Rebeca leva prata em conquista histórica

Destaque I 30.07.21

Por: Elaine Silva

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Antes da medalha de Rebeca Andrade, em maio, a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) teve o patrocínio da Loterias Caixa renovado por quatro anos, somando R$ 30 milhões, que contam com recursos do Fundo para Desenvolvimento das Loterias (FDL) (Foto: Ricardo Bufolin/CBG)

A ginástica feminina brasileira ganhou sua primeira medalha olímpica em Tóquio com o exemplo de superação da superatleta Rebeca Andrade, de 22 anos. Mulher negra de origem humilde, ela embalou o mundo com o funk “Baile de Favela”, na apresentação de solo, e conquistou a medalha de prata individual geral.

O funk é uma referência à origem de Rebeca, nascida na periferia da Grande São Paulo, em Guarulhos, e de tantos jovens que buscam no esporte uma forma de quebrar barreiras sociais.

Filha de uma empregada doméstica, junto com mais sete irmãos, Rebeca entrou no Ginásio Bonifácio Cardoso, em Guarulhos, aos quatro anos. Foi levada de bicicleta pela tia, que trabalhava no local e achou uma boa ideia ajudar a sobrinha a descarregar toda a sua energia no esporte. Seu talento para ginástica foi descoberto ali.

Em 2011, quando treinava em Curitiba, Rebeca, apelidada de “Daiane dos Santos 2”, em referência à ex-ginasta brasileira que competiu nos jogos de Atenas, Pequim e Londres, recebeu o convite de um técnico do Clube de Regatas do Flamengo para treinar no Rio. Um ano depois, aos 13 anos, se tornou campeã do Troféu Brasil de Ginástica Artística, superando grandes nomes da modalidade nacional, como Jade Barbosa e Daniele Hypólito. Em janeiro de 2020, renovou seu contrato com o Flamengo por mais uma temporada.

“Parece fácil para ela fazer ginástica”, diz Ângelo Sabino, técnico de ginástica artística feminina do clube, que acompanha Rebeca nas competições no Brasil quando ela não está com a equipe da seleção. No clube desde 2017, Sabino só tem elogios à Rebeca. “O nível dela é muito alto. E é uma pessoa com um extremo bom humor.”

Marcelo Vido, diretor de esportes olímpicos do Flamengo, contou que o sucesso internacional das atletas da ginástica brasileira tem cativados os jovens. “Hoje, temos mais o menos 3 mil alunos. Destes, 500 são da ginástica. É o segundo maior, atrás apenas da natação”, disse.

A vitória de Rebeca já se reflete nas redes sociais e buscas on-line, assim como os perfis de outros atletas e medalhistas brasileiros como a jovem Rayssa Leal, de 13 anos, que também levou a medalha de prata no skate, esporte estreante ao lado do surfe, no qual Italo Ferreira trouxe o primeiro ouro para o Brasil.

Em 24 horas, até a tarde de ontem, o número de seguidores do perfil de Rebeca no Instagram dobrou para 1,1 milhão de pessoas – 120 mil entre o meio-dia e às 18h de ontem, segundo informações da rede social do Facebook.

No Brasil, as buscas por Rebeca Andrade no Google saltaram 1.750% na manhã desta quinta-feira e seu nome entrou nos 20 termos mais buscados do país no período. Foi a segunda ginasta mais buscada no mundo, depois da americana Simone Biles, que deixou a competição.

Loterias Caixa

Antes da medalha, em maio, a Confederação Brasileira de Ginástica (CBG) teve o patrocínio da Loterias Caixa renovado por quatro anos, somando R$ 30 milhões, que contam com recursos do Fundo para Desenvolvimento das Loterias (FDL).

“O ponto importante deste patrocínio é que ele é inclusivo”, diz Pedro Guimarães, presidente da Caixa Econômica Federal. No total, os 12 projetos de patrocínio do banco e da Loterias Caixa a 78 atletas somam R$ 82 milhões.

Ao assumir o comando da Caixa, em janeiro de 2019, Guimarães diz que decidiu retirar o patrocínio ao futebol para investir em esportes que tinham menos visibilidade como a ginástica, o skate – patrocínio iniciado há três meses – e esportes paralímpicos.

“A vitória da Rebeca é a de um esporte que não tem um apoio relevante, que acolhe vários garotos e garotas carentes, em centros de treinamento, enquanto suas mães trabalham”, afirma o executivo.

Até junho de 2022, a Loterias Caixa dedicará R$ 6,43 milhões à Confederação Brasileira de Skate (CBSkate) e R$ 24,7 milhões a 11 modalidades do esporte paralímpico. Ambos contam com recursos do FDL. O restante dos recursos vai para outros projetos paralímpicos e de atletismo.

Filho de um treinador de times olímpicos de natação, Guimarães lembra que foi nadador por 20 anos, no mesmo clube de Rebeca, nos anos 1990. “A gente acordava às 4h30 e treinava numa piscina gelada 5 horas por dia”, diz. “O esporte te ensina a treinar para se superar”, afirma.

Guimarães se diz emocionado com a conquista da ginasta brasileira. “Impressionante, com essa pressão, conseguir essa vitória.”

Após os Jogos, segundo o executivo, a Caixa promoverá uma turnê dos atletas patrocinados por comunidades carentes do país para que eles inspirem crianças e jovens a entrarem para o esporte. (Valor Econômico – Daniela Braun e Cristian Favaro — De São Paulo)

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