VEJA revela que CPI das Bets tem suspeita de ‘EXTORSÃO E PROPINA’

Apostas I 13.12.24

Por: Magno José

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VEJA revela que CPI das Bets tem suspeita de ‘EXTORSÃO E PROPINA’
CONFUSÃO À VISTA Plenário da comissão: bate-boca entre parlamentares evoluiu para denúncias de crimes graves (Imagens: Reprodução)

Reportagem de cinco páginas da revista VEJA deste final de semana revela  que a Comissão Parlamentar de Inquérito que investiga os sites de apostas ouvia o representante de uma empresa, na terça-feira 3, quando começou um bate-boca entre os senadores Ciro Nogueira (PP-PI) e Soraya Thro­ni­cke (Podemos-MS). Relatora da CPI, a parlamentar disse, durante a audiência, que convocaria o “governo Bolsonaro” para saber por que o setor não havia sido regulamentado na gestão do ex-presidente. Ciro era o ministro-chefe da Casa Civil. Os ânimos se exaltaram: “Dá para a senhora me explicar por que chamar o governo Bolsonaro?”, indagou o senador. “O governo Bolsonaro tinha dois anos para regulamentar, mas não fez”, justificou Thronicke. “A senhora acha que isso vai ter algum ganho para o país, senadora?” “Debruce-se sobre a legislação para entender.” “A senhora não é professora de ninguém.” “Eu não lhe devo explicações.” O senador então advertiu: “Daqui a pouco é a senhora que vai ter que prestar muitas explicações aqui”. Parecia mais um duelo verbal entre dois parlamentares com diferentes pontos de vista. Mas o caso evoluiu e ganhou cores de escândalo.

Depois da discussão, Ciro Nogueira procurou o presidente do Congresso, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), para informá-lo sobre algo “muito grave” que estava se passando nos bastidores da comissão. Ele relatou que um conhecido lobista de Brasília estaria extorquindo empresários ligados ao setor de apostas. E mais: existiria uma parceria entre esse lobista e membros da CPI. O esquema replicaria um método criminoso bastante conhecido: parlamentares, não necessariamente envolvidos com o achaque, apresentam requerimentos convocando representantes de empresas para prestar depoimento. Ato contínuo, o lobista bate à porta da empresa, diz que tem acesso e influência sobre determinados congressistas e pede uma quantia em dinheiro para reverter a convocação. Na conversa com Pacheco, o senador informou que o esquema já está sendo investigado pela Polícia Federal desde que um empresário do ramo confirmou ter sido abordado pelo tal lobista, que teria exigido dele 40 milhões de reais.

O presidente do Congresso ouviu o relato com preocupação. Ciro, que estava acompanhado do senador Rogério Carvalho (PT-SE), contou que a vítima do achaque é dono de um site de apostas e foi alertado de que seria convocado a depor na CPI. Na sequência, o lobista se apresentou, disse que tinha como evitar o “constrangimento”, mas que isso teria um “custo”. O empresário se recusou a pagar. Não tardou e o requerimento de convocação foi aprovado. Ciro não acusou diretamente Soraya Thronicke de envolvimento com o suposto esquema. O senador, no entanto, lembrou que a relatora da comissão, a quem cabe coordenar e supervisionar a investigação, não só conhece como mantém uma relação de proximidade com o lobista que teria tentado extorquir o empresário. Procurado, Ciro não quis se manifestar. Disse apenas que a denúncia chegou a seu conhecimento e que tomou “as providências cabíveis”. O senador petista que acompanhou Ciro confirmou o encontro com Pacheco, mas também não quis comentar o caso.

Silvio de Assis, o lobista, é um personagem conhecido no universo paralelo da política brasiliense. Reza a lenda que ele tem amigos poderosos em diversos partidos e em gabinetes importantes da Esplanada. Em 2018, ele foi preso pela Polícia Federal. Uma reportagem de VEJA revelou a existência de uma rede de corrupção que operava no Ministério do Trabalho e envolvia políticos e servidores públicos com “venda” de registros sindicais. Um empresário contou que esperava havia mais de cinco anos o registro de uma entidade, quando foi procurado por Silvio de Assis, que lhe pediu 3 milhões de reais para “resolver” o problema. O achaque foi documentado em áudios e vídeos, Silvio foi acusado de corrupção, mas o processo até hoje não foi julgado. O lobista se diz inocente. Em relação à CPI, afirma que não sabe por que envolveram seu nome no caso e conta que acompanha de perto os trabalhos da comissão — mas apenas para colher informações para “um documentário” que está produzindo sobre as apostas no Brasil. Indagado sobre a relação com a senadora, ele justificou que conhece “mais de 50% dos senadores”.

Soraya Thronicke rebateu as insinuações, confirmou que conhece o lobista e afirmou que realmente há fortes indícios de que algo grave se passa nos bastidores da CPI — mas não em relação a ela. A senadora conta que ouviu uma mensagem de áudio enviada a um empresário convocado para depor em que um senador pedia 100 milhões de reais para “resolver o assunto com a Soraya”. Ao contrário do que Ciro Nogueira concluiu, o tal parlamentar estaria usando o nome dela para achacar. Thronicke, no entanto, não revelou a identidade do colega criminoso e nem do empresário abordado, mas garantiu que encaminhou a denúncia à Polícia Federal. As duas histórias de extorsão são graves e precisam ser esclarecidas. A CPI das Apostas foi instalada em novembro e tem prazo de cinco meses para concluir os trabalhos. Os dezoito senadores já apresentaram 360 requerimentos, aprovaram 230 e ouviram até agora o depoimento de apenas seis testemunhas. Após o relato de Ciro Nogueira, Rodrigo Pacheco passou a considerar a hipótese de encerrar os trabalhos da comissão antes que seja necessária a criação de uma CPI para investigar a CPI.

Confira a nota de esclarecimento da senadora Soraya Thronicke na íntegra:

“Em relação às acusações envolvendo supostas extorsões e pagamento de propina nos bastidores da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) das Bets, a senadora Soraya Thronicke esclarece que tem recebido denúncias graves e preocupantes sobre o possível envolvimento de parlamentares e seus familiares em esquemas ilícitos, incluindo a realização de lobby para empresários donos de sites de apostas ilegais e influenciadores, com o objetivo de evitar convocações para comparecimento à CPI.

A senadora também afirma que tem sido alvo de ameaças e tentativas de intimidação por parte de alguns colegas senadores. Além disso, existem fortes indícios de que o genro de um senador seja proprietário de uma plataforma especializada em jogos on-line e com sede em um país considerado paraíso fiscal. Há ainda suspeitas de seu envolvimento nos crimes que estão sendo investigados no âmbito da CPI.

Diante dessas situações, a senadora encaminhou as denúncias ao Diretor-Geral da Polícia Federal, Andrei Rodrigues. Além de formalizar a denúncia à PF, ela pretende processar criminalmente o senador por denunciação caluniosa, calúnia e difamação, além de reparação na esfera cível, em razão da ofensa à sua honra. A senadora também já colocou à disposição a quebra de seus sigilos bancários, fiscais, telemáticos e qualquer outra informação que a Polícia Federal julgar relevante para as investigações.

A senadora Soraya Thronicke entende que os ataques à sua reputação refletem o desespero de alguns parlamentares, especialmente por ela exercer o papel de relatora da CPI e atuar de forma combativa, com integridade, seriedade e honra — princípios que têm norteado seus seis anos de mandato no Senado Federal.

Quanto a outras denúncias, a senadora esclarece que não tem conhecimento a respeito e reforça que os responsáveis por tais acusações devem apresentar explicações diretamente à Polícia Federal.”

 

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