Brasil: um país de 137 milhões de apostadores

Apostas I 31.03.25

Por: Magno José

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Brasil: um país de 137 milhões de apostadores
Segundo pesquisa do Instituto Locomotiva, 85% dos adultos já fizeram alguma ‘fezinha’ na vida. Série de reportagens do EXTRA vai mostrar, em seis capítulos, que o jogo é parte da história nacional

O brasileiro acredita — e muito — na sorte. Crê na possibilidade de mudar de vida ou, pelo menos, de realizar um sonho. Pode ser com uma aposta simples ou um aporte maior. O que o move é a crença de que alguma hora ela vai lhe sorrir. Tem sido assim ao longo das décadas. Se nos anos 1940/1950 os cassinos seduziam apostadores com salões luxuosos, de 1940 a 1960 houve a expansão do jogo do bicho nas esquinas. Neste cenário, o Rio virou referência, revela reportagem do Extra.

O perfil dos jogadores — Foto: Arte/Extra
O perfil dos jogadores — Foto: Arte/Extra

Se nos anos 1970/1980 as loterias da Caixa Econômica Federal ganharam projeção nacional, nas décadas de 1990/2000 o país viveu o boom de raspadinhas e bingos, sem deixar de lado as máquinas de caça-níqueis. O que era legal sempre conviveu com o clandestino. A repressão se fez presente, mas o jogo sobreviveu, legalizado ou não. E ainda está no dia a dia das pessoas, agora de forma virtual.

Evolução da arrecadação das Loterias Caixa — Foto: Arte/Extra
Evolução da arrecadação das Loterias Caixa — Foto: Arte/Extra

Uma pesquisa feita em agosto de 2024 pelo Instituto Locomotiva projetou que 85% dos brasileiros já fizeram algum tipo de aposta, o que corresponde a 137 milhões de pessoas. Desse total, 34% — ou 52 milhões de adultos — já fizeram uma “fezinha” esportiva, nas chamadas bets (casas de apostas de quota fixa), a mais nova versão do sonho de independência financeira. É essa cultura, tão presente na vida nacional, que o EXTRA vai discutir numa série de seis reportagens a partir de hoje.

Paixão nacional

Renato Meirelles, presidente do Locomotiva, explica que o recente boom das apostas esportivas no Brasil está relacionado à paixão nacional pelo futebol, ao hábito de apostar e à popularização da internet.

— As apostas cresceram em um ritmo epidêmico, mais rápido até do que a Covid-19. Em primeiro lugar, elas se apropriaram da paixão nacional: as pessoas podem ter dúvidas sobre como investir seu dinheiro, mas não sobre futebol. Outro ponto é que muitos já faziam bolões com parentes e amigos. Além disso, o brasileiro ampliou o acesso à internet e foi se acostumando com apostas on-line — diz.

Marcelo Mello, professor do Departamento de Sociologia e Metodologia das Ciências Sociais da Universidade Federal Fluminense (UFF), completa:

— A combinação da digitalização dos jogos, do ambiente digital e da popularidade do esporte nacional gerou um aumento explosivo no número de apostadores. Foi uma junção dos jogos de entretenimento acessíveis pela internet, que têm grande apelo entre crianças e adolescentes, e a ideia do esporte como algo confiável.

Acesso a outros meios

A popularidade das bets serviu como porta de entrada para outros formatos, como os cassinos on-line. A partir daí, jogos como o do Tigrinho (Fortune Tiger) também invadiram o Brasil. Este chegou a ser proibido no país, mas acabou liberado.

— Empresas do mundo inteiro cresceram com as apostas esportivas. É um tema menos polêmico do que roleta de cassino. As pessoas associam ao esporte. Mas ao entrarem nesse universo, acabam conhecendo outros jogos — diz Meirelles.

A pesquisa do Locomotiva aponta um certo equilíbrio entre os gêneros. Os homens representam 53% dos jogadores; as mulheres, 47%. Mas há diferenças: enquanto eles tendem a apostar mais em esportes, elas preferem os cassinos on-line.

Perfil dos apostadores de bets — Foto: Arte/Extra
Perfil dos apostadores de bets — Foto: Arte/Extra

Além disso, um estudo do Banco Central (BC), feito de janeiro a agosto de 2024, mostra que os valores transferidos a casas de apostas vão de R$ 18 bilhões a R$ 21 bilhões por mês. Marcelo Mello, da UFF, diz que as famílias de menor renda são as mais impactadas:

— Parte significativa da renda, especialmente da classe média baixa, tem ido para apostas.

Depoimento de Maria Cristina Azedo, estudante, moradora de Duque de Caixas, de 64 anos

‘Se eu ganhar, vou andar arrumada’

“Eu aposto na Mega-Sena de 15 em 15 dias. Hoje, encontrei um jogo da Quina no chão e vou apostar nele também. Vai que dá sorte. Se ganhar, compro uma casa para cada uma das minhas irmãs e construo uma para mim. De resto, vou cuidar dos dentes, do cabelo… Vou andar sempre arrumada.”

Depoimento de Carlos Almeida, aposentado, morador da Pavuna, de 72 anos

“Eu aposto todos os dias, há anos”

“Normalmente, eu aposto todos os dias, há alguns bons anos. Às vezes, tento a sorte no jogo do bicho também. Esporadicamente. Nunca ganhei nada. Sou azarado! Mas vou continuar tentando, pois só ganha quem aposta.”

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