Silas Malafaia usa ‘terrorismo religioso’ contra senadores que apoiam a legalização dos jogos
Como se diz na política, não existe compromisso com o erro do seu adversário e o líder da oposição a legalização dos jogos no Senado, senador Eduardo Girão (Novo-CE) cometeu um grande equívoco ao escalar o pastor Silas Malafaia para participar do lobby para manter o jogo físico na ilegalidade durante a Sessão de Debates Temáticos para discutir o projeto de lei que legaliza jogos e apostas no Brasil.
A participação do líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo carimbou definitivamente a tese que a manutenção dos jogos na ilegalidade é religiosa. Além dos opositores citarem em várias oportunidades durante a sessão a nota contrária a legalização da CNBB, Malafaia apelou para o espírito cristão e o temor a Deus para pedir aos senadores para não votarem na proposta: “a questão é o seguinte – eu quero apelar aos senhores senadores que têm um mínimo de espírito cristão e um mínimo de temor a Deus -: digam ‘não’ à jogatina, porque ela destrói o ser humano e corrói a própria economia”, defendeu o pastor como se no país não tivesse uma forte operação de jogos não regulados.
Para quem acreditou que a indicação de Silas Malafaia seria a ‘bala de prata’ contra a aprovação do projeto no Senado, a participação do pastor através e teleconferência foi histriônica e grotesca já que repetiu praticamente os mesmos argumentos surrados e desatualizados do líder da bancada antijogo, senador Eduardo Girão, além de criticar a legalização e regulamentação das apostas online e o governo pela tributação do setor de jogos, apostas e loterias.
“Lamento dizer que, neste governo que está aí, ávido por arrecadar, não estão nem aí para pobre, não estão nem aí para famílias, não estão nem aí para idosos! O negócio é arrecadar, com avidez para cobrir o rombo da falta de controle nas contas públicas! É isso que eles querem, porque, se este governo tivesse compromisso com as pessoas, ele estava recomendando à sua bancada para dizer ‘não’ para jogatina! Para este governo que está aí, que se danem famílias, que se danem idosos, que se dane pobre, que já está jogando rios de dinheiro nos jogos online e que agora vai somar esse lixo!”, criticou.
Ao final da participação, Malafaia ameaçou denunciar os senadores durante a reeleição dos parlamentares que votarem a favor do PL 2234/22, que legaliza cassino, bingo e o jogo do bicho.
“E eu termino dizendo uma coisa: senhores senadores, os senhores têm o direito de votar a favor disso, e nós, sociedade, temos o direito, na sua reeleição no seu estado, de denunciar que você pactuou com essa desgraça social, que vai também trazer desemprego na cadeia produtiva da nossa nação! Nós temos o direito de denunciar isso diante da sociedade, no período da sua reeleição. Essa é a verdade”, finalizou.
Os senadores favoráveis ao jogo legal podem ficar tranquilos com o ‘terrorismo religioso’ porque o pastor Silas Malafaia – que acredita mais em Jair Bolsonaro do que em Deus –, não tem todo este poder político que ele acredita que possui. Um exemplo é a votação do deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ) – pastor licenciado da Assembleia de Deus Vitória em Cristo e também opositor da legalização dos jogos no Congresso –, que contou com o apoio do líder religioso nas eleições de 2018 para a Câmara e teve 94.203 votos e em 2022 a votação desidratou em 31% com 65.443 votos. Imagina o resultado nas próximas eleições depois da reação forte da sociedade ao projeto “antiaborto por estupro” de autoria do deputado Sóstenes?
O discurso tendencioso, preconceituoso e mentiroso contra a legalização do jogo, como defendido pela Dona Santinha há 78 anos atrás, através dos argumentos ‘tradição moral, religiosa e de bons costumes’ foi ampliado, incorporado e reforçado por uma parte dos protestantes neopentecostais para evitar a aprovação da proposta pelo Congresso Nacional.
Torcemos que o resultado da votação do PL 2234/22 no Plenário tenha o mesmo desfecho da CCJ do Senado, quando o pastor Silas Malafaia, acompanhado dos senadores Eduardo Girão, Magno Malta e do deputado Sóstenes Cavalcante, ficaram incrédulos com a aprovação da proposta pelo colegiado.