Jogo do bicho completa 120 anos nesta terça-feira

Jogo do Bicho I 03.07.12

Por: sync

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O Jogo do Bicho é uma bolsa de apostas semelhante a uma loteria federal, porém entre outras diferenças, no jogo do bicho o jogador pode apostar qualquer valor e o prêmio é proporcional ao valor jogado. A origem do jogo do bicho remonta ao final do Império e início da República no Brasil.

Fazem parte da tabela do jogo 25 bichos, cada um correspondendo a quatro dezenas, somando 100 dezenas finais nos sorteios da loteria.

O número do bicho é chamado de grupo. Para saber qual é o bicho (grupo), divide-se a dezena por 4 e se houver resto, aumenta-se 1 ao quociente. Ex.: 33 divididos por 4 é igual a 8, resta 1, logo o grupo do bicho é 9, que é “cobra”.

O jogo do bicho foi criado pelo Barão João Batista Viana Drummond, carioca que viveu no final do século XIX, na cidade do Rio de Janeiro. O barão de Drummond era um empresário de grande prestígio na Corte, participava de vários empreendimentos e investimentos e era acionista da Cia Ferro Carril Vila Isabel.

Vila Isabel foi o primeiro bairro planejado da cidade do Rio de Janeiro. No projeto de criação do bairro estava previsto a instalação de um parque e de um jardim zoológico, jardim esse que mais tarde seria o nascedouro do jogo de bicho.

O então Comendador Drummond, conhecendo o projeto, solicitou, em 1884, permissão para instalar o jardim zoológico. Quatro anos depois, em julho de 1888, houve a inauguração oficial do empreendimento que tornou-se um sucesso. Nesse mesmo ano, Drummond recebeu do Imperador Pedro II o título de Barão.

 Em 1890, o Barão, executando a segunda parte do projeto, ampliou as instalações do zoológico e criou um parque com plantas exóticas. Todavia, a situação financeira do zoológico, que já era difícil mesmo com a ajuda financeira recebida pela municipalidade, piorou com a criação do parque.

O orçamento já não era suficiente para cobrir as despesas com a alimentação dos animais e a manutenção do parque. O Barão tentou solucionar o problema cobrando ingressos dos visitantes, mas essa medida não foi bem aceita e provocou um efeito contrário: os frequentadores do jardim zoológico desapareceram.

O Barão recorreu, mais uma vez, à Intendência Municipal, visando obter licença para explorar jogos públicos lícitos nas dependências do zoológico, com a finalidade de trazer de volta o público visitante. A licença foi permitida desde que não incluíssem os chamados jogos de azar, conforme estava previsto no Código Penal de 1890.

O mexicano Ismael Zevada, auxiliar do Barão, com o intuito de colaborar para a solução do problema mencionou o “jogo das flores” que existia em sua terra e que poderia ser adaptado para os “bichos”. A ideia foi analisada e posta em prática: foram pintados 25 quadros, cada quadro com um bicho, numerados a partir de 1. Antes de abrir o zoológico, o Barão escolhia um quadro e colocava-o em uma caixa que ficava estrategicamente a sua entrada. Em cada ingresso havia a figura de um dos vinte e cinco bichos. Às 15h, a caixa era aberta e aqueles que tivessem no ingresso o bicho sorteado, eram os ganhadores de um prêmio em dinheiro.

O primeiro sorteio ocorreu num domingo, em 3 de julho de 1892. O bicho sorteado foi o avestruz. Nessa ocasião também foram disponibilizados para o público outros entretenimentos, porem o jogo do bicho foi o que obteve maior aceitação e mais repercussão na imprensa diária, mais do que a própria reinauguração do zoológico.

O Jornal do Brasil, Jornal do Commercio, O Paiz, Diário de Notícias, Gazeta de Notícias e O Tempo noticiaram os acontecimentos. Alguns confirmaram o grande número de visitantes inclusive autoridades, políticos e senhoras da alta sociedade carioca outros informavam qual o animal sorteado e as novas linhas de bondes criadas especialmente para facilitar o acesso ao Zoológico.

Logo o zoológico transformou-se em um lugar de lazer bastante concorrido. Duas semanas depois do primeiro sorteio, o valor do prêmio já havia quadruplicado. Os compradores dos bilhetes do bicho eram tantos que por mais de uma vez houve conflitos no local e o Barão foi obrigado a chamar a polícia para garantir a ordem.

O zoológico foi transformado em lugar de jogatina, a situação virou um escândalo o que desagradava às autoridades. O Barão não poderia imaginar que estava inaugurando um dos jogos mais populares e polêmicos do Rio de Janeiro e do Brasil.

Diante dos conflitos, em 1895, o prefeito Werneck de Almeida publicou o Decreto 133, que proibia o sorteio dos bichos nas dependências do jardim zoológico. A essa altura os bilhetes do jogo dos bichos passaram a ser vendidos na Rua do Ouvidor, que era então a mais movimentada do Rio de Janeiro e ficava bem distante dos portões do zoológico.

Nessa época foram abertos os chamados bookmakers, casas de apostas que vendiam poules (pule) das mais diversas apostas permitidas ou não, inclusive a do jogo do bicho, que passou a ter validade por quatro dias. Assim o apostador não precisava ir ao zoológico nem estar presente no momento do sorteio.

Além dos bookmakers, o Barão espalhou pela cidade seus agentes para vender os bilhetes do bicho, sendo essa participação dos vendedores ambulantes  muito importante para o sucesso do jogo entre os apostadores. Para ser vendido nas ruas, o jogo do bicho passou por várias adaptações: a primeira foi vincular os bichos aos números, depois veio a divisão em grupos e dezenas.

Em 1897, morre o Barão de Drummond, mas o jogo continua. Em 1899, foi promulgada a Lei 628 que instituiu a pena de um a três meses de prisão para os acusados da prática do jogo do bicho.

A imprensa teve sua contribuição na legitimação do jogo do bicho. Nas primeiras décadas do século XX, vários periódicos foram criados em função do jogo. Em 1903 começou a circular O Bicho, primeiro periódico dedicado ao jogo, mais tarde surgiram o Talismã e o Mascotte.

Em 1915, o senador Érico Coelho apresentou um projeto de lei para legitimação do jogo do bicho, mas não foi aprovado. Segundo Magalhães (2006), o poder público responsável pela Capital Federal, jamais conseguiu definir uma estratégia efetiva para combater os chamados “bicheiros” ou deixar claro por que algumas loterias eram permitidas e outras não.

Em 1941, o jogo do bicho é incluído na lei de Contravenções Penais. Cavalcanti (1995) afirma que depois de 1946, com a cassação de todas as licenças concedidas para funcionamento de casas de jogo no Brasil, o jogo do bicho se expandiu muito mais, acompanhando o crescimento de áreas periféricas.

O bicheiro era conhecido pela honra à palavra empenhada, obtendo com isso a confiança e o respeito do apostador, que recebia ajuda pessoal e benfeitorias públicas em troca da sua lealdade.

Dessa forma, o jogo do bicho, mesmo perseguido, passou a fazer parte do cotidiano, do folclore e da vida do povo brasileiro, já tendo sido motivo para muita discórdia e infelicidade; tristeza e alegria. Já foi tema para letra de música, roteiro de filmes, novela e enredo de escolas de samba. Foi também assunto para trabalhos acadêmicos, livros, artigos de revistas e muitas manchetes de jornais. A sua história já foi várias vez sufocada, seguindo à margem da sociedade, mas continua sempre presente na cultura popular.

Vocabulário do jogo do bicho:

Acertar – ganhar

Apostar – jogar

Banqueiro – pessoa que financia o jogo

Bicheiro – dono da banca

Cambista – pessoa que passa o jogo

Dar na cabeça – dar em primeiro prêmio

Descarregar – passar parte do jogo muito concorrido para outro  banqueiro

Fazer uma fezinha – jogar

Palpite – sugestão sobre o bicho que vai ser sorteado

Ponto – lugar onde se faz o jogo

Prêmio – lista dos resultados

Pule – do francês poule – comprovante do jogo

Quebrar a banca – ganhar prêmio alto.

(Fundação Joaquim Nabuco – Maria do Carmo Andrade – Recife)

Fonte: ANDRADE, Maria do Carmo. Jogo do BichoPesquisa Escolar Online, Fundação Joaquim Nabuco, Recife. Disponível em: <http://basilio.fundaj.gov.br/pesquisaescolar/>.

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