Indústria do jogo em Macau vai ter de se habituar a viver com menos lucros

Blog do Editor, Cassino I 28.07.22

Por: Magno José

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Segundo o especialista “os ‘junkets’ costumavam ser um dos maiores facilitadores para levar dinheiro ilegalmente para fora da China” continental, porque Pequim “limita quanto dinheiro por cidadão pode sair das suas fronteiras”

Especialistas do jogo disseram à Lusa que a indústria do jogo em Macau vai ter de se habituar a viver com menos lucros, mesmo num futuro sem as restrições e impacto causado pela pandemia da Covid-19.

O diretor executivo da empresa especializada em jogo 2NT8, Alidad Tash, estimou que os lucros dos cassinos caíram para cerca de metade do que se registrava antes da pandemia, mas ressalvou que também terão pela frente menos riscos.

“Penso que o negócio dos cassinos continuará a ser rentável. Não tanto como antes, mas ainda assim, um lucro saudável. E a boa notícia para os cassinos é que eles gastaram milhares de milhões de dólares a construir luxuosas estâncias integradas. No futuro, não estarão a gastar tanto em novas infraestruturas. Portanto, o risco é menor. Dito de outra forma, terão menos lucro do que antes, mas também com menos risco”, sintetizou.

Apesar do desaparecimento dos ‘junkets’ (angariadores de jogadores de grandes apostas), “Macau continuará a ser o melhor destino para os jogadores chineses”, sustentou.

“Isto porque Macau é chinês. Eles não se encontram numa terra estrangeira. Os restaurantes são autênticos, os comerciantes falam cantonês, como a sua língua materna, e também podem falar mandarim. Este não é o caso quando os jogadores chineses vão para a Coreia, Filipinas, Vietnam”, explicou, quando questionado sobre uma possível aposta da indústria do jogo em outros países asiáticos.

Contudo, Alidad Tash prevê que os grandes apostadores chineses “não poderão vir com a mesma frequência”, confrontados com “maiores dificuldades em trazer grandes quantidades de dinheiro para Macau ou qualquer outro destino”.

A questão é que, fundamentou, “os ‘junkets’ costumavam ser um dos maiores facilitadores para levar dinheiro ilegalmente para fora da China” continental, porque Pequim “limita quanto dinheiro por cidadão pode sair das suas fronteiras”.

Resumindo, com os ‘junkets’ fora de circulação, “os grandes apostadores vão visitar e jogar menos vezes em Macau, e com menos dinheiro por viagem”.

Ben Lee, analista da consultora de jogo IGamix, sublinhou o impacto do desaparecimento do mercado VIP devido a uma repressão sobre o ‘marketing’ que lhe era dirigido e saída de capitais, a par de uma nova política mais restritiva na passagem de vistos por parte de Pequim, visível no último ano.

Fatos que indiciam que os potenciais retornos futuros “serão mais desafiantes e menos lucrativos”.

Até porque, explicou, “os custos de ‘marketing’ e promoção destinados aos segmentos de massa sempre atraíram baixos retornos em relação ao que era desembolsado”.

Dito isto, frisou, Macau “tem de avançar para a atração de turistas de outras jurisdições que não a China”, mas para o fazer “é necessário mais do que meras palavras por parte das autoridades locais”, salientando que “o défice de especialização está a aumentar, à medida que cada vez mais competências estrangeiras estão a ser empurradas para fora de Macau”.

Ben Lee lamentou que isso aconteça, sobretudo quando “é preciso agora planear o futuro” e em que a indústria do jogo vive o seu pior momento em Macau, uma vez que “é provável” que as receitas brutas de julho “sejam ainda mais baixas do que o mínimo anterior de 716 milhões de patacas [87 milhões de euros] em junho de 2020”.

Macau, capital mundial do jogo e o único local na China onde o jogo em cassino é legal, vive o pior surto de Covid-19 desde o início da pandemia, o que levou as autoridades a decretarem o estado de prevenção imediata e um confinamento parcial, que determinou o encerramento dos casinos por quase duas semanas.

As concessionárias têm acumulado desde 2020 prejuízos sem precedentes e o Governo tem sido obrigado a recorrer à reserva extraordinária para responder à crise, até porque cerca de 80% das receitas governamentais provêm dos impostos sobre o jogo.

Operam no território três concessionárias, Sociedade de Jogos de Macau, fundada pelo magnata Stanley Ho, Galaxy, Wynn, e três subconcessionárias, MGM, Venetian e Melco. (Plataforma Media – Mei Mei Wong)

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