Análise: Será que defender a manutenção do jogo na clandestinidade agrada a Deus?

Destaque, Opinião I 02.02.22

Por: Elaine Silva

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A CNBB e os evangélicos não querem que o trabalhador do jogo tenha um emprego formal, que o Estado arrecade, que o cidadão seja protegido dos efeitos nocivos do jogo clandestino e que a sociedade se beneficie do jogo legal

Nesta terça-feira (1º), a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nota chamando a aprovação do requerimento de urgência de “nefasto ato” que “cabe-nos, por razões éticas e evangélicas, alertar que o jogo de azar traz consigo irreparáveis prejuízos morais, sociais e, particularmente, familiares”.

A nota da CNBB é mais uma panfletagem do lobby daqueles que desejam manter o jogo na clandestinidade. A entidade ignora que o brasileiro não está proibido de jogar e que o Estado brasileiro, sem uma legislação adequada, está impedido de arrecadar com os jogos e proteger seus cidadãos dos custos sociais.

A nota também ameaça os parlamentares que votarem a favor da legalização dos jogos: “CNBB assume o compromisso de acompanhar atentamente essa tramitação e divulgar amplamente o nome dos parlamentares que escolherem deixar suas digitais nessa delituosa afronta ao povo brasileiro”.

Delituoso é a Igreja Católica usar moralidade contra os jogos de azar, enquanto alguns membros da sua instituição vivem às voltas com casos comprovados de crimes hediondos, que vão muito além da imoralidade.

A CNBB também sentencia que “o voto favorável ao jogo será, na prática, um voto de desprezo pela vida, pela família e seus valores fundamentais”. Mas cabe destacar que o jogo de azar é legalizado e regulamentado nas dez principais economias do mundo, sendo algumas de maioria católica, como Itália, Canadá e França, e outros países cristãos como os EUA, Reino Unido e Alemanha, além dos países de outras matrizes religiosas como China, Japão e Índia, que perceberam que do ponto de vista social, econômico e da segurança pública é melhor manter este setor sob controle do Estado, apesar desta atividade econômica ser imoral para a Igreja Católica do Brasil.

O jogo é anterior a religião e a cultura, portanto jogar e apostar faz parte de uma terapia, além disso, não é uma atividade pecaminosa. A paixão por jogos é tão antiga que talvez remonte à pré-história da humanidade. Nas milhares de páginas da Bíblia não existe uma linha sequer que condene a prática do jogo, até mesmo nos sete pecados capitais o jogo não está incluído. A Bíblia registra, em passagens de seus livros mais antigos, o uso de sortes indicando fortuna e desgraça.

O curioso é que na história dos jogos de azar existem fortes vínculos com a Igreja Católica, como a abertura do primeiro cassino na França que foi realizada pela Igreja Católica para reabastecer o tesouro do Estado Francês, que o bingo nasceu na Igreja, que a roleta foi inventada por um padre, que o Banco do Vaticano já foi detentor de 8% dos Casinos Áustria e que é atualmente acionista dos transatlânticos Alínea C, que têm cassinos em suas instalações.

A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) tem se colocado contrária a legalização dos jogos no Brasil por entender que existem riscos como a destruição de famílias e patrimônio, mas não é bem assim que as paróquias católicas dos Estados Unidos pensam e se comportam.

Em janeiro de 2018, o BNL veiculou a reportagem ‘Paróquias católicas dos EUA tornaram-se dependentes da receita dos bingos e sorteios’, que através de uma pesquisa sobre o jogo na igreja católica, coordenada pela Ph.D em Teologia da Moral, Beth Haile e veiculada pelo portal US Catholic dos Missionários Claretianos comprovou que muitas paróquias católicas dos Estados Unidos tornaram-se dependentes da receita das apostas em bingos e dos bilhetes de sorteios.

Nas últimas oito décadas, vários temas têm gerado polêmica no Brasil e dentre eles a legalização do jogo, que seja por questões religiosas, morais, políticas, ideológicas, têm o debate contaminando e distorcido. O verdadeiro desafio do jogo é a criação e o estabelecimento de leis e regulamentos através do Congresso Nacional, que permitam aos cidadãos exercerem seu desejo de jogar sob os olhos atentos de regras claramente definidas pelo Estado.

Como católico, batizado, evangelizado para primeira eucaristia e crismado, espero que a CNBB receba as minhas reflexões com a mesma sabedoria que recebi as da entidade, mas entendo que imoral e delituoso é trabalhar para manter os jogos na clandestinidade. E com certeza, esta opção não deve ser a que mais agrada a Deus. (Magnho José – Editor do BNLData)

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