Maioria dos apostadores em bets e cassinos virtuais no Ceará têm entre 16 e 34 anos, aponta pesquisa

Apostas I 28.01.25

Por: Magno José

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As bets receberam esse nome por conta do verbo em inglês “to bet”, que significa “apostar” e se popularizaram rapidamente no Brasil nos últimos anos (Foto: Bruno Peres/Agência Brasil)

A maior parte dos cearenses que faz apostas no meio digital, seja nas bets ou nos cassinos virtuais, está inserida na faixa etária entre 16 e 34 anos. É o que indica uma pesquisa realizada pelo Instituto Opnus e divulgada com exclusividade pelo Diário do Nordeste nesta segunda-feira (27).

O levantamento considerou cinco faixas etárias distintas, dentre outros critérios de análise. No público entre 16 e 24 anos, o percentual de pessoas que realiza apostas virtuais é de 27%; já entre os 25 e 34 anos, 26% dos cearenses indicaram já terem jogado ou em uma bet, ou em um cassino virtual.

Nas faixas etárias seguintes, cai gradativamente a porcentagem de pessoas que já apostaram. Entre 35 e 44 anos, 17% já fizeram algum jogo; entre 45 a 59 anos, o percentual cai para 8%. Já entre os cearenses com 60 anos ou mais, a fatia que já jogou no meio digital fica em somente 3%.

A pesquisa foi realizada presencialmente com 4 mil pessoas com 16 anos ou mais em todo o Estado do Ceará entre os dias 12 e 20 de janeiro de 2025. A margem de erro sobre os resultados totais da amostra é de 1,5 pontos percentuais, para mais ou menos.

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Maioria das pessoas do Ceará disse nunca ter feito apostas

Apesar dos números, o levantamento aponta que 84% dos cearenses afirmaram nunca ter apostado no meio digital, enquanto apenas 16% já declararam ter feito algum jogo.

Incluindo até mesmo aqueles que já apostaram, 88% das pessoas do Estado declararam que acham as bets e os cassinos virtuais perigosos. Somente 9% acreditam que esses jogos não são perigosos. Outros 3% não souberam ou não responderam.

No recorte dos que acham as apostas perigosas, 82% admitiram ter feito algum tipo de jogo. O levantamento aponta que 75% dos cearenses acreditam que bets deveriam ser proibidas no Brasil. Nos cassinos virtuais, a porcentagem é de 84% da proibição.

Já no que diz respeito à renda, a pesquisa considerou pessoas com quatro faixas salariais. A que tem maior percentual de pessoas que já realizaram algum tipo de aposta é para quem ganha entre dois e seis salários mínimos: 25%. Já quem recebe até um salário mínimo, a porcentagem é de 11%.

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As pessoas “têm vergonha de dizer que apostam”, diz diretor de Instituto

A alta popularidade das apostas virtuais e as respostas dadas pelos cearenses na pesquisa podem apontar que o público do Estado está receoso em dizer que utiliza ferramentas como as bets e os cassinos virtuais, como explica Pedro Barbosa, cientista político e diretor do Instituto Opnus.

É um número que a gente não tem como ter tanta segurança pelo fato de o tema ser sensível. É bastante possível que esse número seja maior, mas isso mostra uma faceta dessa realidade que as próprias pessoas que apostam podem entender como um problema, como algo que socialmente reprovável. É algo que a gente não tem como mensurar, mas é uma possibilidade com certeza que a gente tem que imaginar devido a essa relevância que o tema tem tido ultimamente.

A contradição entre pessoas que, mesmo apostando, acreditam que esses jogos virtuais são perigosos também foi avaliada por Pedro Barbosa. Como estão relacionadas a vícios, o diretor do Instituto evidencia que o público reconhece a necessidade de ajuda.

“A gente tem visto problemas de dívidas relacionadas a apostas, de vícios, ou seja, aqueles problemas que a gente tinha em relação a jogos de azar no mundo físico também existem no mundo virtual. O mesmo apostador reconhece que é algo delicado, é perigoso de fato, porque a pessoa pode tanto perder o dinheiro quanto acabar criando uma dependência”, frisa.

Pedro Barbosa também credita ao fato de uma fatia maior de jovens e adultos estarem apostando à naturalidade do consumo de tecnologias, principalmente à naturalidade com que os mais jovens têm de manipular celulares e smartphones.

“A natureza do tipo de serviço que a gente está avaliando, são serviços absolutamente digitais. Naturalmente já está ligado com o uso da tecnologia, com o uso de dispositivos, e a gente sabe que essa é uma questão geracional, os mais jovens naturalmente têm muito mais familiaridade, muito mais hábito de uso”, esclarece.

“Por outro lado, ainda tem também uma publicidade mais direcionada a esse público, um maior receio das pessoas mais velhas de realizar algum tipo de aposta nesse tipo de ambiente virtual, e o mais jovem naturalmente está mais acostumado, tem mais confiança, tem mais até proficiência para usar um aparelho celular”, completa Pedro Barbosa.
Ficar rico ‘rápido’ e ostentar viraram sensações entre os mais jovens, analisa economista

A economista e professora de MBA da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Carla Beni, traz um apanhado histórico das apostas no País. Segundo ela, “independente do estrato socioeconômico, as apostas sempre fizeram parte da cultura brasileira”.

“Pode ter tanto a aposta em cavalos no jóquei, que era algo que há décadas fazia parte de uma certa elite, quanto o jogo do bicho. Esses desejos de fazer uma ‘fezinha’ e de ficar rico rápido sempre estiveram no imaginário brasileiro. Uma coisa importante são as loterias, só que elas têm o monopólio do estado”, resgata a especialista.

Na visão de Carla Beni, a principal mudança com as plataformas digitais está na estrutura dos jogos, que está muito mais acessível e cômoda para as pessoas, que não precisam se dirigir ao jóquei, ao apontador ou até mesmo à loteria, podendo fazer as apostas de onde estiver.

“Tem um jovem que tem acesso ao celular, que tem uma vida muito mais digital, que faz tudo pelo celular e a questão das bets propicia o jogo estar com o jovem o tempo todo, porque está dentro do celular. Essa foi a grande mudança: não tem que ir a algum lugar físico para fazer a aposta”, reforça.

As publicidades das bets e dos cassinos virtuais, em tempo de influenciadores e de ícones de modalidades esportivas e até mesmo da mídia, são um ponto crucial de atenção ressaltado pela economista.

Além de se ter a aposta nas mãos, tem grandes ídolos vendendo as bets e vendendo que se fizer igual, a pessoa vai ter a mesma vida que eles. Vende uma facilidade e uma ostentação, porque eles não trabalham, eles ostentam. Se jogar, vai conseguir o mesmo resultado. Essas duas grandes mudanças, o jogo no celular e o estímulo midiático com os influenciadores, fez a grande diferença de fazer com que o jovem ache que, em vez de estudar e trabalhar, ele pode jogar e ficar rico.

A especialista finaliza a questão dizendo que a maioria das apostas é feita entre o final da noite e o início da madrugada, em um horário no qual boa parte das pessoas da família já está dormindo e não consegue controlar o que está sendo feito, criando uma bola de neve que pode levar, inclusive, ao endividamento.

“O horário de maior frequência das apostas é de 22 horas às 2 horas, onde passa a ter uma problemática, porque em grande parte, os outros membros da família não sabem que essa pessoa aposta. Pode ser o marido, esposa ou o filho. Quando a família descobre, já tem um grau de endividamento enorme. Esse daí é o grande problema adicionado à questão das redes sociais”, alerta.

 

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