Pesquisa Radar Febraban: maioria dos brasileiros quer regulação forte das BETS

Apostas I 19.12.24

Por: Magno José

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Oito em cada dez brasileiros desconfiam de bets e querem regulação do governo, diz pesquisa
Levantamento encomendado por Febraban e CNF mostra que a maior parte da população brasileira (59%) quer uma regulação e uma atuação firme do Governo frente à corrida de sites de apostas que se espalharam rapidamente pelo Brasil

A maioria dos brasileiros quer regulação nos sites de apostas online, conhecidos como bets, de acordo com a pesquisa encomendada pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos) e pela CNF (Confederação Nacional das Instituições Financeiras), registra reportagem da Folha de S.Paulo.

O resultado da pesquisa Radar Febraban Especial, antecipada à Folha, aponta que a maior parte da população (59%) quer que o governo federal faça uma intervenção forte na regulamentação e fiscalização das bets. Outros 19% dos entrevistados defendem uma intervenção moderada.

O brasileiro joga, mas a confiança nos sites de apostas é baixa. Apenas 12% dos entrevistados responderam que confiam ou confiam muito. A ampla maioria (84%) diz não confiar ou confiar um pouco nas bets.

Para a pesquisa, o Ipespe (Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas) ouviu 2.000 adultos de todas as regiões do país por meio de entrevistas telefônicas e complemento online. O levantamento, realizado entre os dias 15 e 23 de outubro, tem margem de erro de 2,2 pontos percentuais para mais ou para menos, com um intervalo de confiança de 95,45%.

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Mais da metade dos entrevistados (57%) faz uma avaliação negativa dos sites de apostas no Brasil, considerando as plataformas ruins ou péssimas, enquanto 17% consideram ótimos e bons.

Numa escala de 0 a 10, 42% deram nota de no máximo 3, e 4% avaliaram as apostas online com nota 7 ou superior.

A pesquisa aponta que 40% dos entrevistados declararam que jogam ou têm alguém em casa que aposta nas bets. Outros 21% afirmam terem deixado de jogar. Entre as pessoas que admitem apostar, 45% afirmam que tiveram sua qualidade de vida ou da família afetada.

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Entre os que jogam, 24% afirmam que apostam todos os dias; 18% uma vez por semana; 21% duas ou três vezes e 12% entre quatro e seis vezes por semana.

Entre os que jogam, 52% indicam ter um gasto mensal entre R$ 30 a R$ 500. Para 56% daqueles que apostam, o dinheiro gasto faz falta no orçamento mensal, e 53% temem perder o dinheiro e se endividar.

Os números mostraram que, para 41% dos entrevistados, o dinheiro separado para as apostas teve impacto em outros compromissos financeiros, como a compra de comida (37%) e pagamento de contas (36%).

O ganho com as apostas é limitado. A pesquisa aponta que 52% admitem que perdem mais do que ganham (44%) ou perdem (8%).

A oferta de bets é liberada no Brasil desde o fim de 2018, mas desde então segue sem regras e fiscalização. No ano passado, o processo de regulamentação foi iniciado pelo governo Lula.

Apenas sites que protocolaram pedido no Ministério da Justiça para atuar de forma legal podem funcionar atualmente no país. Mas a virada para o mercado totalmente legalizado e regulado tem início em janeiro de 2025.

A divulgação da pesquisa pela Febraban acontece no momento em que uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) do Senado Federal investiga a atuação das Bets no Brasil.

Nos últimos meses, a Febraban tem manifestado preocupação com as apostas online e o impacto na economia, sobretudo, no mercado de crédito e inadimplência. Após o Banco Central divulgar um estudo sobre as apostas, o presidente da entidade, Isaac Sidney, previu uma catástrofe com uma bolha de inadimplência se formando com a explosão das apostas esportivas no Brasil.

No estudo, o BC mostrou que beneficiários do Bolsa Família que fazem apostas esportivas online gastaram R$ 3 bilhões via Pix no mês de agosto —a instituição não detalhou a metodologia do levantamento e admitiu que pode haver falhas, como a Folha mostrou.

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A divulgação do estudo do BC amplificou o debate sobre o impacto das bets no Brasil num cenário de aumento das plataformas de apostas no Brasil.

“A pesquisa abre uma enorme lanterna sobre um problema que pode ser diminuído. É um ponto de partida fundamental para a discussão e o enfrentamento do problema, antes que haja um impacto ainda maior no endividamento e na desagregação das famílias”, diz Marcelo Garcia, especialista em Gestão de Políticas Sociais e consultor da CNF.

Segundo ele, os dados permitem um aprofundamento do debate sobre o tema pelo governo e a sociedade para a implementação de uma estratégia de prevenção e limitação dentro de uma política de regulamentação que combata o vício.

Os resultados mostram que 56% dos entrevistados afirmam que o dinheiro gasto em apostas online faz falta no final do mês. Entre as famílias de renda mais baixa, o índice é ainda maior, indicando uma vulnerabilidade econômica mais intensa.

Simulações da Febraban apontam que a inadimplência entre os beneficiários do programa pode crescer até 14% devido às apostas eletrônicas. No cenário geral, a inadimplência bancária poderia subir até 27,1%, gerando um impacto no sistema financeiro nacional.

Veja outros resultados:

⇒ Mais da metade dos entrevistados (57%) fazem uma avaliação negativa dos sites de apostas no Brasil, considerando-os “ruins ou péssimos”. Enquanto menos de um quinto (17%) consideram “ótimos e bons”. Nos extremos da avaliação (escala 0 a 10), 42% deram nota zero para os sites e 4% deram nota 10. O apostador, em grande maioria, joga com receio e desconfiança.

Para 83% dos ouvidos, as Bets são inseguras ou muito inseguras “com riscos que podem fugir do controle e gerar prejuízos” (45%) “com consequências graves na vida das pessoas e suas famílias” (38%).

⇒ 59% são contra os jogos on-line. Entre os entrevistados 66% não joga e 53% dizem que não tem ninguém em sua casa que joga.

⇒ O Futebol domina com 60% as apostas. Depois desse item, os outros meios de apostas são diluídos.

⇒ 40% dizem que familiares ou pessoas próximas fizeram dívidas por conta das apostas e destes 45% tiveram sua qualidade de vida ou da família afetada em função dessas dívidas.

Entre os que jogam, 24% dizem que o faz todos os dias, 18% dizem que fazem uma vez por semana, 21% jogam de 2 a 3 vezes por semana e 12% entre 4 e 6 vezes por semana.

⇒ O gasto mensal entre 52% dos que jogam varia de R$ 30 a R$ 500. 14% dizem que gastam até R$ 30, 00 por mês.

⇒ Para os que apostam, 56% admitem que o valor aplicado faz falta no orçamento mensal e 53% temem perder dinheiro e se endividar.

⇒ O ganho com as apostas é bastante limitado. A pesquisa aponta que 52% admitem que perdem mais do que ganham (44%) ou perdem todas as vezes (8%). Apenas 30% dizem que ganha mais do que perdem (24%) ou ganham sempre (6%).

⇒ O Pix é a forma de pagamento das apostas. 79% jogam via Pix, 24% usam cartão de crédito, 18% recorrem ao cartão de débito, e 17% fazem transferência bancária (questão de múltiplas respostas). Modelar e regular o uso do pix nas apostas é um desafio que não pode interferir nas liberdades individuais do cidadão.

⇒ E a grande parte realmente acredita que as apostas possibilitam um ganho financeiro rápido (40%) ou são motivados pela chance de ganhar muito investindo pouco (11%), ideias que contrariam a cultura do esforço.

⇒ Para 69% dos ouvidos, os jogos on-line causam dependência ou vício em apostas, 61% causam endividamento e perdas financeiras e 42% causam problemas de saúde mental, como estresse, ansiedade e depressão.

A população quer informação, limites e, em certa medida, cuidados gerais com a saúde mental de quem aposta. A esse respeito 66% dos entrevistados se posicionam a favor da proibição da propaganda de Bets no Brasil, assim como acontece com a propaganda de cigarro.

⇒ O brasileiro não quer a legalização de jogos como cassinos, bingos e jogos do bicho (apenas 33% são a favor).

⇒ A maioria (50%) avalia que endividamento com os jogos on-line são um problema público e que afeta o país e 47% avaliam que a dependência nas apostas on-line são um problema de saúde pública.

Entre as ações do governo para citadas combater o vício dos jogos, 35% avaliam que deveria coibir fraudes e lavagem de dinheiro, 28% avaliam que deveria limitar ou disciplinar a publicidade das empresas de apostas, 26% deveriam proibir o uso do cartão de crédito pelos apostadores e 26% dizem que deveria proteger a saúde mental e física do apostador.

Clique aqui para ter acesso à pesquisa.

 

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