Largar o jogo é mais difícil do que o cigarro.

Jogo Responsável I 06.09.05

Por: sync

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"No começo, era só adrenalina e vontade de ganhar dinheiro. Depois, era adrenalina e vontade de recuperar o dinheiro. Aí, você se afunda mais e mais." Tiago, nome fictício, de 30 anos, descreve as sensações de quem pulou de jogador ocasional para compulsivo. Recém-separado, ele buscou satisfação em casas de bingo, primeiro na hora do almoço, depois por dias seguidos, até gastar mais dinheiro do que ganhava. Foram cinco anos de vício e muitas dívidas. Tão ruim quanto a compulsão foi o caminho da saída. "Era muita agonia, depressão. Por um lado, sentia a felicidade de não jogar todo dia. Por outro, era um baque." Esse baque, ou fissura, a vontade incontrolável de voltar para o jogo a qualquer preço – muitas vezes, o custo é a própria vida do viciado -, foi medido pelo pesquisador brasileiro Hermano Tavares. O resultado assusta. A aflição do jogador compulsivo é maior do que a do alcoólatra, apesar de este vício ser químico e aquele não. Para Tavares, é evidência do pouco que se sabe sobre a doença e um alerta de que médicos, parentes e governo precisam estar atentos. "Vamos levar a sério o problema do jogo. É uma dependência não química, então algumas estratégias usadas para tratar o vício pelo álcool podem ser usadas para tratar jogadores – mas não todas", diz o médico, coordenador do Ambulatório do Jogo Compulsivo (Amjo) no Hospital das Clínicas de São Paulo. Pós-doutorado O estudo foi realizado no Canadá, na Universidade de Calgary, como parte do pós-doutorado obtido por Tavares. Ele comparou o nível de fissura de dois grupos medidos por um questionário padrão. De 90 pontos (que significa uma recaída), alcoólatras marcaram em média 35 e jogadores, 49, nos primeiros 20 dias de terapia. Os resultados foram publicados em agosto na revista especializada "Alcoholism: Clinical & Experimental Research". Uma das explicações para a diferença parece estar no perfil de personalidade do viciado, uma vez que os dois tipos não têm a mesma raiz e são, aparentemente, regidos por sistemas mentais separados. Quem busca o álcool tem uma propensão a emoções negativas, como angústia e culpa, enquanto o compulsivo por jogo busca emoções positivas, como estímulos, prazer e necessidade de se sentir superior, além de compensar a depressão. (Cristina Amorim – AE/São Paulo)

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