Que Jogo é Esse: Precisamos falar sobre o cartão amarelo

Apostas, Opinião I 19.04.25

Por: Magno José

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Que Jogo é Esse: Precisamos falar sobre o cartão amarelo
O jornalista Thales Machado registra em sua coluna no Globo Online desde sábado que a advertência do cartão amarelo, criado na Copa de 1970, virou forma preferida de manipulação de apostas no futebol e contaminou o jogo

O que os casos suspeitos de manipulação de apostas de Bruno Henrique, do Flamengo, Luiz Henrique, do Zenit, e Lucas Paquetá, do West Ham, têm em comum? Para além do espanto que causam, todos surgiram tendo como pano de fundo cartões amarelos. Somado ao fato de que a imensa maioria dos casos do escândalo investigado pelo Ministério Público de Goiás em 2023 também envolviam bets do tipo, não é difícil chegar à conclusão de qual é o modo mais fácil de fraudar um jogo de futebol nos dias atuais, registra Thales Machado em sua Coluna no Globo Online.

Surgido na Copa de 1970 para advertir jogadores antes de uma possível expulsão do jogo, o cartão amarelo é hoje vítima de algo inefável: as apostas estão mudando a maneira como se vê futebol. E não há muito o que remediar. Não se pode, porém, deixar de vacinar o jogo para que esta realidade não mude a forma como se joga futebol. E os inquéritos policiais, reportagens jornalísticas e denúncias judiciais vêm mostrando um vírus que já se espalhou.

Eis aqui o meu ponto: o país discutiu – e segue debatendo – a regulamentação das apostas esportivas, mas o foco foi em taxação, legalização e demais burocracias. Não valia proteger também o jogo, pensando em como evitar tais casos? Claro que os princípios para que a manipulação não acontecesse deveriam ser o bom senso e a honestidade, mas, diante da escassez de tais virtudes nestes tempos, não é saudável simplesmente proibir especificamente essa modalidade de jogo?

Tomar um cartão amarelo, na nova realidade do futebol dominado pelas bets, é a ação mais individual e menos danosa à natureza coletiva deste esporte. Ele pode ser tomado deliberadamente em um ato de um só jogador, sem prejudicar necessariamente o grupo. Sua manipulação pode ser discreta e seus efeitos imperceptíveis ao resultado de uma partida. Mas um mísero cartão amarelo que nem precisa ser citado numa crônica de um jogo pode movimentar milhões no mundo das apostas. A depender do jogo, e do contexto, ele pode ser mais importante para uma aposta do que para o esporte.

E é por isso que este tipo de bet é a que mais enche os olhos de aliciadores, parentes de atletas e dos próprios jogadores. Fácil de fazer, difícil de provar. Deixar que as apostas corram soltas apenas no mercado de cartões amarelos faz mal ao futebol, já está provado. E com a capilaridade de outros tipos de bet existentes, não diminuiriam de forma relevante os lucros das casas, que também se beneficiam de um jogo mais seguro.

Outros desafios surgiriam, é claro. Vivemos há tempo suficiente no Brasil para entender que criminosos acham brechas na ilegalidade a cada buraco tapado. Mas algo precisa ser feito não como solução definitiva, e para além da prevenção. Casos como os de Paquetá, Luiz Henrique e Bruno Henrique estão em evidência porque os jogadores são o topo da pirâmide. E é dessa ponta do iceberg que vem o recado de que o jogo está contaminado.

 

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