Arthur Lira cancela sessões na Câmara após ‘quebra de acordo’ de Lula
A indisposição de Lula para fazer mudanças — em especial no comando da Caixa Econômica— culminou na decisão de Arthur Lira e das demais lideranças da Câmara de cancelar a análise de pautas importantes da semana. Será a primeira semana em 2023 em que o plenário da Câmara ficará sem votação. A pauta sequer chegou a ser divulgada. “A Casa está em obstrução”, disse o presidente da Câmara em áudio enviado aos líderes partidários.
Lira não gostou da declaração pública do presidente — e entendida como recado — de que só ele, Lula, pode mexer nos cargos do governo federal e que, neste momento, não está “disposto a mexer com nada”.
Por meio de interlocutores comuns, Lula foi além, dizendo que só mexe no banco público no fim do ano, quando decidir fazer uma reforma ministerial mais ampla. Antes disso, avaliou, passa o recibo de que suas escolhas foram ruins.
Lira desapareceu ao longo de terça-feira numa viagem para São Paulo que não constava em sua agenda oficial, não divulgou pauta e encerrou a sessão sem que nada fosse votado. Nesta quarta-feira, avisou aos partidos que não haverá votações o resto da semana.
Centrão não gostou da denúncia da Veja
Além disso, o Centrão também se incomodou com denúncia, divulgada pela revista “Veja” neste fim de semana, em que um assessor do Ministério da Fazenda denunciou supostos relatos de pedidos de propina pelo deputado Felipe Carreras (PSB-PE), líder do PSB e relator da Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que apurava fraudes em apostas esportivas, registra o Valor.
A reportagem baseia-se em relatos de integrantes do Ministério da Fazenda. Para aliados de Lira ouvidos pelo Valor, trata-se de um “vazamento seletivo” do PT para taxar o grupo de corrupto e não cumprir o compromisso de transferir parte da regulamentação dos jogos de azar para o Ministério do Esporte, comandado pelo PP.
Mudança de opinião
Na noite de quarta-feira, os ruralistas ajudaram a aprovar medida provisória (MP) que abre crédito de R$ 200 milhões para o Ministério da Agricultura e os evangélicos atuaram para discutir na Comissão de Previdência projeto que proíbe o casamento homoafetivo.
Lira chegou a informar aos partidos na manhã desta quarta-feira (27) que não haveria pauta “porque a Casa está em obstrução”, mas depois mudou de ideia e convocou uma reunião de líderes para o fim do dia, quando a base decidiu realizar uma sessão para votar a MP dos créditos e projeto de lei que prorroga a cota para produção nacional nas telas de cinema (que não tinha sido votado até o fechamento desta edição).
O presidente da Câmara não deu explicações sobre os motivos para a mudança de posição e negou que tenha recebido pressões do STF e do Palácio do Planalto.