O lobby das TVs pelas bets
As emissoras de rádio e TV (e times de futebol) estão fazendo um lobby danado para manter a publicidade bilionária das bets. O pessoal andou fazendo até um “acordo de cavalheiros” com o Fernando Haddad, que por sua vez se esqueceu de fazer um acordo com a Gleisi Hoffman. Mas isso é intriga, e eu prometi fofocas. Lembram, ou não? Voltem à primeira edição.
Na coluna de hoje tem ainda: o duelo entre a Globo e o YouTube, a Loft lançando sua primeira campanha para o B2B, uma martech que inventou uma tecnologia que permite à TV aberta medir audiência como se fosse uma mídia digital, e o suspiro de alívio da Mediabrands no Brasil com a Unilever.
Ah!! Parece que tem uma piada infame de um time aí que não tem mundial, mas não tenho nada a ver com isso. Prontos?
Bets “do bem”
As bets estão despejando um dinheiro furioso, épico na publicidade, e por isso as emissoras de rádio e TV estão empenhadas em derrubar a ideia do governo de proibir a propaganda das casas de apostas online.
Juntas, as bets já estão entre os maiores anunciantes do País. Nos primeiros sete meses do ano, já gastaram mais em publicidade do que em 2023 inteiro. Entre janeiro e julho foram R$ 1,35 bilhão contra R$ 1,31 bilhão do ano passado, de acordo com dados da Kantar, Monitor e Ad Insight.
Para se ter uma base de comparação, o maior anunciante do Brasil em 2023 foi o grupo farmacêutico Genomma Lab, com uma verba de R$ 1,5 bilhão segundo o Meio e Mensagem.
Haddad é um cavalheiro
Na terça-feira, o ministro Fernando Haddad fez um “acordo de cavalheiros” com a Abert, a representante das emissoras de rádio e televisão, numa reunião que também reuniu o Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária). Ficou acertado que as emissoras a partir de agora só vão aceitar propaganda de empresas que estiverem na lista de bets aprovadas pelo governo – e que seguirão as regras do Conar. Basicamente, o Conar exige que a propaganda informe que apostas “não são investimento,” apenas divertimento, e que é preciso “jogar com responsabilidade.” Ufa. Agora vai.
Combinou com a Gleisi?
As más línguas já dizem que Haddad contratou uma nova crise com Gleisi Hoffmann. A presidente do PT apresentou na semana passada um projeto de lei para proibir a publicidade das bets. Antes da reunião com a Abert e o Conar, Haddad chegou a dizer que era urgente restringir a publicidade de bets na TV para acabar com o assédio televisivo.
Durante a reunião, no entanto, o ministro estava no modo “estou aqui para entender”. E parece que entendeu. Por enquanto, as TVs convenceram o ministro de que só aceitam anúncios de empresas com compliance, e que muitas têm até capital aberto em outros países. O problema real seriam os influencers e as bets que querem lavar dinheiro. Como se vê, tudo resolvido.
Até o Palmeiras vai ter um mundial
O lobby não é só das emissoras de TV, mas também dos clubes de futebol que já receberam mais de meio bilhão de reais em patrocínio. As bets patrocinam 18 das 20 equipes do Campeonato Brasileiro, segundo agências que cuidam delas. 18 de 20! Só! (By the way, alguém consegue distinguir qual bet patrocina qual time?)
Até a maravilhosa Leila Pereira, que vinha resistindo em entregar a camisa principal do Palmeiras para as bets, capitulou. O clube está com uma concorrência em aberto para o patrocínio da camisa, e a SportingBet é a favorita. A SportingBet é britânica. Parece que o Palmeiras, enfim, vai ter um mundial. Um patrocinador mundial. (Sorry, Leila!)