Opinião de Nelson Motta: O jogo da vida

Destaque I 30.10.20

Por: Elaine Silva

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Nelson Motta*
Em Las Vegas, capital mundial do jogo, os cassinos são os mais fiscalizados do mundo, primeiro por eles mesmos, para não ser roubados pela Receita Federal, atrás de impostos, ou pelo FBI rastreando lavagens de dinheiro. É assim em todos os cassinos americanos, até em territórios indígenas, onde enriqueceram tribos paupérrimas. Só um completo idiota tentaria usar um cassino americano para tentar lavar dinheiro. É o mais tolo dos argumentos contra a liberação do jogo no Brasil. Desde que a fiscalização seja rigorosa como a americana.
Os motivos religiosos são bizarros num país onde se joga no bicho, em cavalos, em caça-níqueis viciados, em raspadinhas, nas loterias federais, estaduais e municipais, em cassinos clandestinos que roubam os jogadores. Por que cassinos seguros, fiscalizados com rigor, que criariam milhares de empregos e pagariam bilhões em impostos, seriam mais pecaminosos?
Jogadores compulsivos, que jogam tudo da família e perdem, não precisam de cassinos para sua sina, mas de tratamento. Ao menos nos cassinos o dinheiro deles vira impostos e empregos. Irresponsáveis que apostam o que não têm também não precisam de cassinos. Jogam pôquer. Mercado futuro. Juros. Dólar. Joga-se on-line em qualquer cassino virtual. Aposta-se em qualquer esporte do mundo.
Na hora em que o governo está desesperado por dinheiro para bancar seu programa de renda mínima, sem aumentar impostos, surgiu na Câmara, pela milésima vez, o projeto de liberação do jogo, que poderia render R$ 50 bilhões por ano em impostos para a União, estados e municípios quebrados pela pandemia. O lobby já trocou “jogos de azar” por “jogos de fortuna”. Nunca o momento foi tão oportuno. Desta vez vai.
Hoje os mercados financeiros é que parecem cassinos, sujeitos a tramoias e golpes bilionários, como vimos em muitos escândalos recentes, apesar dos mecanismos de controle. Diante deles, roleta, bacará e black jack parecem inocentes jogos de crianças.
Uma coisa é certa: no fim a banca sempre ganha.
(*) Nelson Motta é jornalista e veiculou o artigo acima na editoria de Opinião – O Globo.
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