
O setor assistiu neste final de semana a mais um capítulo para amplificar a imagem negativa do mercado de apostas, jogos e loterias no país com a divulgação pela Folha de S.Paulo da pesquisa do Datafolha apontando que 65% dos brasileiros defendem a proibição das apostas esportivas pela internet, que 5% já venderam alguma coisa para apostar e que 71% dos brasileiros são contra propagandas de apostas.
Além do déficit de imagem histórico dos jogos de azar no país, devido ao longo período de ilegalidade e disputas territoriais, as empresas de bets licenciadas em alguma jurisdição e comprometidas com o mercado saudável, não gerenciaram a crise de comunicação dos últimos seis meses pela campanha contrária as apostas organizada e orquestrada pelos vários setores da economia, que se sentiram ameaçados pelo volume de apostas.
Através de estudos duvidosos as entidades colocaram na conta das bets as quedas nas vendas do consumo e varejo, impacto no setor de bares e restaurantes, lojas de moda, redes de franquias, ensino, aumento da inadimplência, decréscimo nos investimentos, entre outras acusações infundadas e levianas.
Na verdade, os afetados reagiram pelo fato das bets terem sido inseridas na ‘teoria do consumidor’, que é um ramo de microeconomia que mostra como as pessoas decidem gastar seu dinheiro com base em suas preferências individuais e restrições orçamentárias.
Todos os estudos divulgados nos últimos meses sobre o mercado de apostas online no Brasil devem ser tratados como especulativos e que produzem narrativas distorcidas. Ficou claro que esses ‘estudos duvidosos’ produzidos por entidades de classe têm o claro objetivo de demonizar o setor e idiotizar os apostadores pelo fato de usar dados não confiáveis. Somente após a regulamentação será possível ter números oficiais, embasados e confiáveis.
A pesquisa do Datafolha, mesmo que questionável em sua metodologia, é o resultado de seis meses de duras críticas ao setor baseadas em narrativas criadas a partir de estudos duvidosos e tendenciosos amplamente divulgados pela mídia.
Mas o levantamento tem dados interessantes ao revelar que pouco mais de um quarto da população maior de idade (27%) é favorável à atual liberação das bets, além disso houve um crescimento da parcela dos que dizem já ter apostado que passou de 14% para 18% se comparada com a pesquisa realizada pelo Datafolha em dezembro de 2023. Entre quem já apostou, a proporção contrária à publicidade é de 37%, contra 75% entre os que nunca jogaram e 72% no grupo dos que dizem ter parado de jogar. Outro dado positivo, é que entre os apostadores questionados pelo Datafolha, 63% não sentiu mal-estar em apostar.
Apesar da atenção recente às bets, ainda há brasileiros que jogam mais nas loterias da Caixa (29%) e Federal (12%), além do ilegal jogo do bicho (8%), do que em apostas esportivas (6%). Os caça-níqueis virtuais são a modalidade menos popular: 4% dizem apostar nesses jogos. Esse dado coloca sob suspeita o verdadeiro poder deletério do Fortune Tiger ou Jogo do Tigrinho propagado pelos contrários na grande mídia.
Na verdade, o problema gerado pelas apostas esportivas na sociedade brasileira foi devido à ausência de regulamentação da modalidade ao longo de seis anos e que proporcionou o descontrole e oportunidades para os empreendedores ilegais e criminosos (principalmente os orientais), que não tem compromisso com a proteção do apostador e responsabilidade com o mercado.
As entidades que se colocam atualmente contra o setor devem refletir sobre a possibilidade de proibição de apostas esportivas. Os problemas enfrentados hoje pela sociedade vão amplificar de forma exponencial porque os operadores ilegais vão continuar operando na clandestinidade. Esses atores devem pensar bem antes de transformar as boas intenções de honrados cidadãos em novos negócios para o crime organizado. Quem quiser jogar e apostar, e não puder fazê-lo de acordo com a lei, irá buscá-lo no mercado informal. A indústria da proibição é uma atividade muito lucrativa.
O verdadeiro desafio será a efetivação da regulamentação pela Secretaria de Prêmios e Apostas do Ministério da Fazenda, que permitirá aos cidadãos exercerem seu desejo de jogar sob os olhos atentos de regras claramente definidas pelo Estado e sua efetiva aplicação, que entrará em vigor no dia 1º de janeiro de 2025.
Ainda sobre a pesquisa, o Datafolha goza de boa reputação na sociedade, mas também sabemos que uma pesquisa com base em 1.935 entrevistas presenciais, realizadas em 113 municípios, de todas as regiões do país tem custo elevado. Seria saudável para a sociedade, que o instituto revelasse quem pagou a conta para criar essa nova narrativa?
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