YouTube promove lives falsas com jogo do tigrinho para público infantojuvenil

Apostas I 30.11.24

Por: Magno José

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YouTube promove lives falsas com jogo do tigrinho para público infantojuvenil
Nas últimas duas semanas, a Folha de S.Paulo observou uma média de cerca de 20 lives concomitantes, que tinham até 340 mil espectadores simultâneos; Youtube não respondeu

O YouTube tem promovido falsas lives em que streamers dizem receber valores consideráveis com “bugs” (falhas) encontrados em plataformas novas de apostas no jogo online do Fortune Tiger, conhecido como tigrinho. Os mesmos vídeos são republicados continuamente em canais voltados ao público infantojuvenil, registra reportagem da Folha de S.Paulo.

Nas últimas duas semanas, a Folha observou uma média de cerca de 20 lives concomitantes, que tinham até 340 mil espectadores simultâneos. Isso apesar da liminar concedida pelo STF (Supremo Tribunal Federal) que determina a suspensão de qualquer publicidade de jogos de apostas online para crianças e adolescentes.

Procurado pela Folha, o YouTube não respondeu e manteve no ar os canais indicados pela reportagem. A plataforma tem recomendado as lives nas abas “ao vivo” e “jogos”, ainda que as transmissões sejam gravadas e não envolvam jogos eletrônicos, mas de azar.

O mesmo movimento identificado pela reportagem gerou denúncia do Ministério do Esporte ao da Justiça, destacando “uma rede de mais de 53 contas e 25 canais que incentivam apostas com promessas enganosas de lucro fácil”, sem citar o uso de canais voltados a adolescentes.

O Ministério da Justiça disse à Folha que “as denúncias devem ser feitas diretamente no Ministério Público, como acontece com a publicidade inadequada de cervejas e cigarros, por exemplo.”

Já o Ministério da Fazenda disse que os casos citados pela reportagem foram encaminhados à fiscalização e que discute com o YouTube um acordo de cooperação técnica para agilizar o processo de bloqueio de conteúdos ilegais.

Apesar de as transmissões terem sempre um relógio no fuso de Brasília, elas são antigas. Na segunda-feira (18), um mesmo canal, RenanPK, exibia duas lives com o mesmo streamer, que reuniam 76 mil espectadores simultâneos.

Na semana passada, a Folha acessou, ao mesmo tempo, sete lives com um mesmo streamer se filmando supostamente ganhando dinheiro com o tigrinho.

Em cada uma delas, o apresentador, que não revela seu nome, vestia uma roupa diferente. O YouTube não respondeu como é possível uma mesma pessoa estar em sete transmissões diferentes que supostamente são ao vivo.

As publicações estão em canais voltados ao público infantojuvenil como o SrPedro, que tem quase 3 milhões de seguidores e publica vídeos diários distribuindo “moedinhas” de um jogo eletrônico entre os seguidores, sempre representados, nas capas dos vídeos, como crianças. Ele não respondeu tentativa de contato da Folha.

Na sexta (29), 38 mil pessoas assistiam a uma live ensinando a ganhar dinheiro no tigrinho em que o apresentador repetidamente insistia para que o espectador se apressasse para aproveitar a falha.

A maior parte dos canais é feita por adultos, mas com vídeos infantilizados, como de animações de dinossauros, ou de humor voltado a adolescentes. É o caso de Vinicius Leme, 23, que produz vídeos em lojas de brinquedos. Ele alegou à reportagem que foi procurado por uma empresa e aluga seu canal para ela transmitir as lives.

À Folha Eduardo Nepomuceno, coordenador de Política de Classificação Indicativa do Ministério da Justiça explicou que a legislação atual não permite a definição de uma classificação indicativa por canal do YouTube, apenas do aplicativo da plataforma, não recomendado para menores de 14 anos.

“Eu suponho que qualquer ação para coibir isso dependa do Ministério Público e do Judiciário”, disse.

As transmissões seguem um padrão, com o relógio do ao vivo, a reprodução no centro do vídeo do jogo do tigrinho, e um streamer mostrando comprovantes de depósitos em seu celular, que ele diz serem seguidos saques de seus lucros no jogo.

Em comum, também, o discurso de que os ganhos são frutos de um bug em uma plataforma nova criada naquele dia, que nunca é citada nominalmente. O espectador é direcionado para um link, postado em exaustão nos comentários ao vivo, que leva a um vídeo curto do influenciador.

Nele, o streamer diz que o link final está fixado nos comentários daquele vídeo, e que, ainda que o depósito mínimo seja de R$ 30, “quanto mais você depositar, mais vai ganhar”.

A partir de lives visitadas ao longo da semana passada, a reportagem da Folha foi levada majoritariamente à Lotogreen e à Goldebet, ambas marcas da Sabiá Administração LTDA. Esses links carregam códigos de identificação de afiliados, como são chamados os parceiros das bets que recebem porcentagem pela recomendação de novos clientes. A empresa não respondeu as tentativas de contato por email informado nas plataformas.

A reportagem questionou a empresa por meio do canal apontado como contato, mas não obteve retorno.

Os sites estão na lista de empresas em processo de certificação no Ministério da Fazenda. As lives, porém, também direcionaram a reportagem para outros sites, como o Donald.bet (do Gorillas Group, autorizado pela Fazenda) e o Divinabet, tido como irregular pelo Ministério da Fazenda, além de links bloqueados pelo sistema de proteção antivírus.

Segundo o Ministério do Esporte, os sites divulgados recebem o dinheiro dos apostadores, mas não pagam os prêmios prometidos. “Em seguida, desativam os sites e desaparecem com o dinheiro investido pela população.”

Nota da Sabiá Administração:

Infelizmente, identificamos que alguns afiliados estão aproveitando a incerteza quanto à continuidade de suas operações para tentar obter vantagem sobre os jogadores. Assim que tomamos conhecimento desses atos, imediatamente os notificamos para cessar tais práticas e estamos adotando as medidas legais cabíveis. Ressaltamos que o compromisso de nossa empresa é operar em total conformidade com as disposições legais vigentes.

 

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