Bicheiros estão perdendo a guerra para as facções

Jogo do Bicho I 06.10.21

Por: Elaine Silva

Compartilhe:

 

TRT6 declara nulo contrato de trabalho em banca de jogo do bicho
Grupos criminosos mais organizados e agressivos começam a imperar nas atividades clandestinas

Há cerca de um mês, os maiores banqueiros do jogo do bicho na Fronteira Oeste procuraram a Polícia Civil. Informalmente, reclamaram do assédio que sofrem das facções criminosas organizadas de dentro dos presídios.

Como o jogo de azar é proibido no Brasil desde 1947 – só o governo pode explorar a modalidade, uma contradição –, eles atuam de forma clandestina. Organizaram dossiês de ataques sofridos por apontadores de apostas e coletores de dinheiro, que prestaram depoimentos, conforme relatei em reportagem para GZH.

Um integrante do Ministério Público logo escreveu um artigo, também no site, chamando a situação de surreal. E realmente é.

Dois grupos que atuam na ilegalidade batalham pelos lucros da jogatina clandestina. O procurador de Justiça disse que os bicheiros deveriam ter sido presos ao reclamarem. Aí já não posso concordar. A prisão dos donos do bicho, se ocorrer, deveria ser pela jogatina que bancam, não pelos assaltos que sofrem.

A questão enfrentada na fronteira ultrapassa em muito a esfera jurídica. É preciso ser ingênuo para acreditar que todos os que atuam na ilegalidade são iguais. Isso é acreditar em preto e branco, quando a realidade é cinza.

Um homicida não é igual a um batedor de carteiras, basta ver as penalidades diferenciadas previstas para cada um desses crimes. Isso é apenas um exemplo de como o submundo tem suas graduações de perigo – e risco para a comunidade.

Nesse contexto, é muito perigosa para a sociedade a substituição dos bicheiros tradicionais – varejistas da ilegalidade – por facções de traficantes e assaltantes que decidiram investir em jogatina. As quadrilhas comandadas de dentro dos presídios têm na violência sua força-motriz. Extorsão é seu ganha pão, assim como o roubo à mão armada. Querer compará-las com donos do comércio ambulante ou receptadores de produtos asiáticos que não pagam impostos é misturar alhos com bugalhos.

E o que aconteceu em relação à guerra que ameaça estourar entre os clandestinos na fronteira? Até agora, nada. Os assaltos a apontadores do bicho continuam. Esperar que ocorram mortes em sequência não me parece sensato. (Zero Hora – Humberto Trezzi)

Comentar com o Facebook