CPI das Bets: brigas, convocações e suspeita de extorsão marcam 1º mês

Apostas I 17.12.24

Por: Magno José

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CPI das Bets será instalada logo após as eleições municipais
Os desentendimentos e denúncias colocam em dúvida os rumos da CPI das Bets. Apesar de o prazo final para conclusão estar previsto para maio de 2025, há quem acredite que os trabalhos possam ser encerrados antes do esperado

A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Bets, criada no Senado para investigar irregularidades nas apostas online, incluindo o impacto financeiro nas famílias e possíveis vínculos com organizações criminosas, completou um mês em meio a um clima de tensão. O período foi marcado por desentendimentos entre senadores, troca de acusações, denúncias de extorsão envolvendo empresários convocados e conflitos sobre mudanças na tramitação de requerimentos, registra nota do Matheus Leitão na VEJA.

Uma das acusações mais graves foi divulgada no dia 13 de dezembro, em reportagem da revista VEJA. Assinada pelo jornalista Ricardo Chapola, a matéria aponta que o lobista Silvio de Assis teria pedido R$ 40 milhões a um empresário para evitar a convocação à CPI. Silvio, que já foi preso pela Polícia Federal em 2018 por corrupção, negou as acusações e alegou estar acompanhando a comissão para produzir um documentário sobre o setor de apostas.

A denúncia gerou repercussão no colegiado. Durante uma sessão no início deste mês, durante depoimento do CEO da Bet Nacional, João Studart, a relatora da CPI, senadora Soraya Thronicke (Podemos-MS), e o senador Ciro Nogueira (PP-PI), suplente na comissão, protagonizaram um intenso bate-boca. A discussão começou após Soraya sugerir convocar representantes do governo Bolsonaro para explicar a ausência de regulamentação das apostas online. Após acusações de ambos os lados, segundo a VEJA, Ciro denunciou ao presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), o suposto esquema de extorsão envolvendo Silvio de Assis.

Soraya disse conhecer o lobista, mas negou envolvimento em qualquer esquema ilícito. A senadora ainda mencionou ter recebido informações sobre outra denúncia, na qual um senador teria pedido R$ 100 milhões a um empresário convocado pela CPI, mas não revelou nomes. A Polícia Federal estaria investigando as denúncias.

Outro ponto de disputa entre os senadores trata de alterações nos requerimentos da comissão. Na última semana, sem apresentar justificativas aos colegas, a relatora transformou requerimentos de convite, que permitem aos convocados optar por não comparecer, em convocações obrigatórias. A prática vai contra a tradição em CPIs, onde é comum converter requerimentos de convocação em convite antes de submetê-los à votação. A convocação é tradicionalmente feita após o depoente se negar a comparecer.

Os membros da comissão também criticam a escolha da comissão de iniciar os trabalhos com depoimentos, sem solicitação prévia de informações a instituições e empresas relacionadas.

O novo embate entre os senadores deve ocorrer na próxima terça-feira, 17, quando a CPI vai votar novos requerimentos. Entre os nomes que Soraya pretende convocar estão o do presidente da Confederação Brasileira de Futebol (CBF), Ednaldo Rodrigues, e o do diretor de integridade da entidade, Eduardo Gussem. A presença dos dois é questionada pelos senadores, já que o tema de manipulação de resultados esportivos, embora relacionado, é tratado por outra comissão no Senado, a CPI da Manipulação de Jogos e Apostas Esportivas, presidida por Jorge Kajuru (PSB-GO) e com previsão de votação do relatório final em fevereiro do próximo ano.

Os desentendimentos e denúncias colocam em dúvida os rumos da CPI das Bets. Apesar de o prazo final para conclusão estar previsto para maio de 2025, há quem acredite que os trabalhos possam ser encerrados antes do esperado.

Confira a nota de esclarecimento da senadora Soraya Thronicke na íntegra:

“Em relação às acusações envolvendo supostas extorsões e pagamento de propina nos bastidores da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Bets, a senadora Soraya Thronicke esclarece que tem recebido denúncias graves e preocupantes sobre o possível envolvimento de parlamentares e seus familiares em esquemas ilícitos, incluindo a realização de lobby para empresários donos de sites de apostas ilegais e influenciadores, com o objetivo de evitar convocações para comparecimento à CPI.

A senadora também afirma que tem sido alvo de ameaças e tentativas de intimidação por parte de alguns colegas senadores. Além disso, existem fortes indícios de que o genro de um senador seja proprietário de uma plataforma especializada em jogos on-line e com sede em um país considerado paraíso fiscal. Há ainda suspeitas de seu envolvimento nos crimes que estão sendo investigados no âmbito da CPI.

Diante dessas situações, a senadora encaminhou as denúncias ao Diretor-Geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues. Além de formalizar a denúncia à PF, ela pretende processar criminalmente o senador por denunciação caluniosa, calúnia e difamação, além de reparação na esfera cível, em razão da ofensa à sua honra. A senadora também já colocou à disposição a quebra de seus sigilos bancários, fiscais, telemáticos e qualquer outra informação que a Polícia Federal julgar relevante para as investigações.

A senadora Soraya Thronicke entende que os ataques à sua reputação refletem o desespero de alguns parlamentares, especialmente por ela exercer o papel de relatora da CPI e atuar de forma combativa, com integridade, seriedade e honra — princípios que têm norteado seus seis anos de mandato no Senado Federal.

Quanto a outras denúncias, a senadora esclarece que não tem conhecimento a respeito e reforça que os responsáveis por tais acusações devem apresentar explicações diretamente à Polícia Federal.”

 

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