Lotéricas de Alagoas disputam clientes com concorrentes.

Lotérica I 09.02.04

Por: sync

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A partir desta segunda-feira, as loterias da Caixa Econômica Federal de Alagoas passam a receber boletos de pagamento de outros bancos, inicialmente até R$ 150. A novidade é implantada no momento em que se acirra a disputa pela clientela que não tem conta em banco e busca sistemas alternativos para pagar as contas de água, luz, telefone, boletos de cobranças de cartões e outros serviços.

A disputa ficou ainda maior com a entrada no mercado dos chamados correspondentes bancários, que estão abocanhando a clientela das loterias e outros agentes que recebem essas contas, como os Correios.

Cada vez mais, as pessoas de baixa renda que não dispõem de contas em banco estão sendo empurradas a utilizar os serviços dos correspondentes bancários. Eles oferecem como vantagem a maior agilidade no atendimento e estão sendo instalados em bairros distantes, que não despertam interesse de investimentos dos grandes bancos.
Além disso, o horário de atendimento é maior, das 8 às 18 horas (durante a semana) e até o meio-dia (aos sábados). Nas lojas que funcionam nos shoppings, o atendimento é ainda mais extenso.

Uma das redes que mais vêm crescendo é a Multibank, ligada ao Lemon Bank da Argentina. Criada há 10 anos por um grupo da Paraíba, a Multibank tem hoje lojas espalhadas por Pernambuco, Alagoas, Sergipe e Bahia. E há planos de expansão para os estados do Pará e Piauí.

O gerente regional da rede em Alagoas, Hildemar Ribeiro, disse que o segredo do sucesso para o empreendimento é disponibilizar um serviço para a população que não tem acesso a banco, que pode efetuar o pagamento de qualquer tipo de conta. A primeira loja começou a funcionar em Maceió em dezembro de 2002. Em julho do ano passado, contava com apenas oito lojas. Hoje, são 43 em todo o Estado, com planos de expansão. “Nossa intenção é instalar mais lojas, principalmente nos bairros da periferia de Maceió”.
Os serviços oferecidos pelas lojas também estão sendo expandidos. A rede começa a receber, este ano, as amarelinhas para pagamento do IPVA, expedidas pelo Detran.
“Também estamos firmando convênio para receber pagamento de condomínios e colégios”, salienta Hildemar Ribeiro. Ele garante que o serviço é autorizado pelo Banco Central e que oferece toda as garantias ao cliente. “Nossas lojas possuem seguro conta incêndios, roubos e assaltos e ainda recebem vigilância ostensiva”.

Um dos motivos do crescimento da rede é a facilidade para ser um franqueado. O investimento é de R$ 20 mil, se for na capital, e em torno de R$ 12 mil, no interior.
Os critérios exigidos são que a pessoa possa ter um ponto adequado, que ofereça segurança e seja num local de grande fluxo de pessoas. Hildemar Ribeiro garante que o investimento dá o retorno esperado. “Alguns dos nossos franqueados estão autenticando cerca de 14 mil contas por mês”.

CEF amplia serviços bancários para não perder a clientelaO crescimento das redes de serviços bancários, no entanto, está incomodando um outro segmento que também depende da clientela que paga contas: as loterias. O consultor de loterias da Caixa Econômica Federal, Francisco Nunes Ferreira, admite que a concorrência foi um dos motivos que levou à Caixa a autorizar, a partir desta semana, o recebimento de boletos de outros bancos nas loterias, limitado ao valor de R$ 150. Segundo ele, essa era uma antiga reivindicação dos donos de loterias, mas que sofria algumas restrições da Caixa por motivos de segurança. Segundo ele, havia antes uma preocupação da Caixa, por motivos de segurança que as loterias ficassem em caixa com grandes valores.
Além de autorizar o recebimento dos boletos de outros bancos, a Caixa também está firmando uma parceria com o Banco do Brasil. Eles poderão efetuar saques até R$ 1 mil nas loterias. O projeto piloto está funcionando em Curitiba e Brasília. Em todo o Estado são 113 loterias e o pagamento de contas representa 30% da arrecadação delas. Francisco Nunes salienta, no entanto, que a oferta de jogos é o principal diferencial dos serviços oferecidos pelas loterias. No ano passado, as loterias brasileiras arrecadaram quase R$ 3 bilhões. Em termos de pagamento de contas houve um crescimento de 9,49%, enquanto no de jogos foi o dobro: 18%.
A Caixa também está expandindo suas redes de correspondentes bancários. Hoje, são 37 em todo o Estado e mais 50 deverão ser abertos em Maceió, na periferia, em parceria com os supermercados. Os correspondentes bancários funcionam como uma espécie de agência bancária, nos locais onde elas não existem, sempre em estabelecimentos que comercializam alimentos.
Lotéricos não temem disputa pelo mercadoO vice-presidente do Sindicato dos Lotéricos, Luciano Sarmento, diz que, no início, a expansão dos chamados correspondentes bancários chegou até a incomodar. Mas garante que hoje essa concorrência já foi superada. “Temos a credibilidade da Caixa Econômica Federal”, resume Sarmento. Segundo ele, as loterias oferecem uma segurança maior, pois trabalham com sistema via rádio, que garante a confirmação do pagamento das contas com muita rapidez.
Luciano Sarmento destaca que, em alguns estados, houve problemas com pagamento de contas em alguns correspondentes bancários operados por redes como a Multibank. Essas redes operariam como uma espécie de despachantes do bancos. Ou seja, só após o envio dos boletos recebidos por essas redes aos bancos é que o pagamento está confirmado. Esses e outros motivos, na avaliação de Sarmento, está resultando no fechamento de algumas lojas dessa rede.
O vice-presidente do Sindicato dos Lotéricos assegura que a tendência é de crescimento no recebimento de contas pelas loterias. Hoje, as 113 loterias do Estado recebem R$ 1 milhão em pagamento de contas. E a previsão é de que este ano possa atingir entre R$ 1,5 milhão a R$ 2 milhões. “Acho difícil que essa rede de pagamento de contas tenha uma loja que receba mais de 10 mil contas”.
O lotérico salienta que as primeiras instituições a operarem com o recebimento de contas foram as loterias e as agências dos Correios. “Hoje, o número de loterias no Brasil só perde para as agências dos Correios, que também dispõem de grande credibilidade”.
Sarmento ressalta que o fato de as loterias passarem a receber pagamento de contas de outros bancos não vai significar mais riscos de assaltos, devido à operação de grandes somas em dinheiro. “A rotatividade nas loterias é muito grande, pois hoje efetuamos o pagamento dos programas sociais do governo, como o bolsa-escola”, explica. “Por isso, o dinheiro que entra sai logo e, às vezes, é preciso até pedir mais ao banco”, observa
Bancários temem redução de postos de trabalho em AL
A expansão das redes de serviços bancários, fora dos bancos, preocupa principalmente os bancários. Nos últimos anos, eles viram os postos de trabalho sumirem com o fechamento de vários bancos em Maceió. A categoria que chegou a ter uma base de oito mil bancários no Estado, hoje está resumida a pouco mais de 2.700. A diretora de Comunicação do Sindicato dos Bancários, Miriam Albuquerque, afirmou que a entidade encaminhou ofício à Confederação Nacional dos Bancários (CNB) para que sejam feita uma campanha junto aos parlamentares no Congresso para revogação da lei que abriu a possibilidade de outras instituições a operarem serviços bancários.
Miriam salientou que o sindicato desconfia da legalidade dos serviços prestados por algumas redes, como a Multibank. Em contato telefônico com o Banco Central, ela foi informada que essas redes funcionam como uma espécie de despachantes para os bancos e não tem autorização para funcionar como uma instituição financeira. Segundo ela, os bancos cada vez mais empurram os pequenos clientes a utilizarem esses serviços e, com isso, reduzem os postos de trabalho. “Os bancos agora só querem operar com grandes clientes e por isso não contratam mais caixas para ficar recebendo pagamento de pequenas contas”.
Para ela, quem perde com isso é a própria comunidade. Miriam ressaltou que a maioria das redes de serviços bancários instaladas na periferia não oferece qualquer tipo de segurança, inclusive para seus funcionários.

“Os funcionários são que têm que levar grandes somas para depósito nos bancos, já que eles não podem ficar com esse dinheiro guardado, pois não funcionam como banco”, explicou ela.
Gazeta de Alagoas – Fábia Assumpção

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