AFC Wimbledon adere campanha que tenta proibir publicidade de apostas no futebol inglês
O AFC Wimbledon tornou-se o quinto clube da pirâmide inglesa profissional masculina a aderir a uma campanha que busca proibir patrocínios de apostas no futebol inglês. A discussão sobre o papel do esporte e os efeitos do vício em jogo costuma ser recorrente no país, com uma forte cultura de apostas, e ganhou as manchetes recentemente com longas punições contra Ivan Toney, do Brentford, e Sandro Tonali, do Newcastle – por violações cometidas ainda em seus tempos de Milan.
O clube mais importante desse grupo é o Luton Town, atualmente na Premier League. Os outros três são o Bolton, da terceira divisão, e Forest Green e Tranmere Rovers, ambos da quarta. A campanha chama “Big Step”, ou grande passo, em tradução livre, e é organizada pela entidade Gambling with Lives, uma comunidade de famílias afetadas por suicídios relacionados às apostas.
Em seu site, a Big Step se descreve como “uma campanha para encerrar todas as publicidades de apostas no futebol, liderada por pessoas afetadas por apostas”.
O AFC Wimbledon, clube dissidente criado pelos torcedores em 2002 quando a diretoria do Wimbledon FC decidiu se mudar para Milton Keynes, colocou a decisão em votação ao Don Trust, grupo de fãs que ainda é dono do clube londrino. Ela foi aprovada por 79% dos 1.199 membros.
– Como um clube no coração da nossa comunidade, estamos comprometidos a sermos uma força pelo bem. Tomamos a decisão algum tempo atrás de não aceitar propagandas de apostas em nosso clube. Agora, com o apoio dos nossos donos, os torcedores, estamos aderindo ao The Big Step e dizendo que é hora de acabar com os danos que publicidade de apostas no futebol causa – disse um dos membros do conselho do Don Trust, Michele Little.
A campanha conta com o apoio de 31 clubes, muitos de divisões amadoras e semi-amadoras da Inglaterra, mas também o Lewes, da segunda divisão feminina, o Glasgow City, atual campeão escocês das mulheres, o Partick Thistle, da Segundona escocesa, e representantes da Irlanda.
Os números
O governo britânico há alguns anos avalia vários aspectos da administração do seu futebol, e um deles foi a relação com casas de apostas. A Premier League até se antecipou e anunciou que proibirá patrocínio máster (na parte da frente da camisa) desse tipo de empresa a partir da temporada 2026/27. Isso tende a ter pouco efeito prático porque, segundo um estudo citado pelo AFC Wimbledon, apenas 7% dos 3.500 logotipos de apostas exibidos em um único jogo de Premier League estão na região frontal dos uniformes.
Um outro estudo afirma que torcedores receberam 11.000 mensagens de apostas durante o fim de semana inaugural da Premier League em agosto. O governo britânico publicou um documento no último mês de abril sobre reformas na indústria, mas não propôs nenhuma ação mais decisiva do que recomendar um “código de conduta para garantir uma abordagem responsável” à publicidade de apostas no esporte.
– Esse novo estudo mostra que o fracasso do governo em agir contra publicidade de apostas deu aos clubes de futebol e às emissoras uma licença para empurrar ainda mais publicidade de apostas pela garganta de torcedores jovens ou velhos. Onde está a evidência de que é seguro transmitir 11.000 propagandas de apostas para dezenas de milhares de crianças todos os fins de semana?
– O patrocínio incessante faz com que os estádios de futebol pareçam muito com a principal avenida de Las Vegas, com um incentivo constante às apostas infectando cada centímetro do nosso esporte nacional. Não deveria ser assim. Como um grupo que representa pessoas afetadas por apostas, apoiado por quase 200.000 membros do público, estamos renovando cobranças para que haja um fim ao bombardeio de publicidade de produtos viciantes. Queremos impedir que qualquer outro torcedor passe pelo que passamos – disse um porta-voz da campanha Big Step.
Ivan Toney, do Brentford, foi suspenso por oito meses por 232 violações de regras da Federação Inglesa para apostas esportivas, uma punição reduzida após ser diagnosticado com vício em jogos de azar. Sandro Tonali, do Newcastle, recebeu um gancho de dez meses por ter usado plataformas ilegais da Itália para fazer apostas e também infringir regulamentos da Justiça Esportiva da Federação Italiana. Terá que passar por tratamento. Ambos apostaram em partidas dos seus próprios clubes. O brasileiro Lucas Paquetá, do West Ham, está sendo investigado pela Federação Inglesa. (Trivela)