Apostas combinadas: Fantástico exibe mensagens exclusivas da investigação contra Bruno Henrique, do Flamengo

Nos minutos finais da partida disputada em 1º de novembro de 2023, entre Flamengo e Santos pelo Campeonato Brasileiro, o atacante levou um cartão amarelo. Depois de reclamar com o árbitro Rafael Klein, Bruno Henrique foi expulso , revela reportagem do Fantástico.
O que parecia um lance comum de jogo acabou se tornando alvo de uma investigação da Polícia Federal depois que três casas de apostas detectaram movimentações acima do normal envolvendo o jogador e o recebimento de cartões.
O alerta foi repassado às operadoras por uma associação internacional que monitora apostas esportivas. Com o alerta recebido, a PF deu início à apuração, em agosto do ano passado. Em novembro, um ano após a partida, os investigados foram alvo de uma operação de busca e apreensão.
Depois de analisar os celulares e computadores apreendidos, a polícia concluiu um relatório que contém diversas trocas de mensagens mantidas entre Bruno Henrique e Wander Nunes Pinto Junior, irmão dele. O documento aponta que o jogador do Flamengo forneceu informações privilegiadas, repassadas por Wander a um grupo de apostadores, que inclui parentes e amigos. Ao todo, dez pessoas foram indiciadas.
Wander Junior e Bruno Henrique podem responder por fraude em competição esportiva, com pena prevista de 2 a 6 anos de prisão, e estelionato, que pode dar de 1 a 5 anos de cadeia. Os demais foram indiciados por estelionato.
As conversas suspeitas de Bruno Henrique
Pouco mais de dois meses antes do jogo Flamengo e Santos, Wander perguntou ao irmão se ele estava com dois cartões amarelos e pediu para ser avisado quando Bruno fosse forçar o terceiro. Bruno respondeu: “Contra o Santos”. Wander agradece e afirma que vai guardar o dinheiro do investimento.
Três dias antes do jogo contra o Santos, em 29 de outubro, Bruno procurou Wander e perguntou se o irmão se lembrava do que haviam conversado anteriormente. Wander pareceu não entender a pergunta e recebeu uma ligação de Bruno. A polícia acredita que a chamada tenha sido para falar da possibilidade de forçar o cartão amarelo.
Mensagens inéditas
O Fantástico teve acesso a mensagens inéditas, trocadas entre Wander e os pais dele e de Bruno Henrique. E entre Wander Junior e a esposa, Ludymilla Araújo Lima, nos dias que antecederam o jogo e depois da partida.
Wander relatou à mãe a dificuldade em fazer novas apostas com a própria conta, em razão de uma operadora já ter bloqueado, por segurança, a opção cartão amarelo para Bruno Henrique. A mãe questionou: “Será que há a possibilidade de abrir de novo?”.
Wander e a mãe trocaram informações sobre CPFs, e-mails e datas de nascimento de terceiros — pessoas que poderiam abrir novas contas. O filho repassou diversos boletos de casas de apostas, pedindo que a mãe efetuasse os pagamentos.
A PF também investiga se era Wander quem operava contas abertas em nome de Ludymilla Lima. Eles se falaram sobre uma quantia que seria pagamento de uma aposta feita por ele, mas que estaria atrelada a uma conta dela.
Um mês depois da partida, Wander Junior voltou a escrever para o Bruno Henrique: “No dia que você me deu a ideia do cartão, eu apostei R$ 3 mil pra ganhar R$ 12 mil. Só que até hoje ele não pagou. Está sob análise. O dinheiro tá todo preso lá”. Wander relata dificuldades financeiras e pede um empréstimo ao irmão.
Os policiais descobriram ainda que, até o dia do jogo, houve 14 apostas, feitas a partir de 13 contas, em casas diferentes, seis delas criadas na véspera do confronto. A alta concentração de apostas em um cartão amarelo para Bruno Henrique vinha de Belo Horizonte, cidade natal do jogador, o que reforçou as suspeitas.
Próximos passos da investigação
O Ministério Público vai decidir se oferece denúncia à Justiça e transforma os indiciados em réus. Na esfera esportiva, a documentação será analisada pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva.
Se não houver um pedido de suspensão preventiva, Bruno Henrique pode continuar jogando normalmente. Se a Procuradoria aceitar a denúncia, ao final do processo, ele poderá ser suspenso ou até eliminado do futebol.
Em nota assinada pelo advogado Ricardo Pieri, a defesa diz que Bruno Henrique é conhecido e respeitado por sua simplicidade e comprometimento com o esporte, que ele nunca esteve envolvido em esquemas de apostas e que é a favor de restrições ao negócio.
O Flamengo, em nota, disse que aguarda as investigações, se compromete com a ética no esporte, mas defende a presunção de inocência do jogador enquanto isso.
Defesa de Bruno Henrique se manifesta pela primeira vez após indiciamento: ‘Nunca esteve envolvido em esquema de apostas’
Pela primeira vez desde o indiciamento do atacante Bruno Henrique, do Flamengo, e mais nove pessoas em inquérito da Polícia Federal, entre acusações de fraude para suposto benefício de apostadores e estelionato, a defesa do jogador se manifestou. Em nota assinada pelo advogado Ricardo Pieri Nunes, a defesa alega que o jogador “nunca esteve envolvido em esquema de apostas”.
A nota diz ainda que o jogador acredita que “o negócio de apostas deveria sofrer cada vez mais restrições pelas autoridades”. Sobre o inquérito, a defesa fala em distorções por “interpretação e divulgação indevida de mensagens privadas, fora de contexto” e diz que elas serão esclarecidas no curso do processo. E que Bruno confia que o Poder Judiciário “corrigirá a injustiça que está sendo cometida”.
Veja a nota completa da defesa de Bruno Henrique
O atleta Bruno Henrique é conhecido e respeitado por sua simplicidade e comprometimento com o esporte.
Nunca esteve envolvido em esquemas de apostas. Pelo contrário, acredita que o negócio de apostas deveria sofrer cada vez mais restrições pelas autoridades.
As distorções que estão sendo causadas pela interpretação e divulgação indevida de mensagens privadas, fora de contexto, serão esclarecidas no curso do processo.
O atleta confia que o Poder Judiciário oportunamente corrigirá a injustiça que está sendo cometida.
Rio de Janeiro, 20 de abril de 2025.
Ricardo Pieri Nunes