Importância da integridade e governança para o esporte brasileiro

Apostas, Opinião I 30.05.23

Por: Elaine Silva

Compartilhe:
Daniela Castro*

O esporte brasileiro é parte do DNA do nosso país. É parte da nossa cultura. Da nossa paixão. E do investimento de tempo, recursos e trabalho de milhares de pessoas, entre atletas, treinadores, executivos, advogados, equipes das mais variadas áreas trabalhando em confederações, federações e clubes. Todos interligados com o esporte.

O que antes se conectava pela indignação e a tristeza de uma área amadora e permeada de escândalos, floresceu para um setor que tem seu potencial social e econômico reconhecido. Hoje, há muitas oportunidades no cenário nacional e global, como desenvolvimento de clubes-empresas e formação de uma liga nacional de futebol, regulamentação de apostas esportivas, novas tecnologias. A conjuntura com certeza é favorável, os avanços também estão claros, mas há ainda desafios estruturais e nos fundamentos do esporte que, se não forem levados a sério pelos seus inúmeros agentes, podem comprometer os avanços, frustrar oportunidades e afetar o futuro dessa indústria.

Há 14 anos, quando comecei minha atuação no esporte, o cenário não era favorável. Amadorismo, corrupção — um ambiente quase feudal — como diria eu, à época, chocada por encontrar um ambiente tão atrasado. Hoje, após 10 anos da aprovação do artigo 18-A da Lei Pelé, o cenário do esporte no país é muito diferente. Do estranhamento com as palavras governança, integridade, transparência, gestão profissional, o ambiente esportivo foi se adaptando. E os escândalos deixaram claro que os tempos precisavam mudar.

Isso não ocorreu somente no esporte. A sociedade e, principalmente, as empresas foram pautadas por temas como governança, integridade e boa gestão. Sem falar no propósito, impacto e responsabilidade social. Os conceitos de ESG e boa governança tornaram-se imperativos. Empresas e organizações ao redor do globo são cobradas por comportamentos éticos e são avaliadas por eles, além da prova clara de que uma boa gestão leva a resultados em benefício de uma coletividade nos diferentes setores sociais e econômicos.

E as mudanças não são feitas de forma solitária. A aprovação do artigo 18 da Lei Pelé foi resultado da união de atores do esporte, como atletas, empresários, ONGs, clubes, jornalistas, especialistas que se mobilizaram para a aprovação de um importante marco regulatório que dispõe sobre a integridade do esporte nacional e que mexeu em pontos que foram estruturantes. Alteração do colégio eleitoral com participação de atletas nas escolhas dos dirigentes, definição de regras de mandato, exigências de prestação de contas e transparência, fair play eleitoral, entre outros pontos que trouxeram mudanças substanciais.

Contudo, não é só a legislação que resolve os problemas, mas a sua implementação, e isso vai além dos governos. Depende de todos os agentes. Não somente para cumprir a lei, mas porque é preciso para realmente avançar. Uma gestão íntegra e eficiente, que possibilite o desenvolvimento humano e a entrega de resultados com seus riscos diminuídos e mecanismos internos capazes de fazer com que os interesses coletivos superem os pessoais e o curto prazo.

Os tempos são outros. O cenário é outro. Este é um momento em que devemos ficar ainda mais atentos e não dispersar os esforços para que haja a real consolidação de uma nova mentalidade e de mudanças estruturais. O tempo é de união, de coalizão e de apoio mútuo. Atletas, profissionais do esporte, dirigentes, empresas e governos juntos. O compromisso com integridade e com a boa governança deve se concretizar na prática e isso será fundamental para que campeonatos sejam ganhos, patrocínios sejam feitos em maior volume, novos negócios se façam e o desenvolvimento do setor seja definitivamente realidade.

Os três conceitos que resumem o que precisamos neste exato momento são: união, pensamento de longo prazo e espírito de equipe. As condições estão dadas e mudanças estruturais importantes foram postas em marcha. Temos, sim, condições distintas e com muita gente boa em campo: atletas, dirigentes, profissionais de compliance, governo, todos a postos por um esporte pronto a ganhar tração. Não podemos deixar de lado o esforço para que os pilares da boa governança, transparência e integridade sustentem o crescimento, os avanços e a concretização de negócios, vitórias, impacto e um novo ambiente esportivo em que a união e o espírito coletivo podem sobressair. O momento é propício. Precisamos de todos em campo. Sem hesitação. E aí ganharemos o jogo. O jogo de um esporte mais forte e pujante. Para todos.

(*) Daniela Castro é advogada e chief Operating Officer da Siga Latin America, foi secretária adjunta de Esporte e Lazer do município de São Paulo em 2017. O artigo foi veiculado no Correio Braziliense.

Comentar com o Facebook