Modelo de operação de cassinos de Singapura não serve para o Brasil

Blog do Editor I 22.05.19

Por: Elaine Silva

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A turma do lobby da ‘Lei Sheldon Adelson’ costuma usar como exemplo para o Brasil a operação dos cassinos-resorts integrados de Singapura

Durante o relançamento da Frente Parlamentar pela Aprovação do Marco Regulatório dos Jogos o presidente do Instituto Brasileiro Jogo Legal – IJL comentou que o melhor para o Brasil era a legalização de todas as modalidades, pois geraria robusta arrecadação, milhares de empregos, além de reduzir a operação de jogos não regulados.

O dirigente também alertou que o modelo cassino-resorts integrados poderia significar um impacto negativo para trade hoteleiro onde estes empreendimentos fossem instalados devido ao valor subsidiados das diárias.

O presidente da Frente Parlamentar Mista em Defesa do Turismo – FrenTur, deputado Herculano Passos (PSD-SP) contestou e afirmou que estava convencido que o modelo cassinos-resorts integrado era o melhor para o Brasil e citou Cingapura como exemplo.

“Em Cingapura, quando os cassinos foram legalizados, houve essa mesma preocupação. Os hoteleiros argumentavam que iam perder clientes, que as pessoas só iriam se hospedar em resorts com cassinos. Sabe o que aconteceu? Foi necessário construir hotéis para poder atender o crescimento turístico que a cidade teve”, exemplificou o deputado.

Segundo o parlamentar há 50 anos Cingapura – cidade-Estado do sudoeste asiático e que tem 5,6 milhões de habitantes –, era uma ilha pobre e, hoje, é um dos maiores centros financeiros do mundo. Junto com os cassinos – o primeiro foi inaugurado em 2010 – vieram também grandes convenções e eventos, gerando um fluxo anual de 18 milhões de visitantes por ano. Para Herculano, no Brasil haverá este mesmo efeito, quando os cassinos-resorts integrados forem legalizados e grandes empreendimentos construídos.

Herculano foi cicerone do Sheldon Adelson em Brasília

O deputado Herculano Passos recebeu, em Brasília, o CEO do Grupo Vegas Sands Corp, Sheldon Adelson

Em maio de 2017, o deputado Herculano Passos (PSD-SP), recebeu em Brasília, o CEO do Grupo Vegas Sands Corp, Sheldon Adelson. O Sands é controlador de dez cassinos nos EUA, Macau e Singapura. Herculano participou de almoço com Adelson e executivos do Grupo e intermediou reuniões entre eles e os presidentes da República, Michel Temer, e da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia.

Vamos aos fatos sobre o modelo Singapura

A turma do lobby da ‘Lei Sheldon Adelson’ costuma usar como exemplo para o Brasil a operação dos cassinos-resorts integrados de Singapura, com destaque para o Marina Bay Sands de propriedade do grupo do bilionário norte-americano.

Realmente, o cassino Marina Bay Sands é um espetáculo, mas o próprio Sheldon Adelson e seus defensores omitem informações importantes dos brasileiros.

“Se o ‘modelo Singapura’ fosse reproduzido no Brasil, o cassino iria à falência em meses e, talvez, nem o próprio Grupo Sands investirá no país se este for o modelo adotado”, comentou o empresário brasileiro radicado em Las Vegas, Marcus Fortunato e especialista em equipamentos para cassinos norte-americanos.

Marina Bay Sands e Resorts World Sentosa

O Marina Bay Sands é um hotel e um dos principais cassinos de Singapura

O Marina Bay Sands é um hotel e um dos principais cassinos de Singapura, operado pela Las Vegas Sands. São três torres de 58 andares com 2.600 quartos. O cassino tem 800 mesas para 13 modalidades de jogos e 2.500 slots-machines.

Já o Resorts World Sentosa é um resort integrado na ilha de Sentosa, na costa sul de Singapura onde foram investidos US$ 4,32 bilhões. São seis hotéis com 1.850 quartos, sendo Festive Hotel, Hard Rock Hotel Singapore, Crockfords Tower, Hotel Michael, Equarius e SPA e Villas. As principais atrações incluem um dos dois cassinos, um parque temático da Universal Studios, o Adventure Cove Water Park e o S.E.A. Aquarium, que inclui o segundo maior oceanário do mundo.

O cassino possui cerca de 500 mesas e 1.300 máquinas de jogos eletrônicos.

Cobrança de entrada nos cassinos para os singapurianos

Singapura tem regras diferentes para cidadãos e estrangeiros. Os cassinos foram originalmente construídos somente para turistas e os singapurianos devem pagar 100 dólares de Singapura (US$ 73) por dia ou uma taxa anual de credenciamento de SG$ 2.000 (US$ 1.478,50) para entrar nos cassinos. Além disso, o governo pode restringir a entrada de alguém que considere financeiramente incapaz de apostar. Se não evitar, pelo menos ameniza da população local de frequentar, de ficar viciada e gerar todos os problemas sociais relacionados a atividade.

 

O problema é que as taxas introduzidas para coibir os singapurianos de jogarem, principalmente a população de baixa renda, não deu certo e, atualmente, 43% dos jogadores são locais. Mas o que tem acontecido em alguns casos é que o pessoal local que vai ao cassino tem apostado ainda mais na tentativa de recuperar o dinheiro gasto para entrar.

Outras modalidades em operação

Em Singapura existem mais de 182 slots-clubes (salas de jogos) com 5 mil máquinas de caça-níqueis

Em Singapura existem mais de 182 slots-clubes (salas de jogos) com 5 mil máquinas de caça-níqueis para uma população local de 5.6 milhões sendo que deste número 1,6 milhões são não-residentes e não podem frequentar os clubes. Se aplicarmos o ‘Modelo Cingapura’ no Brasil, o mercado seria de 260 mil máquinas fora dos cassinos-resorts.

Além disso, existe informalmente apostas on-line em bingos, apostas esportivas e pôquer. Estima-se que o mercado informal gera US$ 11,7 bilhões ao ano. Inclusive, jogar pôquer é um costume e tradição em velórios e enterros.

A disciplina da população de Singapura não é a do Brasil

O segredo dessa prosperidade de Singapura se resume em duas palavras: disciplina e educação

Além de manter quatro idiomas oficiais: inglês, malaio, chinês (mandarim) e tâmil, uma cultura rica e emblemática, o respeito às leis é uma das grandes virtudes do povo de Singapura, além de sua segurança, organização, limpeza e charme.

Por falar em respeito a regras, encontrar placas com informações proibindo beber bebida alcoólica, mascar chiclete, não dar descarga em banheiros e comer sua fruta típica “durian” – tudo isso em público –, pode ser um fator determinante para receber uma multa ou até mesmo ser preso.

O ‘Modelo Cingapura de Cassinos’ só funcionaria no Brasil se o ‘Modelo Cingapura de Vida’ fosse implementado integralmente no país. Assim, além dos cassinos teríamos também que conviver com algumas regras que, com certeza, não dariam certo no Brasil.

 

– Proibido andar pelado na sua própria casa;

– Dar comida a pombos – multa de SG$ 500;

– Cuspir no chão – multa de SG$ 1.000;

– Soltar pipa – multa de SG$ 500;

– Mascar chiclete é ilegal;

– Consumo de bebida alcoólica só das 22:30 às 7 da manhã;

– Pena de morte para traficantes e usuários de drogas;

– Pichar o muro – pena 3 chicotadas;

– Não dar descarga na privada publica – multa de SG$ 500;

– Sexo oral e anal são proibidos;

– Jogor papel no chão, – multa de SG$ 1.000 a SG$ 5.000;

– Roubar Wi-Fi do vizinho – multa de SG$ 10,000;

– Homossexual – pena de 2 anos de cadeia;

– Suicídio é ilegal.

 

O empresário brasileiro Marcus Fortunato, que nos ajudou na pesquisa dos dados desta reportagem sugeriu que o Brasil deveria implantar o modelo Singapura, mas não só dos cassinos, mas o modelo completo daquele país.

“Não devemos ser o religioso que só pratica 4 dos 10 mandamentos”, comentou.

Cingapura é o quarto país mais rico do mundo

É um país pequeno, uma ilhota menor do que o município de São Paulo, no sudoeste da Ásia

Cingapura, paraíso de milionários e destino para quem quer ganhar muito dinheiro em pouco tempo. Mas lá não existe ouro, nem petróleo: o segredo dessa prosperidade se resume em duas palavras: disciplina e educação.
Cingapura é um país planejado, projetado e pensado para o sucesso econômico, onde tudo deu certo. Foi da extrema pobreza à riqueza sem limites em poucas décadas. Parece um sonho, mas Cingapura conseguiu. É um país pequeno, uma ilhota menor do que o município de São Paulo, no sudoeste da Ásia.
A população é a quarta mais rica do mundo, apenas superado por Qatar, Luxemburgo e Macau, de acordo com o poder de compra de seus habitantes, mas nada é por acaso. Tudo em Cingapura é pensado para atrair mais dinheiro.
“Cingapura tem uma localização estratégica, na área mais populosa e que mais cresce no mundo”, diz Linda Lim, professora especializada em Economia Política no sudeste da Ásia, na Universidade de Michigan, nos Estados Unidos.
Esta localização levou a cidade a estar numa rota comercial chave entre gigantes como a China, a Índia e o Sudeste Asiático. Singapura recebe fluxo importante de uma Ásia-Pacífico que não para de enriquecer.
Além de sua localização, Cingapura tem várias vantagens em comparação a outros países, dizem especialistas. Entre eles, uma população capaz de falar chinês e inglês, instituições sólidas que funcionam e ausência de corrupção.

Singapura é porta de entrada da Ásia

O Aeroporto de Changi, em Singapura, é considerado o melhor do mundo e um dos mais importantes da Ásia

Uma das principais falácias propagadas pelos representantes do Grupo Las Vegas Sands e seus parlamentares é que a ocupação dos hotéis de Singapura é alta devido ao Marina Bay Sands.

Aberto em 2010, a grande inauguração do Marina Bay Sands foi realizada apenas no dia 17 de fevereiro de 2011.

Na verdade, o país é largamente utilizado como hub aéreo para explorar não somente o Sudeste Asiático, mas também outros destinos no Oriente, como Japão e China, por conta de sua premiada companhia aérea Singapore Airlines, considerada uma das melhores do mundo.

Na verdade, o Aeroporto de Changi, em Singapura, é considerado o melhor do mundo e um dos mais importantes da Ásia. São mais 100 companhias aéreas operam voos no aeroporto, ligando 300 cidades em 80 países. Por dia são mais de 6.600 voos decolando e aterrissando no aeroporto.

Comparativo entre as diárias

Para comprovar que o deputado Herculano Passos está equivocado e os riscos para o trade hoteleiro caso seja aprovada a ‘Lei Sheldon Adelson’, fizemos um comparativo com as tarifas das diárias praticadas nos hotéis da Barra da Tijuca no período de domingo, 26 de maio a sexta, 31 de maio, que representava 5 diárias para dois hóspedes adultos em hotéis de 4 e 5 estrelas.

Cingapura:

– Marina Bay Sands – R$ R$ 6.187

– Resorts World Sentosa – R$ 3.715

Barra da Tijuca:

– Le Chateaux Joá Boutique Hotel – R$ 9.775

– Promenade Palladium – R$ 4.875,00

– Janeiro Hotel – R$ 4.703,50

– Sheraton Grand Rio Hotel & Resort – R$ 2.907

– LSH – R$ 2.872,80

– Windsor Barra – R$ 2.405,55

Só para inocentes

Depois de todas as informações sobre Singapura e seus cassinos, somente um inocente para acreditar que o Marina Bay Sands foi responsável pelo sucesso do país e pelo incremento do turismo de Singapura.

Perguntamos…

Será que os defensores do ‘Modelo Singapura’ ou da ‘Lei Sheldon Adelson’ estão cientes dos impactos que a legalização dos cassinos-resorts integrados representa para o trade hoteleiro?

Será que este modelo é bom para o país ou para os grupos que o defendem?

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