a coragem para estar a mais de 60km, por hora, no dorso dos puros-sangues de corrida. No meio turfístico logo ganhou respeito, devido a disciplina absurda, o cumprimento dos horários, o cuidado impecável com a forma física e, a fome imprescindível de ganhar carreiras. Antônio Ricardo havia criado um monstro. E, aquele menino franzido adquiriu força física e preparo, que o transformaram no apelido que carrega durante toda a vida profissional. “A Máquina de Vitórias”.
O currículo de Ricardinho fala por si, diante das críticas que recebeu, em sua trajetória, por aqueles que tinham preferência por outros bons jóqueis, e torciam contra ele. Em primeiro lugar, a sua longevidade. Nenhum colega de profissão, da sua geração, continua na raia para competir. Todos se aposentaram. Além disso, obteve o recorde mundial de vitórias, num período em que derrotou um linfoma. Hoje possui mais páreos ganhos, do que qualquer piloto do planeta Terra. É recordista sul-americano de vitórias, 477 pontos, numa mesma temporada. Recordista semanal de vitórias na Gávea, 16. Recordista de vitórias numa mesma reunião, 7. Recordista de estatísticas conquistadas no turfe carioca, 24 anos consecutivos. Quatro estatísticas na Argentina, em 2007, 2008, 2011 e 2012. Ganhou o Latino-americano, cinco vezes, o GP Carlos Pellegrini, três vezes, o GP Brasil 2, o GP São Paulo, 2, e o Derby, GP Cruzeiro do Sul, em 7 oportunidades.
Por estas e outras, o Jockey Club Brasileiro vai inaugurar uma estátua para ele, em suas dependências no próximo domingo. Uma linda homenagem. No sábado, dia 30 de setembro, Jorge Ricardo completará 62 anos. Muito tempo em profissão tão arriscada. Difícil de entender, para a maioria, por que ele teima em não parar. Uma frase simples, dita por ele, na intimidade da nossa amizade, me fez absorver a sua razão de viver flertando com o perigo de profissão tão arriscada. “Eu gosto das coisas boas da vida igual a todo mundo. Uma boa comida, uma viagem de férias para sair da rotina, estar com a minha família, etc e tal. Mas, nada desta vida me proporciona a euforia e o prazer de montar um cavalo de corrida e ganhar o páreo”.
No dia 1º de outubro, domingo, em que receberá a homenagem do Jockey Club Brasileiro, com a inauguração da estátua, Ricardinho só sentirá esta satisfação pessoal de montar, uma única vez. No dorso de Playa Los Ingleses, do Stud Best Friends, no GP João José e José Carlos de Figueiredo. No dia seguinte, dia 2, também. Só a montaria de Memories, do Stud Instante Mágico, outro proprietário, que sempre prestigia Jorge Ricardo. E, na terça-feira, nenhuma montaria sequer. Ricardinho é vítima do preconceito da idade, tão comum ao povo brasileiro. Paciência. “Jorge Ricardo e os cavalos de corrida, um galope inseparável rumo a eternidade”. (Raia Leve)