Apostas online não aumentaram endividamento dos brasileiros, indica estudo encomendado por bets

Apostas I 27.10.24

Por: Magno José

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Simulação do impacto da tributação sobre os rendimentos dos jogadores nas apostas esportivas
Um estudo da LCA Consultoria Econômica em parceria com Instituto Brasileiro Jogo Responsável – IBJR sustenta que o tamanho do mercado das bets e seu impacto sobre o orçamento dos brasileiros são inferiores ao estimado em outros levantamentos divulgados recentemente, como uma análise do Banco Central

Um estudo elaborado pela LCA Consultoria Econômica em parceria com uma organização [Instituto Brasileiro Jogo Responsável – IBJR] que reúne empresas de apostas esportivas sustenta que o tamanho do mercado das bets e seu impacto sobre o orçamento dos brasileiros são inferiores ao estimado em outros levantamentos divulgados recentemente, como uma análise do Banco Central que projetou repasses de pelo menos R$ 216 bilhões ao ano às plataformas, registra reportagem do Zero Hora.

O levantamento da LCA (LCA_IBJR_Sumario_Executivo_20241002) estima que, se forem descontados os valores devolvidos como premiação, o gasto líquido anual com os jogos virtuais ficaria na verdade em cerca de R$ 16,3 bilhões. O trabalho sustenta que essa despesa não tem provocado um aumento no endividamento geral dos brasileiros, e representa no máximo 0,5% do consumo total das famílias no país hoje.

Nas últimas semanas, uma análise técnica de três páginas divulgada pelo BC ganhou repercussão ao apontar a dimensão bilionária das bets. Esse material deu destaque às transferências feitas via pix por 24 milhões de apostadores às plataformas, em valores que oscilaram de R$ 18 bilhões a R$ 21 bilhões ao mês entre janeiro e agosto. Já o estudo contratado pelo Instituto Brasileiro de Jogo Responsável (IBJR, que reúne algumas das principais empresas de jogo online do país), argumenta que não se pode dimensionar o tamanho desse mercado apenas contabilizando os depósitos feitos pelos apostadores.

— Não é que o Banco Central erre a conta. Eles mesmo estimam que 15% do valor é efetivamente retido pelas casas de aposta. O que não fazem claramente é dizer que, se só 15% são retidos, pelo menos 85% voltam para os apostadores. Esse mercado é grande, mas não é um monstro — sustenta o diretor da LCA Eric Brasil.

O levantamento financiado pelo IBJR sustenta ainda que o percentual das transferências que fica com as plataformas seria, na realidade, inferior ao estimado pelo Banco Central: seria de aproximadamente 7%, o que resultaria na receita anual de R$ 16,3 bilhões calculada pela LCA ao aplicar esse índice sobre todos os depósitos feitos ao longo de um ano (veja detalhes da conta no gráfico). Pelo indicador do BC, a receita ficaria em cerca de R$ 35 bilhões.

Polêmica envolve uso do Bolsa Família

Somente em agosto, beneficiários do Bolsa Família desembolsaram R$ 3 bilhões para arriscar a sorte online, conforme o relatório do BC.

— Não queremos dizer que a discussão sobre o uso do Bolsa Família não seja legítima. Mas ela precisa ocorrer com base em dados reais. Se forem descontadas as premiações, o gasto líquido em agosto ficaria em R$ 450 milhões, o que corresponderia a 3% do valor do programa, e não em R$ 3 bilhões — observa Brasil.

Procurado por Zero Hora, o Banco Central comunicou que não se manifestaria. A Federação Brasileira de Bancos (Febraban) informou não dispor de análise própria sobre o impacto das apostas. Em nota, acrescentou que propõe “a criação de um grupo de trabalho multissetorial para aprofundar os estudos e avaliações sobre os impactos da atividade das bets no Brasil, ter um diagnóstico preciso da situação e avaliar o impacto das apostas virtuais sobre a renda das famílias.”

Divergências no impacto sobre orçamento

Outro foco do estudo da consultoria LCA é avaliar o impacto sobre o endividamento e o consumo dos brasileiros. Na avaliação da empresa, a receita anual das bets corresponde a uma proporção de 0,2% a 0,5% do total de consumo das famílias — o percentual varia conforme as estimativas de diferentes fontes utilizadas como referência pela LCA, seja o estudo do Banco Central ou de outras instituições financeiras. Em relação ao PIB, a participação do setor de apostas responderia por uma fatia de 0,1% a 0,3% da riqueza nacional.

Outro indicador citado no estudo é o percentual de famílias endividadas calculado pela Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC). Nos últimos 12 meses, a proporção de pessoas com dívida, em inadimplência ou sem condições de pagar os compromissos vêm oscilando em um mesmo patamar (veja detalhes no quadro).

— O mercado é grande, mas não a ponto de dizer que temos um problema sistêmico e as famílias estão ficando endividadas de maneira generalizada, ou que o comércio varejista está deixando de crescer por conta das apostas — complementa Eric Brasil.

Outro estudo da CNC, porém, diz que o dinheiro captado pelas plataformas de aposta, ao deixar de ser empregado em outros setores como o comércio, reduziu a previsão de crescimento do varejo de 2,2% para 2,1% neste ano no Brasil. Embora os patamares globais de pessoas endividadas ou com dívida em atraso se mantenha estável desde o ano passado, indica ainda que 1,3 milhão de brasileiros teriam entrado em situação de inadimplência no primeiro semestre principalmente por conta das apostas.

— Esse 1,3 milhão foi distribuído ao longo do ano, e temos um movimento de entrada e saída de inadimplentes (o que pode amenizar variações na média geral) — explicou o economista-chefe da CNC, Felipe Tavares, em entrevista à Rádio Gaúcha na quinta-feira (17).

 

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